Nova avenida ao lado de Parque Estadual gera polêmica em Manaus

Época - http://epoca.globo.com - 06/05/2015
Segundo moradores, as obras de uma nova via ameaçam as nascentes e espécies do parque


Um grupo de moradores de Manaus (AM) está insatisfeito com as obras que devem originar uma nova via na cidade. A construção da Avenida das Flores começou há três anos e tem como objetivo melhorar o transporte da população e o sistema viário porque vai ligar as zonas leste e norte. O grupo, portanto, não é contrário à obra, mas à forma como ela tem sido feita. A nova avenida, no bairro Cidade Nova, vai passar ao lado do Parque Estadual Sumaúma - única Unidade de Conservação Estadual do município de Manaus e residência de várias espécies de animais.

Quando o governo do estado aprovou o parque, em 2003, considerou-se uma vitória dos moradores locais que haviam se mobilizado pela proteção da área verde. Na época, eles temiam que o terreno fosse invadido e virasse local de moradias irregulares. "Nosso objetivo era dar um uso social para aquela área. Hoje, as escolas da região levam os alunos ao parque para ensinar educação ambiental. Foi a prova que conseguimos aproveitar a área", diz Augusto Leite, gestor ambiental.

Leite é o presidente do Instituto Sumaúma, que visa proteger e valorizar o parque estadual. Ele afirma que as principais preocupações impostas pela obra da avenida são em relação às nascentes e à fauna que sofrerá impactos com a perda de árvores e, no futuro, o ruído dos carros. Entre os animais que habitam o parque está o sauím-de-coleira. Esse macaco, que pesa menos de meio quilo, vive apenas em Manaus e nas cidades vizinhas. O crescimento urbano diminui seu habitat e fez com que o sauím-de-coleira entrasse na lista das espécies ameaçadas de extinção. Abaixo, a entrevista que Augusto Leite deu ao blog ÉPOCA AMAZÔNIA.

ÉPOCA: Quais os problemas envolvidos nas obras da Avenida das Flores?
Augusto Leite: Nem eu, nem o Instituto Sumaúma somos contrários à avenida. Somos críticos ao modo como a obra tem sido executada. Desde 2010, quando foi anunciada, exigimos e participamos de audiências públicas para discutir a melhor forma de fazer a avenida, para beneficiar a população sem prejudicar o meio ambiente. O parque é o habitat de varias espécies de animais e era preciso que eles fossem resgatados antes da obra começar e antes das derrubadas de árvores. Outro problema que prevemos é que, quando os carros começarem a passar bem ao lado do parque, o ruído vai atrapalhar o bem-estar dos animais. O que mais me preocupa é o sauím-de-coleira, que só existe nessa região e corre o risco de ser extinto.

A obra esta sendo feita sem cuidados. A nascente que está dentro do parque está sendo assoreada. A água, que no começo do mês de abril era cristalina, está virando lama. Podemos ver isso claramente. O problema foi causado pela terraplanagem que jogou barro por cima da cerca que protege o parque. Como a cerca está em uma região mais baixa, ficou fácil jogar a terra por cima dela e alcançar a nascente do rio que está do outro lado.

ÉPOCA: O Instituto fez alguma exigência à prefeitura em relação à obra?
Leite: Sim. Queríamos que antes da obra começar fosse feito um estudo de impacto ambiental multidisciplinar, que envolvesse diferentes áreas e especialistas. Isso não foi feito. Quando a prefeitura apresentou o projeto para a avenida, anunciaram um plano de compensação de R$ 5 milhões destinado ao Conselho do Parque Sumaúma. O dinheiro seria usado para melhorar a infraestrutura dentro do parque, construir um anfiteatro ou auditório, por exemplo. Isso incentivaria a educação e a cultura ali, mas nunca foi repassado para o conselho. É a nossa atual exigência com a prefeitura.

ÉPOCA: Quais seriam as saídas mais imediatas para diminuir o impacto da obra?
Leite: Estamos agendando uma reunião com a Secretaria de Infraestrutura em que vamos exigir que seja nomeada uma comissão de especialista ambientais para acompanhar a execução da avenida. Durante as obras, os trabalhadores ficam sozinhos, sem nenhum tipo de vigilância. Eles não têm nenhum cuidado ou conhecimento sobre a importância do meio ambiente e estão colocando o parque em risco. Então, é importante conversar com eles sobre isso e ter alguém que fiscalize a obra como um todo. Precisamos da avenida tanto quanto precisamos do parque.

Procurada pelo blog ÉPOCA AMAZÔNIA, a Secretaria Estadual de Infraestrutura, afirmou em nota que a construção da Avenida das Flores encontra-se "devidamente licenciada do ponto de vista da regularidade ambiental" e que obras compensatórias dentro do Parque Sumaúma foram realizadas. Entre elas está a construção de uma cerca que delimita a área do parque.

Em relação à denuncia de assoreamento, a nota diz que o projeto da avenida respeita a distância mínima de 31,17 metros do curso e da nascente do rio. "Por conta das chuvas, as primeiras intervenções no local resultaram no direcionamento de parte da água que incidiu no local para dentro do parque, o que foi de imediato corrigido. Essa situação é momentânea, além do que outras medidas já vêm sendo implementadas visando minimizar os impactos que podem resultar da construção da obra, em cumprimento as ações previstas nos programas solicitados e apresentados ao órgão licenciador", afirma.



http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/amazonia/noticia/2015/05/nova-avenida-ao-lado-de-parque-estadual-gera-polemica-em-manaus.html
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