Novo e já ameaçado

O Globo, Planeta Terra, p. 3 - 13/09/2011
Novo e já ameaçado
Macaco zogue-zogue pode ser vítima da remoção de seu habitat no Mato Grosso

Renato Grandelle
renato.grandelle@oglobo.com.br

Localizada no Mato Grosso, próximo à divisa com Amazonas e Rondônia, a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt tem um desenho sui generis. Consiste em duas faixas estreitas, cada uma circundando a margem imediata de um rio, os mesmos que batizam a reserva. É justamente no trecho entre esses cursos d'água - parte protegido, parte desmatado - que se encontra um novo primata do gênero Callicebus. Ou, como chamam os moradores da região, zogue-zogue.
O macaco foi visto pela primeira vez em dezembro do ano passado, numa expedição realizada pela WWF, em conjunto com a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. Sua descoberta, no entanto, só foi anunciada há três semanas.
Enquanto os pesquisadores colhiam informações sobre planos de manejo para as áreas de conservação locais, um deles, o biólogo Julio Dalponte, viu um símio desconhecido pendurado nas árvores da região.
- Parece com outras espécies conhecidas como zogue-zogue: todos são pequenos, com no máximo 50 centímetros do focinho à ponta da cauda, e vivem em grupos pequenos, de no máximo cinco indivíduos - conta Dalponte. - Mas a cor da pelagem era diferente. O novo macaco tem cauda ocre, numa tonalidade bem forte, muito diferente do padrão que conhecemos.
Cada família divide uma árvore; o casal que a chefia comunica-se com seus vizinhos apenas uma vez por dia, normalmente pela manhã. Dentro de "casa", porém, são mais falantes. A alimentação consiste em brotos e frutos.
Sediado em Ribeirão Preto, onde coordena a Rastos, uma empresa dedicada a serviços ambientais, Dalponte luta por recursos para enfiar-se mais uma vez na reserva do Mato Grosso. Seu objetivo é reduzir a lista de perguntas ainda não respondidas sobre o símio ocre. Entre elas, quais os seus limites e o tamanho da população.
- Normalmente cada região entre rios tem uma espécie própria de zogue-zogue - explica o biólogo. - Todas são extremamente zelosas com seu território. Falta descobrir quais são as fronteiras norte e sul seguidas por esse macaco. E, como ela acabou de ser descoberta, ainda é cedo para afirmar se corre risco de extinção.
Ainda assim, pelo menos uma ameaça à sua existência já é conhecida: o corredor desprotegido entre as duas faixas da reserva. A remoção do habitat seria fatal a diversas espécies que ocupam o último trecho de floresta virgem mato-grossense.
O desmatamento provocaria estragos maiores do que o desaparecimento dos zogues-zogues. Dalponte assegura que a Amazônia guarda muito outros símios desconhecidos. A floresta abriga, no mínimo, metade das pouco mais de cem espécies de macacos descritas no mundo.
- A Amazônia é extremamente diversa, então as possibilidades de registrar espécies ainda não descritas, ou ver outras conhecidas em novas áreas de ocorrência, são muito grandes - alerta. - Precisamos mapear, no caso do novo símio, quais fatores podem comprometer sua existência: tanto ameaças momentâneas quanto as potenciais.

O Globo, 13/09/2011, Planeta Terra, p. 3
UC:Reserva Extrativista

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