Recuperação da Baía nas águas de 2016

O Globo, Opinião, p. 6 - 21/08/2011
Recuperação da Baía nas águas de 2016
O Rio tem nova chance de despoluir um dos mais maltratados trechos da orla

A assinatura de um convênio entre o governo estadual e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dias atrás, faz aumentar as esperanças de definitiva recuperação ambiental da Baía de Guanabara. O acordo faz parte de um pacote, anunciado pelo governador Sérgio Cabral, que carreará cerca de R$1 bilhão para programas de despoluição do espelho d"água, de tratamento de esgoto no entorno e de conclusão de estações de recolhimento e beneficiamento de águas servidas. O horizonte imediato dessa nova leva de intervenções é o ano de 2016, por conta dos compromissos assumidos pelo Rio para sediar os Jogos Olímpicos, dos quais o resgate ambiental da baía é um dos pontos mais ambiciosos. Decorrente desse pacto que anuncia investimentos puxados pelas Olimpíadas, fica a obrigação do poder público de fazer do evento o ponto de partida para uma série de intervenções, ambientais e urbanísticas, que ficarão como legados permanentes para a cidade.
É a grande chance de se recuperar a baía, cujo espelho d"água reflete décadas de maltratos. Um estudo da Universidade Federal Fluminense mostra a dimensão de um afluxo de sedimentos que não para de crescer - o que significa contínuo aumento da taxa de área dela subtraída. Na época da ocupação indígena essa taxa era de 0,14 centímetros ao ano, considerada normal. Entre 1997 e 2004, a baía começou a perder 1,25 centímetros anuais, com mortais reflexos no biossistema local, devido à redução da profundidade do espelho.
A esse fenômeno se junta outro, igualmente nocivo - a quantidade de esgoto que ainda hoje é despejada in natura na baía, a maior parte proveniente dos leitos dos rios que ali deságuam. Apenas 30% desse material altamente poluente são tratados antes de se misturarem à água do mar. Por fim, contribuem para contaminar o espelho d"água toneladas de lixo - pneus, pedaços de isopor, vidros, garrafas PET, material plástico em geral e até móveis velhos. O resultado dessa letal alquimia pode ser medido a olho nu, pelas águas enegrecidas e pelo comprometimento de grandes áreas de manguezal. Mesmo na APA de Guapimirim, a área mais preservada de reprodução de espécies marinhas da baía, os reflexos desse acúmulo de sujeira são graves.
Não têm faltado programas para recuperar esse pedaço maltratado da orla fluminense. Lançado em 1993, o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara consumiu quase US$1 bilhão e fez desaparecer mais verbas que poluição. Foram construídas três estações de tratamento, mas não se cuidou de ampliar as redes de captação de esgoto, do saneamento no entorno da baía e de interligar os troncos construídos para levar o esgoto a essas ETEs.
O PDBG deu lugar ao atual Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), com objetivos mais ambiciosos. Além do convênio com o BID, o governo fluminense terá recursos de outras fontes, inclusive do PAC, com o início das intervenções já em novembro. Espera-se que, desta vez, o programa de obras dê conta permanentemente dos desafios que a despoluição da baía tem deixado registrados na agenda dos grandes compromissos de resgate ambiental não só do Rio, mas de todo o país.

O Globo, 21/08/2011, Opinião, p. 6
Recursos Hídricos:Poluição

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