Sapo considerado extinto reaparece

OESP, Vida, p.A17 - 11/04/2005
Sapo considerado extinto reaparece
Pesquisadores do Museu de Zoologia da USP reencontraram a espécie no interior de São Paulo
Cristina Amorim
Quem diria que um animal tão pequeno causaria tamanho espanto. Um grupo de pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) redescobriu no interior do Estado o sapinho Paratelmatobius gaigeae, de apenas alguns centímetros, considerado extinto desde a década de 1930. O trabalho em campo também rendeu a possível descoberta de duas novas espécies, um anfíbio e um réptil.
Morador da mata atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta, o P. gaigeae foi retratado seis décadas atrás pelo médico brasileiro Adolpho Lutz. Ele recolheu dois espécimes em 1931 na Fazenda do Bonito, na Serra da Bocaina, na divisa entre o Rio e São Paulo, e pintou retratos de seu dorso e da barriga vermelha. Foi com base nessas pranchas coloridas que a espécie foi descrita em 1938, mas depois os exemplares sumiram. Assim como o sapo na natureza.
A nova população foi encontrada na Estação Ecológica de Bananal, administrada pelo Instituto Florestal de São Paulo, um exemplo de mata atlântica de altitude espalhada por uma área de 884 hectares.
Desde já, a espécie é considerada ameaçada de extinção. "A estação é quase uma ilha", conta o curador da coleção de Herpetologia (que trata de anfíbios e répteis) do museu, Hussam Zaher, chefe do trabalho em campo. De um lado, existe uma área plantada de pinus quatro vezes maior do que a própria unidade de conservação, diz Zaher. Do outro, está uma região devastada primeiro pela plantação de café, depois pela exploração da madeira que alimentava como carvão a indústria siderúrgica. "Encontrar o Paratelmatobius foi uma surpresa agradável."
O pesquisador assina um artigo com sua aluna, Eleonora Aguiar, e José Pombal Jr., curador do Museu Nacional, sobre a redescoberta do sapinho para o periódico Boletim do Museu Nacional, que será publicado em breve.
Além do P. gaigeae, a equipe da USP analisa outro sapo, do gênero Hylodes, de hábitos diurnos e que se esconde em nascentes. Vinte espécies foram descritas até hoje com características morfológicas praticamente iguais - o que as diferencia é o coaxo ou, na linguagem dos cientistas, o canto. "O canto tem um fator seletivo muito importante na natureza. É como a fêmea identifica o macho", explica o herpetólogo.
Um pequeno lagarto, do gênero Placosoma, também está sob análise. A equipe desconfia que ele possa ser uma nova espécie e, para garantir, conduz atualmente um estudo genético comparando o DNA do espécime coletado em Bananal com amostras guardadas no museu, que tem o sexto maior acervo de répteis e anfíbios do mundo.
O trabalho de Zaher faz parte de um levantamento da fauna de animais vertebrados que habita a estação ecológica.
Entre as principais espécies endêmicas da mata atlântica, ou seja, encontradas apenas neste bioma, estão alguns bichos presentes na "lista vermelha" dos que estão ameaçados: sagüi-da-serra-escuro, bugio, onça-parda, cachorro-do-mato.
A equipe de Herpetologia do museu realizou cinco expedições ao local desde dezembro de 2003, com ênfase na época de chuva, quando os animais se reproduzem. Até agora, eles identificaram mais de 70 espécies. "A lista cresce cada vez mais. Há vários anfíbios e répteis que vivem lá e ainda não foram confirmados e levantamentos bem fundamentados são sempre realizados em um prazo longo", diz Zaher.

OESP, 11/04/2005, p. A17
UC:Estação Ecológica

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