Reserva é referência para futura receita ambiental

Valor Econômico, Especial, p. G2 - 29/03/2014
Reserva é referência para futura receita ambiental

Por Sergio Adeodato
Para o Valor, de Linhares

A conclusão de um estudo pioneiro no Brasil, que no ano passado calculou em US$ 1 bilhão o valor dos benefícios gerados à sociedade e ao meio ambiente pela reserva natural da mineradora Vale, em Linhares (ES), tornou-se referência para o entendimento dos acionistas sobre a importância de se manter financeiramente um ativo ambiental que não gera lucro e está dissociado da atividade-fim da empresa.
"O resultado foi surpreendente e poderá subsidiar futura receita no mercado de serviços ambientais, em construção no país", aponta Luiz Felipe Campos, gerente de biodiversidade e florestas.
Os valores do estudo se referem ao simples fato de aquele ambiente existir e estar protegido, e não ao uso efetivo da área. "O patrimônio guardado na Mata Atlântica, território globalmente estratégico sob o ponto de vista da conservação, é chave para a reputação e compromissos internacionais da companhia", ressalta Campos.
Regulação climática, proteção do solo, polinização, recreação e lazer foram fatores considerados na análise. "Por conta do que representa para a população, a reserva gera muito mais ganhos do que gastos", atesta Ronaldo Seroa, professor de Economia Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e um dos integrantes do estudo, elaborado em parceria com Universidade da Califórnia e a empresa Quest Inteligência de Mercado.
A maior parte dos benefícios, diz ele, não se traduz diretamente no fluxo de caixa. É intangível e, assim reconhecido, justifica a manutenção deficitária da área, ao custo R$ 7 milhões por ano e receita de R$ 880 mil com turismo, venda de mudas nativas e outras fontes de recursos.
Com 23 mil hectares, a Reserva Natural da Vale, adjacente aos 46 mil hectares da Reserva Biológica de Sooretama, compõe um mosaico de conservação numa das últimas regiões do litoral brasileiro a ser explorada para madeira, após o ciclo do ouro e do café.
A área hoje ocupada pela reserva foi adquirida pela empresa na década de 1950 com objetivo de produzir madeira a ser utilizada como dormentes na Estrada de Ferro Vitória-Minas, que serve à mineração. Vinte anos depois, diante do lento ciclo de crescimento das árvores, percebeu-se que seria mais fácil e barato comprar o material de terceiros, em vez de explorar a floresta, que acabou ganhando outras finalidades.
Aberta à visitação, a reserva tem estrutura de hotelaria e trilhas e um dos últimos remanescentes de floresta de tabuleiro, com espécies frondosas de dossel alto, como a maçaranduba, o pequi-vinagreiro e o jequitibá-rosa. Foram catalogadas quase 200 espécies da fauna ameaçadas de extinção, como as onças-pintadas monitoradas por câmeras. No centro de visitantes, um museu expõe apetrechos de caçadores e outros vestígios de atividades geradoras de impacto.
O herbário guarda 14,7 mil amostras de plantas. "São essenciais para entender a dinâmica da floresta", afirma Geovane Siqueira, o guardião da coleção, botânico autodidata que no passado trabalhava em serraria na produção de vassouras e caixas de madeira para frutas e hoje cursa o segundo ano de Biologia na universidade.
No recinto ao lado, a xiloteca armazena amostras de madeira, algumas já raras na natureza, como o jacarandá-da-Bahia e a sucupira. Parte delas é estudada em campos experimentais de cultivo de árvores, dentro da reserva, com propósito de viabilizar plantações comerciais de espécies madeireiras nativas. A castanheira, hoje de exploração proibida na mata natural, é uma das opções promissoras para os plantios, dentro de sistemas agroflorestais. "São importantes outros usos econômicos até as árvores ficarem adultas e prontas para o corte", diz Jonacir Souza, responsável pelos experimentos.
O projeto se integra ao objetivo de desenvolver a cadeia produtiva da restauração florestal que atende à demanda da mineradora e de outros empreendimentos. A recuperação de áreas degradadas é considerada chave na conservação da Mata Atlântica, negócio que hoje representa uma importante fonte de receita para a reserva, em Linhares, onde há um viveiro capaz de produzir por ano 3 milhões de mudas, rastreadas por sistemas de controle para a garantia da procedência e do êxito dos plantios.
As mudas são vendidas para a própria Vale recuperar áreas de mineração e para projetos de reflorestamento, mas a atual demanda é inferior à capacidade. A atividade deverá se expandir quando o Cadastro Ambiental Rural (CAR), previsto pelo novo Código Florestal, sair do papel e servir de base para a regularização das matas nas propriedades rurais.
A coleta e beneficiamento de sementes para o viveiro são realizados por empresa terceirizada, a Nova Floresta, crida por um ex-funcionário da reserva. Na expectativa dessas operações comerciais, entre outros fatores, a mineradora optou por não transformar a área em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), integrando-se ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
O jornalista viajou a convite da Vale


Valor Econômico, 29-31/03/2014, Especial, p. G2

UC:RPPN

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