Operação de salvamento

CB, Cidades, p. 36 - 19/07/2008
Operação de salvamento
Cachoeira na Chapada dos Veadeiros é interditada para garantir a reprodução da ave que está ameaçada de extinção e só existe no Brasil. Uma fêmea botou ovos no local e turistas devem ficar afastados

Érica Montenegro
Da equipe do Correio

Criticamente ameaçado de extinção, o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) consegue até mudar roteiros turísticos. O Cânion 2 do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso (GO), está fechado por tempo indeterminado para garantir que a reprodução do animal não seja prejudicada pela presença dos visitantes. A decisão foi tomada ontem, depois que pesquisadores descobriram um ninho com dois ovos da ave em uma das paredes de rocha do Cânion 2.
O chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Daniel Borges, afirma que o local deve permanecer fechado pelo menos até agosto, quando, provavelmente, os filhotes já terão nascido.
"Por ser uma espécie raríssima, preferimos não colocar a reprodução dela em risco", informa. De acordo com estimativas de organizações ambientais, a população de patos-mergulhões é de aproximadamente 250 indivíduos. A espécie - já extinta na Argentina e no Paraguai - sobrevive apenas no Brasil atualmente.
O fechamento do Cânion 2 também atendeu a objetivos científicos. O ninho no paredão rochoso é o primeiro encontrado dentro dos limites do parque nacional e será monitorado por pesquisadores da Fundação Pró-Natureza (Funatura) que desenvolvem plano de conservação financiado pela Fundação O Boticário. "Como estamos em uma área de preservação, temos a obrigação de priorizar o pato em relação aos turistas", completa Daniel Borges.
Trilha
O Cânion 2 faz parte do roteiro conhecido como "Trilha dos Cânions", que inclui o Cânion 1 e a Cachoeira das Cariocas. Borges reforça que o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros continuará aberto, apenas a região do Cânion 2 ficará isolada. O período de reprodução do pato ameaçado de extinção coincidiu com a alta temporada de turismo na Chapada dos Veadeiros. Nesta época do ano, o número de visitantes do parque varia entre 100 e 150 pessoas por dia.
O ninho do pato-mergulhão está em um local aonde se pode chegar a pé, o que deixa os ovos bastante vulneráveis. Além disso, até mesmo o barulho que os visitantes normalmente fazem pode atrapalhar o processo de incubação. "Ao perceber que o local é movimentado, os patos podem abandonar o ninho e os ovos", explica a pesquisadora Vivian Braz, da Funatura. Neste caso, a preciosa ninhada se perderia porque ficaria sem proteção.
O processo de reprodução dos mergulhões (entre a fêmea colocar os ovos e os filhotes nascerem) dura em média dois meses. Depois que põe os ovos, a fêmea se mantém sobre eles praticamente o dia inteiro para aquecê-los. Enquanto isso, o macho fica de sentinela tentando evitar os predadores. "Eles precisam se sentir absolutamente seguros. Se os ovos esfriam, os embriões não se desenvolvem", afirma a bióloga Vivian Braz.

Raros
250 Espécimes de pato-mergulhão sobrevivem atualmente, de acordo com entidades preservacionistas

CB, 19/07/2008, Cidades, p. 36
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Chapada dos Veadeiros
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.