Mercado aberto para o Juçaí

O Globo, Razão Social, p. 10 - 15/06/2010
Mercado aberto para o Juçaí
Fruto da juçara é fonte de renda para moradores da Serrinha

Martha Neiva Moreira
martha.moreira@oglobo.com.br

Os pequenos frutos dos cachos da palmeira Juçara são o prato predileto de pássaros como o jacu, porque ele não precisa fazer esforço para chegar no alto dos 18 metros da ár vore nativa da Mata Atlântica. Já Pedro Mattos e Franklin Wallace Alves não podem dizer o mesmo. Diariamente, suam a camisa para subir 15 vezes a árvore e cortar com o facão os cachos. O esforço é grande e requer caminhadas longas no meio da mata, roupas de manga comprida para proteger a pele dos espinhos e equipamento de segurança de escalada.

Pedro e Franklin são coletores do projeto Amável (Mata Atlântica Sustentável), que instalou uma pequena fábrica de despolpamento do juçaí - como é conhecido popularmente o fruto da juçara - na Serrinha do Alambari, em Resende, Rio de Janeiro. Desde que foi criada, a fábrica vem gerando renda para a população local, que produz polpa e sorvete de juçaí com cor e consistência de açaí, mas com um poder nutricional quatro vezes maior.

- Aqui é cheio dessa palmeira, e só passarinho costumava comer as frutas. Ninguém sabia que poderia ser aproveitado e, menos ainda, ser uma fonte de renda para as pessoas daqui que não encontram trabalho facilmente - contou Franklin Wallace, 20 anos, enquanto anotava num pequeno caderno a quantidade de fruto colhido no dia. O controle é importante, pois além do salário mínimo por mês como coletor, ele recebe ainda R$ 1 por quilo de fruto colhido como bônus.

A ideia de transformar os frutos da Juçara em polpa e sorvete foi do economista George Braile que, curioso com o fato de jacus e tucanos bicarem os cachos das mais de duas mil árvores de sua propriedade, situada em Área de Proteção Ambiental, resolveu despolpá-la artesanalmente e testar receitas.

- Pesquisei sobre a juçara e seu poder nutricional e também sobre o processo de aproveitamento do açaí. Visitei vários projetos em outros estados para aprender o mecanismo para despolpá-lo e apliquei a metodologia para o juçaí - contou Braile, que conta com um biólogo na equipe do projeto.

Em 2008, o projeto Amável, cujo objetivo é desenvolver comercialmente, e de forma sustentável, o fruto da Juçara e promover a preservação e repovoamento da palmeira na área com a venda de sementes para fazendeiros da região, recebeu R$ 70 mil da Faperj, por meio do edital Rio Inovação. Até 2011, deve contar com mais R$ 90 mil para capacitação de mão-deobra para produção de artesanato com a fibra dos cachos.

- Queremos aproveitar o máximo do que coletamos e mostrar para o morador daqui que a árvore tem valor em pé - informou o empresário, que vai criar ainda um viveiro de mudas e realizar um trabalho de educação ambiental piloto com estudantes de uma pública de Resende.

A fábrica do Juçaí tem capacidade para produzir 50 quilos de polpa por mês, que se transformam em sorvete, mas a ideia, segundo Braile, é aumentar a produção até 2011. Sem adição de açúcar, eles são vendidos na região nos sabores banana com mel e morango com mel em caixas de cinco litros, que custam R$ 60 no atacado e R$ 70 para o consumidor, ou em pequenos potes, a R$ 3 no atacado e R$ 4 no varejo. O saco com a polpa é vendido a R$ 9.
Juçai www.jucai.com.br


Fábrica cria perspectiva para mulheres da região

Quem ganha
Janaina Souza e Patrícia dos Santos

Janaina e Patrícia nasceram na Serrinha e jamais imaginaram que poderiam ganhar dinheiro com o que até então, para elas, era comida de passarinho. Desde que foram contratadas para trabalhar na fábrica de Braile, é tarefa das duas transformar o fruto cor de jabuticaba em polpa e sorvete. Antes de entrar na fábrica, no entanto, a perspectiva de trabalho para mulheres na região não era das melhores. Janaina fazia serviço doméstico temporário em casas de veranistas e Patricia estava desempregada.

- Aqui, a cidade é pequena e há poucas oportunidades de trabalho para mulher.
Desde que comecei, consigo ficar perto das minhas filhas, pois moro do lado da fábrica - disse Janaina.
Para Patricia, a contratação representou a possibilidade de aprender uma nova função.

- Não imaginei que poderia aprender a trabalhar em uma fábrica. Estava acostumada com loja, que é o que tem por aqui.
As duas recebem um salário mínimo por mês mais R$ 1 por quilo produzido.

O Globo, 15/06/2010, Razão Social, p. 10
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