Morte por Asfixia

JB, Opiniao, p.A8 - 05/01/2004




Morte por Asfixia

O santuário ecológico da Ilha Grande - quase 200 quilômetros quadrados de biodiversidade e sítios arqueológicos de 3 mil anos - corre sério risco de entrar em rota de desastre. Ambientalistas e técnicos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro têm sido incansáveis em apontar sinais de devastação que - a não serem barrados - podem levar esse verdadeiro paraíso à completa e irreversível destruição. É hora de acender todos os sinais de alerta.
A região tem virtudes que a comprometem. Além de ser uma das paisagens mais deslumbrantes do litoral sudeste, fica no eixo primeiromundista do turismo à beira da Rodovia Rio-Santos. Este é seu maior trunfo e seu maior problema: a especulação imobiliária e a ocupação predatória do solo estão lá, em total e progressiva liberdade, depois de decretar a quase extinção das populações caiçaras. Os naturais da terra cedem terreno ao arrivismo.
Os defensores da Ilha Grande fazem o que está a seu alcance para evitar que o desastre se corporifique. Mas o idealismo esbarra em suas próprias defesas. Um cipoal de normas - cheias de boas intenções preservacionistas - leva a conflitos legais que são astuciosamente invocados e usados pelos invasores. Em artigo publicado no JB, o presidente da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Ricardo Martins de Almeida, adverte que alguma normas são tão severas que, aplicadas ao pé da letra, ''vedariam até a presença de pesquisadores''. Esta é uma das dificuldades que a própria Uerj enfrenta para atuar na ilha.
Jóia da coroa da natureza no Brasil, a Ilha Grande pede cautela e firmeza para se defender contra o invasor. E cuidado com o excesso de normas, para não condená-la à morte por asfixia.

JB, 05/01/2004, p. A8
UC:Parque

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