Protegida mas nem tanto

O Globo, Rio, p. 16 - 12/04/2006
Protegida mas nem tanto
Estação Ecológica criada pelo Ibama na baía nasce sob a ameaça da nova refinaria

Tulio Brandão

Os últimos vestígios de manguezal primitivo encontrados pelos colonizadores em 1503 às margens da Baía de Guanabara ganharam proteção e, ainda assim, não escaparam do risco de degradação. O lugar, que faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, acaba de virar a Estação Ecológica Guanabara, unidade de conservação rígida, que restringe as visitas a pesquisas científicas e educação ambiental para conservar as espécies ameaçadas de extinção. O esforço de conservação, no entanto, pode estar ameaçado pelos impactos ambientais previstos para o Pólo Petroquímico de Itaboraí, empreendimento anunciado pela Petrobras. A refinaria será instalada numa região cortada pelos rios que deságuam na Estação Ecológica Guanabara. A empresa diz ter meios para mitigar os danos ao meio ambiente.
A superintendência regional do Ibama, que vai anunciar hoje em cerimônia com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a criação da unidade de conservação, só soube do empreendimento da Petrobras pela imprensa. Segundo o diretor da APA de Guapimirim, Breno Herrera, o órgão vai requerer informações detalhadas sobre o projeto, já que a operação de uma refinaria de petróleo gera impactos ambientais inevitáveis.
Segundo o geógrafo Elmo Amador, especialista na Baía de Guanabara e membro do conselho gestor da APA de Guapimirim, a refinaria será instalada inevitavelmente na área de entorno dos manguezais protegidos. Ele diz que não apenas o mangue, mas a própria Baía de Guanabara corre sério risco com a implantação de pólo naquela região:
- O problema começa com o impacto das obras. Depois, segue com a operação, já que se trata de complexos químicos altamente poluentes. Qualquer pequeno vazamento, que não é atípico em refinarias, vai ser fatal para os mangues. Além disso, o pólo vai utilizar pelo menos três metros cúbicos de água por segundo e o sistema fluvial existente na região já é deficitário, ou seja, desce menos água doce do rio do que deveria. E, como o mangue é um berçário de peixes, a baía também será afetada. E um abraço fatal naquela região.
Petrobras quer discutir alternativas
A Petrobras assegura, por outro lado, que o pólo petroquímico tem meios para reduzir os impactos ambientais gerados pela atividade. A presidente da Petroquísa, Maria das Graças Foster, garante que a empresa vai discutir todas as questões ambientais com as entidades e os órgãos ligados ao tema:
- A Petrobras tem um dever junto ao Ibama e a todos os outros organismos ambientais envolvidos. Vamos apresentar alternativas para discutir o empreendimento, não queremos chegar com um prato feito. A empresa tem uma possibilidade grande de mitigação de qualquer impacto ambiental previsto para a região. Em algumas semanas, apresentaremos aos órgãos ambientais as informações necessárias.
Maria das Graças diz que o empreendimento será implantado num terreno de 20 quilômetros quadrados na região de Itaboraí. A área é equivalente à da Estação Ecológica Guanabara. Apesar dos riscos ambientais, a criação da unidade foi comemorada por Breno Herrera.
- É um manguezal ancestral, que reúne algumas espécies que estão na lista estadual de ameaçadas de extinção, como as aves biguatinga e marreca-caneleira, além do jacaré-do-papo-amarelo - disse o diretor.
Ele explicou que, entre outras funções, a unidade vai criar uma zona de exclusão de pesca, para permitir a
reprodução contínua de peixes e crustáceos:
- Isso vai possibilitar o repovoamento de outras áreas de manguezal da baía, onde a pesca e a coleta são intensas. Por isso, boa parte da comunidade local foi favorável à criação de uma área muito protegida.

O Globo, 12/04/2006, Rio, p. 16
UC:Estação Ecológica

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