Peixes-bois são levados de Pernambuco para Alagoas

ICMBio - http://www.icmbio.gov.br/ - 11/12/2015
Operação durou 12 horas, varou a madrugada e envolveu 40 técnicos

Brasília (11/12/2015) - Uma operação de translocação (transporte) de dois peixes-bois, de Itamaracá (PE) até Porto de Pedras (AL), durou 12 horas e mobilizou 40 técnicos do Centro de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A maior parte da operação ocorreu durante a madrugada. Os machos Netuno e Zoé começaram a ser transferidos da base do Projeto Peixe-Boi, na Ilha de Itamaracá (PE), na noite da segunda-feira (7), por volta das 22h, e chegaram ao recinto de adaptação no leito do Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, no litoral norte de Alagoas, na manhã da terça-feira (8), às 10h.

Os animais foram transportados em dois caminhões do tipo Munk (providos de guindastes). No novo lar, que fica na Área de Proteção Ambiental (APA) da Costa dos Corais, eles terão destinos diferentes. Netuno, que tem 25 anos de idade e cerca de 420 quilos, deve permanecer no cativeiro pelo resto da vida. Já Zoé passará por um período de adaptação no recinto e pode vir a ser solto na natureza em um ano.

Netuno, o maior reprodutor

Segundo a chefe da CMA, Fabia Luna, Netuno ficará no recinto natural por não ter capacidade de sobreviver solto na natureza. O animal viveu em cativeiro desde que foi resgatado ainda filhote, na Praia do Sagi, no Rio Grande do Norte, no dia 13 de janeiro de 1991.

Netuno é o maior reprodutor de peixe-boi marinho em cativeiro no Brasil e participou da reprodução de todas as seis fêmeas do plantel do oceanário em Itamaracá. O macho - sempre dominante - foi separado das fêmeas para evitar o cruzamento com outros peixes-boi da sua linhagem. Mas, com a mudança, passou a apresentar comportamento depressivo e perda de peso.

Por conta disso, conta Fábia Luna, a mudança de Netuno para Porto de Pedras foi necessária. De qualquer forma, o animal deve permanecer isolado porque alguns dos indivíduos soltos no litoral alagoano são seus filhotes. Como ele não tem capacidade de voltar para a natureza, principalmente pela grande afinidade com as pessoas, deverá permanecer no recinto, onde estará seguro. Sua estadia no cativeiro será utilizada para trabalhos de educação ambiental.

Com a translocação, o ICMBio cumpre a estratégia de conservação do peixe-boi marinho no Nordeste brasileiro. "Esperamos também diminuir o número excessivo de animais cativos nas instalações ex situ (fora da natureza), visando o melhor bem-estar deles, além, é claro, de promover pesquisas para a conservação da espécie em cativeiro de ambiente natural, buscando o aprimoramento quanto ao comportamento, alimentação e técnicas de manejo", explica a chefe do CMA.

O peixe-boi

Historicamente, o peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) possui distribuição geográfica da costa leste do México e América Central, nas Antilhas, até a América do Sul. No Brasil, a ocorrência do animal ia do Amapá até o Espírito Santo. Entretanto, em função das intervenções do homem, como a caça no passado, a espécie é considerada extinta do sul de Alagoas para baixo.

O peixe-boi é classificado como em perigo de extinção, segundo a lista de espécies ameaçadas da fauna, publicada em dezembro de 2014. Entre as causas, estão os encalhes, os atropelamentos por embarcação e a ingestão de lixo. Estima-se que existem em torno de 500 animais na natureza.

O peixe-boi é protegido por leis nacionais, entre elas, a lei de crimes ambientais, de no9.605/98, cabendo ao ICMBio a definição das estratégias para conservação da espécie. Para tanto, o Instituto atua na avaliação do estado de conservação e na elaboração e coordenação do Plano Nacional de Ação para Conservação dos Sirênios (PAN Sirênios).

CMA, 35 anos de história

O CMA, unidade especializada do ICMBio com atuação em todo o território nacional, atuou nos últimos 35 anos como centro de desenvolvimento de pesquisas voltadas à conservação dos sirênios e dos ambientes nos quais eles habitam. Nesse tempo, suas principais ações foram centradas na conservação, resgate e a reabilitação do peixe-boi marinho, assim como na garantia do cumprimento da legislação de proteção da espécie.

Em 1994, foi criado o programa de reintrodução de peixe-boi marinho no Brasil, que ficou a cargo do CMA, juntamente com instituições parceiras. O objetivo era o repovoamento de áreas de ocorrência históricas do animal Nordeste brasileiro.

As parcerias com organizações não governamentais, empresas, governos estaduais, municipais e federal, além de outras unidades do próprio ICMBio, foram fundamentais para a realização das atividades de proteção ao peixe-boi. Como resultado desse trabalho, houve um incremento populacional nas áreas de ocorrência e o repovoamento em áreas onde a espécie era considerada extinta.

Entre essas áreas, estão a região do litoral norte de Alagoas e do estado de Sergipe. Nesses locais, as espécies atualmente encontradas hoje, em sua grande maioria, são animais reintroduzidos pelo CMA nos últimos 21 anos. O aumento do uso de área e repovoamento no extremo mais ao sul de ocorrência histórica da espécie demonstra a importância do trabalho realizado pelos servidores do Centro.

Nesses anos todos, o Centro de Mamíferos Aquáticos manejou cerca de cem peixes-bois marinhos vivos, o que representa algo em torno de 20% de toda a população do animal no Brasil. Destes, 40% já retornaram à natureza.

Em 2 de março deste ano, por meio da portaria no 16, o ICMBio criou o Programa de Conservação do Peixe-Boi Marinho. Com isso, as atividades de manejo e conservação da espécie deixam de ser de responsabilidade apenas do Projeto Peixe-Boi, que era gerido pelo CMA.

Elas passam a ser realizadas por todas as unidades do Instituto localizadas nas áreas de ocorrência da espécie, ficando sob o comando do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). Essa mudança de atribuições deve ser concluída, na prática, até março de março de 2016.
Biodiversidade:Fauna

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