Os vizinhos que ameaçam a Reserva do Tinguá

O Globo, Rio, p.24 - 27/02/2005
Os Vizinhos que ameaçam a Reserva do Tinguá
Areais, saibreiras e até parque temático em volta da área de preservação são acusados de degradar meio ambiente
A maior reserva biológica do Estado do Rio, com 27 mil hectares, está perdendo espaço para grandes empreendimentos. Saibreiras, areais e outras propriedades particulares avançam sobre Tinguá, que encolhe a cada ano. Algumas dessas atividades foram embargadas pela Justiça, mas continuam a operar à revelia da lei. Mesmo outras que receberam licença são apontadas por ambientalistas como uma ameaça à unidade de conservação. Há hoje no Ministério Público federal pelo menos dez procedimentos que apuram denúncias de atividades e ocupações que não respeitam o meio ambiente no raio de dez quilômetros além dos limites da reserva que deveria ser preservado.
O Parque Ana Dantas, em Xerém, ocupa uma área de 13,6 hectares a apenas 300 metros do limite da reserva. O empreendimento particular é acusado de ter degradado 40 hectares da zona de amortecimento do Tinguá, uma faixa de cinco quilômetros em torno da reserva que deveria ser ainda mais protegida. O Ministério Público federal de São João de Meriti impetrou uma ação contra o parque por devastar o meio ambiente. Jonatas Dantas, responsável pelo parque, argumenta que já apresentou um projeto de revitalização da área em frente ao parque, cuja resposta está sendo aguardada.
O chefe da Reserva Biológica do Tinguá, Luís Henrique Santos Teixeira, diz, no entanto, que o Ana Dantas não tem licença do Ibama, foi multado em R$160 mil e embargado. Apesar disso, está funcionando a todo vapor e anuncia para os próximos dias uma grande vaquejada. Jonatas disse que já adquiriu parte da área degradada e que por isso está recorrendo da multa.
— Ocuparam uma área que deveria ser preservada, derrubaram parte da mata para construir estacionamento e modificaram a margem do rio, que perdeu toda a mata auxiliar. Embargamos o parque, mas sabemos que a decisão não vem sendo cumprida — disse Luís Henrique.
Na lista dos inimigos da reserva, estão também saibreiras e areais. Segundo o Ibama, há 12 areais instalados no entorno do Tinguá, sendo que pelo menos cinco não têm licença para operar. No limite dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu, um areal devastou 60 hectares da faixa que deveria ser preservada. Em Xerém, a exploração de saibro já destruiu dez mil metros quadrados de mata.
— Essas explorações receberam licenças da Feema, com parecer do Ibama. Com isso, mais da metade da faixa em torno da reserva já está comprometida — alertou Márcio Castro das Mercês, do Grupo de Defesa da Natureza, do qual fazia parte Dionísio Júlio Ribeiro, assassinado terça-feira.
O Ministério Público federal ajuizou em dezembro do ano passado duas ações exigindo a demarcação da Reserva Biológica do Tinguá e o plano de manejo da área. Segundo o procurador da República Renato Oliveira, o plano de manejo — documento que define que atividades podem ser realizadas na unidade de conservação — deveria estar pronto em 1993, quatro anos após a criação da reserva. O Ibama informou que o plano já está sendo elaborado, mas ainda não tem data para ser concluído.
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O Globo, 27/02/2005, p.24
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