Matador capturado

O Globo, Rio, p. 15 - 26/02/2005
Matador capturado
Polícia prende caçador que confessa ter assassinado protetor da Reserva do Tinguá

A Secretaria de Segurança apresentou ontem o caçador Leonardo de Carvalho Marques, de 21 anos, como o assassino do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, morto na noite de terça-feira próximo à entrada da Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu. A polícia chegou a Leonardo graças a uma informação passada ao Disque-Denúncia (2253-1177). Preso na noite de anteontem em sua casa, perto da reserva, o acusado confessou ter atirado no ambientalista com uma espingarda Rossi calibre 28. A arma, usada para caçar, foi apreendida.

Apesar da confissão e da prisão do caçador, o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, e o chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, disseram que a polícia vai continuar investigando o caso. Eles acham que pode haver outras pessoas envolvidas no crime, porque muitos caçadores na região estariam insatisfeitos com Dionísio, que combatia a atividade deles.

Leonardo disse que matou o ambientalista porque ele denunciava constantemente ao Ibama a ação de caçadores na reserva. Essas denúncias teriam feito a polícia apreender diversas armas de caçadores, incluindo cinco espingardas de Leonardo.

Caçador atirou três vezes na vítima

O preso contou ainda que, na noite do crime, soube que o ambientalista participaria de uma reunião. Leonardo vestiu então uma roupa de camuflagem e ficou com a espingarda escondido no mato, esperando Dionísio passar, o que aconteceu uma hora depois. Leonardo saiu do mato, disparando o primeiro tiro, por trás da vítima, a uma distância de três metros. O ambientalista caiu e Leonardo recarregou a espingarda - que só faz um disparo por vez - atirando novamente. Ele repetiu a operação, fazendo no total três disparos.

No fim da tarde de ontem, Leonardo foi com policiais da 58ª DP (Posse) e da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense até o lugar do crime. Ele mostrou onde ficou escondido, como atirou e onde escondeu a roupa de camuflagem que usou. Uma camisa e uma touca ninja estavam numa mochila a poucos metros do local onde ele escondeu a espingarda e enterrou duas cápsulas deflagradas (a terceira ficou dentro da arma). Leonardo atravessou um rio e andou quase meia hora em mata fechada para esconder o material. Já a calça camuflada ele deixou numa sacola em cima da laje de casa.

Graças ao Disque-Denúncia, a polícia chegou a Leonardo, que foi levado à delegacia como suspeito, mas acabou sendo liberado após prestar depoimento e negar o crime. Policiais voltaram a detê-lo, no entanto, depois de ouvir o depoimento de um outro caçador, Alexander Barbosa de Mattos. Segundo ele, há cerca de duas semanas Leonardo disse que tinha a intenção de matar o ambientalista. O suspeito teria dito ao amigo: "Está brabo. Eu vou ter que matar um. Tem que cair um ou dois. Eles estão muito alcagüetes e está passando da hora".

Com essas novas informações, policiais da 58ª DP e da Delegacia de Homicídios da Baixada foram à casa de Leonardo e o interrogaram de novo. Pressionado, ele caiu em contradição e confessou o crime. Segundo Álvaro Lins, o caçador disse que cometeu o crime, sozinho, porque não agüentava mais as denúncias do ambientalista, ao qual chamava de X-9 (informante) do Ibama. Ele disse ainda no depoimento que, matando Dionísio, queria se transformar numa espécie de herói e líder dos caçadores.

Ainda de acordo com Lins, houve diversas apreensões de armas no interior da reserva ao longo de 2003, 2004 e no início deste ano, todas graças a denúncias feitas pelo ambientalista. O chefe de Polícia Civil apresentou nove registros de apreensões de armas. Um deles, de 7 de abril de 2003, refere-se à apreensão de cinco espingardas de Leonardo escondidas na mata. Por esse caso, ele respondeu na época a processo no Juizado Especial.

Exame de balística não é possível

Para o diretor do Departamento de Polícia Técnico-Científica, Roger Ancillotti, a descrição do crime feita por Leonardo é compatível com o tipo de ferimento encontrado no corpo do ambientalista. Ancillotti disse ainda que a arma do crime não tem raias no cano. Por isso, não há como fazer exame de comparação balística com o projétil recolhido no corpo.

De acordo com a polícia, Leonardo foi criado na região da Reserva Biológica do Tinguá. Além de ser caçador desde os 17 anos, ele extraía palmito na área e trabalhava num bar. Ainda segundo policiais, os animais que caçava - tatu, porco-do-mato e paca, entre outros - serviam para ser vendidos a restaurantes e para consumo próprio. Um outro suspeito preso e apresentado anteontem, José dos Reis, segundo a polícia, era parceiro de Leonardo na caça de animais da região. José também foi apontado pelo Disque-Denúncia como autor do crime e ficou detido por haver três mandados de prisão contra ele.

O Globo, 26/02/2005, Rio, p.15
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