Refúgio da vida silvestre, Tarumã está ameaçado pela expansão urbana de Manaus

A Crítica - http://acritica.uol.com.br - 30/07/2011
De reduto da vida silvestre e refúgio contra a correria da vida urbana - com a tranquilidade típica de uma cidade do interior - para mais uma periferia sem qualquer infraestrutura cercada de invasões, indústrias e crimes ambientais. É esse destino que temem moradores do bairro Tarumã, na Zona Oeste.

Local escolhido por empresas, construtoras, pela "indústria da invasão" e exploradores de recursos naturais, o Tarumã passa por um processo de expansão urbana totalmente desordenada, que pode mudar para sempre a vida de quem já mora no bairro, alerta o promotor de Justiça da Promotoria de Urbanismo, Paulo Stélio.

Mesmo acostumados a não ter serviços básicos essenciais, como água, esgoto e asfalto, ou tê-los de forma precária - casos da Saúde e Educação -, os moradores do Tarumã ainda se dizem privilegiados por viver em meio a uma Área de Proteção Ambiental (APA), mesmo ameaçada.

É o caso de Ataíde da Silva, 30, morador do bairro que vem acompanhando as mudanças dos últimos anos. Ele lamentou as invasões das áreas até agora preservadas do bairro promovidas por empresas, condomínios e assentamentos.

"Esse é o diferencial do nosso bairro e o motivo que trouxe muita gente até aqui, trocando casas em áreas mais nobres, como o Adrianópolis e a própria Ponta Negra, para viver em meio à natureza. O futuro está aqui e precisa ser preservado", disse.

Cotidiano

Nadar, pescar ou simplesmente andar a cavalo pelas ruas do Tarumãzinho, como é conhecida a região mais antiga do Tarumã-Açu, são costumes que fazem parte do cotidiano de boa parte dos moradores do local.

Um deles é o ferrador de cavalos Alfredo Farias, 52, que faz quase tudo o que precisa no dia-a-dia montado em sua mula ou em uma charrete.

"Eu levo minha filha, atendo meus clientes, vou na venda fazer compra, tudo de charrete. Além do passeio sem o estresse dos congestionamentos que vive quem mora na 'cidade', ainda economizo R$ 150 por semana".

Ele, que é natural do Rio de Janeiro e se mudou para o bairro em 1994, - após viver no ramal do Texugo (hoje bairro Santa Etelvina) por sete anos - lamenta a destruição das áreas verdes e poluição dos igarapés, que além de proporcionar lazer aos moradores, ainda são fonte de renda ou subsistência para muitas famílias.

"Apesar da sujeira que essas invasões levam aos igarapés, ainda tem gente que pesca para complementar a renda. Antes fazíamos trilha a cavalo nesses locais, mas hoje restam poucos igarapés limpos para o lazer e trabalho", alertou.

Omissão

Para o titular da 63ª Promotoria de Urbanismo do Ministério Público Estadual (MPE), promotor Paulo Stélio Sabbá Guimarães, o poder público só precisa cumprir a lei e ser efetivo em suas ações para manter o Tarumã como um verdadeiro refúgio, evitando que ele se transforme em mais um berço das invasões e explorações irregulares, que podem comprometer ainda mais a infraestrutura do bairro.

"As invasões decorrem, sobretudo, da falta de políticas públicas voltadas para habitações populares, destinadas às pessoas de baixa renda. Tem que haver, por um lado, um trabalho sério de repressão às invasões e, por outro lado, um plano de habitação popular", analisou.

Ele destacou que é preciso planejamento, preparando áreas para receber as pessoas que são retiradas dessas invasões. Por outro lado, disse o promotor, há ocupações feitas por gente não tão carente assim e que precisam receber a devida intervenção do poder público.

"As construções e explorações precisam da autorização da prefeitura para serem realizadas. Não havendo, estão irregulares e sujeitas à intervenção do Município. As construídas em áreas verdes e de proteção ambiental devem ser imediatamente retiradas."

Extração

Moradores do Tarumã, no entorno dos igarapés da Bolívia e do Tarumã, relataram que nos últimos dez dias máquinas como tratores e caçambas voltaram a circular pelas ruas do bairro em horários nada convencionais para serviços legalizados.

Barulhos das máquinas, intercalados por explosões, foram ouvidos por moradores até tarde da noite. Eles suspeitam que pedreiras localizadas no bairro possam estar sendo reativadas ilegalmente.




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UC:Refúgio da Vida Silvestre

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