Mega-empreendimento influencia criação de reserva extrativista, diz comunidade

Agência Brasil - 21/03/2008
Organizações não-governamentais e líderes comunitários não descartam a influência do setor de carcinicultura (criação de camarões) na demora para criar uma unidade de conservação em Cassurubá, na região do Arquipélago de Abrolhos, sul da Bahia.

"Não podemos garantir se é o que de fato está impedindo a unidade, mas com certeza os carcinicultores fizeram pressão política entre os partidos e parlamentares que os apóiam e na Casa Civil", aponta o coordenador do Programa Marinho da ONG Conservação Internacional, Guilherme Dutra. "Temos a informação de que isso teria também a influência do setor de óleo e gás, por causa de alguns blocos (de exploração) que estão vizinhos à área da reserva", acrescenta.

O diretor da organização não-governamental (ONG) Artimanha, Jorge Galdino, responsável por mobilizar a população em prol da criação da unidade, diz que "há ações de interesse político para frear a reserva".

O sul da Bahia é alvo de interesse do setor de carcinicultura, representado na região de Cassurubá pela Cooperativa de Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex), que conta com apoio de parlamentares, inclusive no Senado Federal. A idéia é criar, em parte destinada à Reserva Extrativista (Resex), um mega-empreendimento de carcinicultura, o maior do Brasil, na área de 1.517 hectares, num investimento de R$ 60 milhões. Uma liminar concedida a pedido do Ministério Público Federal suspendeu o processo de licenciamento ambiental da obra.

"A não-publicação foi uma coisa completamente inusitada. Tudo passa a ser possível nesse contexto. A gente espera que exista um mínimo de consistência por parte do governo federal para dar um final a essa questão. Se essa liminar cai, o processo [de licenciamento] não teria impedimentos para continuar adiante", defende Guilherme Dutra.

De acordo com ambientalistas e representantes da comunidade de pescadores, a instalação de um mega-empreendimento de carcinicultura traria danos irreversíveis à biodiversidade e prejuízos sociais para as populações tradicionais.

De acordo com o chefe do Parque Nacional de Abrolhos, Marcelo Lourenço, a construção dos criatórios de camarões degradaria os manguezais, o que comprometeria uma parte do ciclo de vida de espécies que vivem nos corais. "Tem um potencial de impacto ambiental bastante significativo. A destruição do manguezal prejudica o Parque Nacional, o turismo, a pesca artesanal", explica.

"Um projeto como esse utiliza uma quantidade de água muito grande do estuário, essa água entra carregada de larvas de vida marinha e retorna carregada de matéria orgânica em decomposição e produtos químicos. No médio prazo a gente estaria matando o berçário do banco de corais de Abrolhos", acrescenta Guilherme Dutra, da Conservação Internacional.

Cerca de 900 pessoas trabalham atualmente com pesca artesanal na região de Cassurubá. De acordo com a representante da Associação de Marisqueiras de Ponta de Areia e Caravelas, Marilene Costa, a comunidade também é contrária ao empreendimento. "A criação de camarões seria péssima para a gente. Vi [em criatórios] no Ceará como as pessoas vivem em situação ruim, vi a degradação dos manguezais", conta.

"São usos incompatíveis, enquanto a Resex busca garantir a integridade do manguezal para a sustentabilidade das famílias que utilizam os recursos naturais para subsistência, o empreendimento de carcinicultura busca a privatização da área, o que prejudica a população e principalmente o ambiente", afirma o chefe do Parque Nacional de Abrolhos.
UC:Reserva Extrativista

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