Nova ave na Serra do Cipó

O Globo, Amanhã, p. 7 - 16/10/2012
Nova ave na Serra do Cipó
A apenas 50 quilômetros de Belo Horizonte, pesquisadores descobrem pássaro da família do joão-de-barro

Cláudio Motta
claudio.motta@oglobo.com.br

A apenas 50 quilômetros de Belo Horizonte, na Região Sul da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, pesquisadores descobriram uma nova espécie de ave. O pedreiro-do-espinhaço (Cinclodes espinhacensis) é da mesma família do joão-de-barro e foi avistado pela primeira vez em 2006. O estudo, conduzido por especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, permitiu que o pássaro tivesse reconhecimento oficial após a publicação do trabalho na revista Ibis, da British Ornithologists Union, uma das sociedades ornitológicas mais antigas do mundo.
Mais do que simplesmente descrever o novo passarinho, os especialistas querem conhecer bem a ave. Neste trabalho, os pesquisadores Anderson Chaves, Fabrício Santos, Guilherme Freitas, Lílian Costa e Marcos Rodrigues contam com a ajuda da radiotelemetria. Transmissores enviam sinais de rádio que permitem localizar os animais.
- Utilizamos esta tecnologia para tentar caracterizar como vive esta nova espécie, onde ela ocorre de fato, e o que deve ser feito para conservá-la, já que ela já nasce para a ciência ameaçada de extinção - alerta a pesquisadora Lílian Costa.
A nova espécie de passarinho lembra o joão-de-barro, mas apresenta uma tonalidade mais escura e possui a cauda longa. Considerado por especialistas como relativamente grande, ele busca por insetos andando pelo chão. No céu, é apontado como um grande voador, o que permite a busca de alimentos em longas distâncias, até mesmo nas serras mais altas da região.
O passarinho foi avistado pela primeira vez perto de um casebre de madeira no alto da serra, no meio do Parque Nacional da Serra do Cipó. Depois, outro da mesma espécie chegou a ser fotografado nos arredores do alojamento do Alto do Palácio, no alto do Parque Nacional. A partir daí, foram realizadas várias expedições, nas quais especialistas puderam registrar a ocorrência de diversas populações de Cinclodes espinhacensis, sempre nas áreas mais altas.
Para determinar que o pedreiro-do-espinhaço realmente é uma nova espécie, é preciso um longo trabalho, que inclui a descrição desde a cor da plumagem até as características genéticas do animal. As pesquisas ficariam limitadas aos pássaros de outra espécie, que também são da mesma família, o joão-cipó (Asthenes luizae), descritos por cientistas na Serra do Cipó em 1990.
- Coletamos várias informações relativas à coloração de plumagem, morfometria, vocalizações, comportamento, sequências de DNA, e as comparamos as relativas às outras espécies da família - explica Lílian. - Todas as pistas levantadas levaram à mesma conclusão: de que haviam diferenças significativas nos indivíduos da Serra do Cipó.
O trabalho de pesquisadores em campo, com apoio da Fundação Grupo Boticário, em diversas regiões do Brasil, já revelou mais de 40 novas espécies de animais e plantas. São 22 anos de pesquisas e investimentos de US$ 11.8 milhões, doados para 1.324 iniciativas de 456 instituições de todo o país.

O Globo, 16/10/2012, Amanhã, p. 7
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