Para chefe, políticos tumultuam discussão

Folha de Boa Vista - www.folhabv.com.br - 01/09/2010
A direção do Parque Nacional do Viruá, subordinado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), critica a forma politiqueira que estão sendo usadas as questões ambientais no estado. Um exemplo foi uma reunião comunitária realizada na Vila Petrolina, em Caracaraí, no final da semana passada, para tratar sobre os boatos de possível ampliação do Parque do Viruá, onde políticos apareceram e causaram tumulto.

O chefe do Parque Nacional do Viruá, Antônio Lisboa, esclarece inicialmente que não aconteceu nenhuma audiência pública, como noticiado pela Folha em matéria veiculada ontem. Segundo ele, o que houve foi uma reunião comunitária para esclarecer a população que mora em Vila Petrolina sobre os boatos que estão sendo disseminados sobre a ampliação do parque com objetivos eleitoreiros.

Lisboa conta que a reunião realizada na sexta-feira, 27, em uma escola de Petrolina que seria apenas para agricultores do entorno do parque, contou com a inesperada participação de dezenas de políticos de Boa Vista, incluindo candidatos a deputado federal, alguns dos quais chegaram à reunião de helicóptero, e diversas lideranças dos arrozeiros do norte do estado que discursaram na reunião.

Segundo Lisboa, após a informação divulgada pela Folha, na semana passada, de que o Parque do Lavrado não será mais criado, os candidatos que tinham uma bandeira de campanha contra a criação do suposto parque, passaram a adotar a ampliação do Parque Nacional do Viruá como novo alvo de campanha para a eleição.

"É uma pena que estejam querendo usar o nome do Viruá para promover interesses pessoais às vésperas da eleição e confundir a população, justamente num momento tão importante de união e fortalecimento do diálogo. E quem usar o nome do Viruá com objetivo político-eleitoreiro vai perder votos e eleitores, pois a sociedade está cansada de ser alvo de mentiras que só visam ganhar eleições através de conflitos e rancores", diz Lisboa.

AMPLIAÇÃO - Segundo Beatriz Ribeiro, do ICMBio, a área em questão vem sendo objeto de uma série de estudos para avaliar a real necessidade de incorporação de parte dela aos limites atuais do parque. "Esses estudos tiveram início em 2006 e incluem hoje dezenas de levantamentos de solos, plantas e animais, e seus resultados vêm demonstrando uma enorme vocação para o ecoturismo", explica.

Para Beatriz, a área tem muito mais a contribuir para o desenvolvimento local através de sua conservação e exploração turística do que através do uso agrícola. "Seria uma enorme irresponsabilidade assentar agricultores e pecuaristas na área, uma vez que os solos são extremamente pobres até para plantar abacaxi", enfatiza.

De acordo com José Frutuoso, professor de Agronomia da UFRR, que realizou diversos levantamentos de solos na área, diferente das áreas de lavrado típicas do norte do estado, essas áreas de campinarana são absolutamente impróprias para agricultura, pastagem ou reflorestamento, servindo apenas para abrigo da riquíssima fauna silvestre, práticas de turismo e recreação.

Ao contrário da forte inaptidão da área para uso agrícola, os estudos de fauna e flora da região impressionam pela enorme diversidade e riqueza ecológica. Ao todo, já foram identificadas até agora mais de 520 espécies de aves, 420 de peixes, além de centenas de mamíferos, répteis e anfíbios, o que torna o Viruá o atual recordista brasileiro em número de espécies registradas de vertebrados.

Missão do parque é promover o desenvolvimento local sustentável

Previsto para se tornar a primeira unidade de conservação do estado a estar aberta à visitação pública, a partir de 2011, o Parque Nacional do Viruá conta com o envolvimento direto de centenas de estudantes, comunitários e operadores de turismo de Roraima.

Resultado dos esforços para a elaboração de seu plano de manejo, o parque é atualmente a unidade de conservação mais pesquisada da Amazônia, incluindo mais de 200 pesquisadores com licenças cadastradas.

Para Magno de Souza, operador de turismo, o Viruá é de extrema importância para o desenvolvimento do turismo em Roraima, com enorme potencial para a realização de atividades como observação de aves, safáris fotográficos, trilhas em floresta e pesca esportiva.

Segundo Magno, a facilidade de acesso ao parque é uma condição extremamente rara na Amazônia, o que deverá promover a inclusão social da população que vive no entorno do parque, gerando trabalho e renda para as famílias envolvidas.

De acordo com Aricia Guevara, estudante de turismo em Caracaraí da Universidade Estadual de Roraima (UERR), a ideia é que a cidade se desenvolva a partir do que ela tem de mais valioso: a sua natureza.

"A comunidade de Caracaraí está bastante consciente sobre a importância do parque para o futuro do município. Não adianta termos milhares de hectares de terra apenas para desmatar e destruir nosso maior patrimônio, pois o que a gente vê é um uso insustentável dos recursos que só produz ainda mais fome, pobreza e pouquíssimo alimento", afirmou.

Para o acadêmico do 7 período do curso de Turismo da UERR, Francisco Pereira, o parque do Viruá não serve para proibir ou prejudicar as pessoas, ao contrário, ele é uma garantia de futuro e qualidade de vida que se tem em Caracaraí. "Se for preciso, a comunidade vai lutar junto à natureza pela sobrevivência da vida. Não podemos olhar só para o hoje, temos que olhar também para o amanhã", afirmou.

O diretor do Parque Nacional do Viruá, Antônio Lisboa, disse que o processo de ampliação depende da conclusão dos estudos técnicos de viabilidade da ampliação, que, caso confirmado, deverá ser seguido por uma Consulta Pública que incluirá uma série de reuniões. Para que tenham valor, essas reuniões deverão ter ampla divulgação com, no mínimo, 30 dias de antecedência, para que possam envolver todos os interessados no debate.

"O Viruá é um parque nacional público e democrático, que tem a participação social e o respeito aos agricultores como um de seus pilares mais fundamentais". Segundo Lisboa, o parque é hoje um dos maiores motivos de orgulho e esperança para o Estado de Roraima. "Quem estiver contra ele, estará na verdade contra o desenvolvimento e o futuro deste estado".

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