Parques nacionais serão abertos à iniciativa privada

O Globo, O País, p. 13 - 06/06/2010
Parques nacionais serão abertos à iniciativa privada
Proposta é terceirizar serviços de atendimento ao turista

Catarina Alencastro

Com apenas 1.827 servidores para cuidar de 77 milhões de hectares em unidades de conservação, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vai terceirizar os serviços de atendimento ao turista nos parques nacionais. Pelo menos 25 parques terão venda de ingresso, passeios, manutenção de trilhas e hospedagem nas mãos da iniciativa privada. O governo alega que atualmente já há uma terceirização informal e que quem perde com isso são os parques e o turista. Sem um controle da qualidade desses serviços, unidades sofrem com a queda no número de visitantes.

É o caso do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia, que em 2001 teve 12.788 visitas e no ano passado contou com apenas 4.970. Na outra ponta, o parque mais visitado é o Iguaçu (PR), famoso por suas belas cataratas. É o único no Brasil que já funciona sob o modelo de concessão. Sozinho, ele responde por um terço das visitas anuais a todos os 64 parques do país: 1.070.072 pessoas. O sistema emprega 700 pessoas.

- Vamos terceirizar aquelas ações que não são bem feitas por nós. Não podemos tirar um funcionário que poderia estar trabalhando na área de pesquisa e biodiversidade para ele recolher ingresso na porta ou ser camareiro - pondera Júlio Gonchorosky, coordenadorgeral de visitação e uso público do órgão.

Com a mudança, pelo menos quatro parques que hoje não cobram ingresso passarão a fazê-lo. É o caso de Chapada dos Veadeiros (GO), Anavilhanas (AM), Campos Amazônicos (AM) e Serra do Divisor (AC). Segundo o diretor de Unidades de Conservação e Proteção Integral do ICMBio, Ricardo Soavinski, são locais em que não há muita infraestrutura e o governo acaba tendo que contratar uma empresa para cobrar a entrada.

Complexo das Paineiras terá hotel de luxo
Com a privatização dos serviços, novas atividades serão oferecidas. A empresa vencedora da licitação, além de cobrar os ingressos, deverá oferecer guias, gerência de estacionamentos, transporte dentro das unidades, além de lanchonetes, restaurantes, hotéis, pousadas, acampamentos e abrigos, lojinhas e atividades esportivas, como escalada, canoagem, mergulho, arvorismo, tirolesa, rapel e bungee jumping. Mais de uma empresa poderá ganhar a mesma concessão, no caso de atividades esportivas, por exemplo.

Para cada parque foi feito um estudo de viabilidade econômica e identificadas as atividades potenciais. Os contratos poderão ser de curta duração (cinco anos) ou de longa (20 anos).

O mais alto investimento será feito no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ali será reerguido o Complexo das Paineiras, com um hotel de alto padrão, um restaurante, lanchonetes, bilheteria, estacionamento e transporte até o Corcovado e o Cristo Redentor. O investimento previsto é de de R$ 40 milhões no período de 20 anos.

Também no Rio, o Parque Nacional Serra dos Órgãos, que recebeu R$ 3 milhões do Ministério do Turismo, terá um contrato de dez anos no valor de R$ 800 mil para a manutenção de um hotel, restaurante, bilheteria, estacionamento, transporte interno, abrigos de montanha, camping, cafeteria, loja de souvenir e Casa do Montanhista. Outra novidade é a construção de um outro abrigo na travessia de Petrópolis a Teresópolis, que já começa a funcionar no segundo semestre.

O Globo, 06/06/2010, O País, p. 13
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