Pará: criada a maior reserva florestal da Terra

O Globo, Ciência e Vida, p. 28 - 05/12/2006
Pará: criada a maior reserva florestal da Terra
Sete unidades de conservação na Amazônia passam a integrar o mais extenso corredor de matas protegidas do planeta

Roberta Jansen Enviada especial

Com a criação ontem de sete unidades de conservação no Pará, o Brasil passou a ter o maior bloco de florestas protegidas oficialmente do mundo. Para ambientalistas, uma resposta que, se for eficazmente implementada, contrabalançará as duras críticas que o país recebe pelo desmatamento da Amazônia e por sua contribuição para o aquecimento global.

São aproximadamente 15 milhões de hectares - o que equivale ao Acre ou a pouco menos que os territórios somados de Portugal, Dinamarca e Suíça. Em combinação às áreas de proteção existentes no Amazonas e no Amapá e a terras indígenas, as novas unidades formam também o maior corredor ecológico do planeta, com 3 mil quilômetros de extensão.

- No momento em que o maior problema mundial é o clima, um gesto assim dá esperança ao planeta - acredita o presidente nacional do Partido Verde, José Luis de França Pena, que apóia a iniciativa.

Região é o filé mignon da Amazônia
O acordo assinado pelo governador do Pará, Simão Jatene, prevê que um terço das áreas será totalmente preservado e não terá atividade agrícola e industrial. É o caso da Estação Ecológica Grão-Pará, a maior do país com 4,2 milhões de hectares, e da Reserva Biológica Maicuru, com 1,1 milhão de hectares. Segundo especialistas, a biodiversidade da região é imensa.

- A criação dessas áreas representa um passo significativo para a conservação de um dos maiores blocos contínuos de florestas tropicais do planeta - diz José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da Conservação Internacional (CI), parceira da iniciativa.

Cientistas estimam que Grã-Pará e Maicuru abrigam pelo menos 61 espécies de anfíbios, 150 de répteis, 700 de aves e 195 de mamíferos. Esses números representam de 14% (anfíbios) a 54% (aves) das espécies na Amazônia. Vivem lá pelo menos oito espécies ameaçadas de extinção, caso do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga trydactila) e da onça-pintada (Panthera onca). O potencial para a descoberta de espécies é enorme.

- Trata-se de uma das porções menos conhecidas da Amazônia, de acesso muito difícil - atesta o biólogo Enrico Bernard, gerente de Programas da Amazônia da CI. - Essa área é o filé mignon da Amazônia.

A CI se comprometeu a investir, inicialmente, US$ 1 milhão nas duas unidades para a criação de infra-estrutura de funcionamento e a preparação de um plano de manejo, que deve estar concluído em três anos. Pelo decreto assinado ontem foram criadas também quatro florestas estaduais (Paru, Trombetas, Faro e Iriri) e uma área de proteção ambiental (Triunfo do Xingu).

Nessas áreas, as atividades humanas serão permitidas, desde que de forma sustentável e sob estrito controle do governo.

O governador Simão Jatene lembrou que não era mais possível se ater ao dilema de produzir ou preservar. Mas há quem discorde. Originalmente, seriam criadas nove unidades de conservação, mas uma liminar de última hora impediu a criação da Floresta Estadual Amazônia, com 514 mil hectares, e da Área de Proteção Ambiental Santa Maria do Ururá, com 946 mil hectares, ambas no Pará. A Justiça entendeu que a oficialização do uso sustentável dos recursos nas áreas - onde há uma ação expressiva de madeireiras - poderia ser nociva ao meio ambiente. Mas os defensores da proposta sustentam que legalizar a extração da madeira é a melhor forma de controlá-la.

A medida, garantem seus defensores, também desencorajaria grileiros.

- Ao definirmos áreas públicas, retiramos a chance do grileiro vender a expectativa de direito sobre a área -justifica Jatene. - Eu diria que demos um passo importante, mas estamos longe de resolver o problema.

A meta é captar recursos para as unidades em que as atividades sustentáveis são permitidas.

A ONG Imazon, parceira da iniciativa, pretende ampliar para outros estados o seu Sistema de Alerta de Desmatamento, instalado no Mato Grosso.

- Só o monitoramento não resolve, mas é um passo importante - afirma Carlos Souza Jr., do Imazon.

Roberta Jansen viajou a convite da CI

O Globo, 05/12/2006, Ciência e Vida, p. 28
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