Sozinhos na Ilha

FSP, Cotidiano, p. B4 - 27/03/2017
Sozinhos na Ilha

AMANDA AUDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GUARAQUEÇABA (PR)

A viagem de barco de duas horas, saindo de Paranaguá, já é suficiente para fazer da ilha de Superagui, no litoral do Paraná, uma região isolada de grandes multidões.
Ainda assim, alguns moradores do vilarejo de pescadores de 700 habitantes construíram casas em lugares ermos e pouco acessíveis dentro da ilha, que abriga um parque de 33,8 mil hectares onde predomina a mata nativa.
Quem achava que estaria na completa solidão se enganou: o isolamento atraiu curiosos, e a visita a esses habitantes, que sobrevivem principalmente da pesca, virou um programa turístico na ilha.
O parque nacional em Superagui é tombado pela Unesco e protegido pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Abriga ao menos oito espécies ameaçadas de extinção, como mico-leão-da-cara-preta e onça-parda.
A 12 km do vilarejo principal fica a casa de Rosa dos Santos, 80. Diante da quantidade de curiosos com seu isolamento, passou a alugar para camping parte do terreno da casa onde vive com o filho. Para chegar até lá, é preciso pedalar por uma hora e meia ou caminhar por três horas em uma praia deserta. É preciso ainda cruzar uma ponte móvel e andar 1 km em direção à mata.
O vizinho mais próximo está a quilômetros de distância. Rosa recebe visitas todos os dias de vários lugares do mundo, a quem ela recebe com água fresca tirada de um poço subterrâneo. Ela mora no local há cerca de 50 anos, porque seu marido, que vivia em Guaraqueçaba (cidade de pouco mais de 7.000 habitantes da qual Superagui faz parte), estressou-se em trabalhar num escritório e buscou um lugar mais tranquilo.
"Não me sinto sozinha. Acho até que hoje vejo mais gente do que antes", conta. "Esse telhado foram os turistas que colocaram. Aquela pintura ali também. Eles gostam de mim", diz ela, enumerando as melhorias feitas pelos hóspedes na casa.
No dia anterior à visita da Folha, a companhia de energia do Paraná havia instalado uma placa solar em substituição a um gerador que não durava um dia inteiro.
PAPAGAIADA
"Ouvimos muito sobre esse lugar e queremos conhecer a história dela", disse Inti de Souza, 24, que passeava de bicicleta na ilha e parou no camping para passar a noite.
Em Pinheiro, uma ilha pequena nas proximidades de Superagui que serve como dormitório de papagaios-da-cara-roxa, espécie que já foi ameaçada de extinção, vivem apenas duas famílias.
De barco, turistas veem a revoada dos papagaios no fim da tarde. Quando há tempo bom, dá para nadar até lá.
Outro morador conhecido por ali é Antônio Lopes, que já passou dos 80 anos e vive na comunidade de Barbados, acessível somente por barco.
Os turistas precisam telefonar para avisar que vão visitá-lo. Ele e a mulher preparam ostras na pedra e caranguejo com vinagrete -R$ 30, a porção de uma dúzia.
À noite, a principal atração é o bar Akdov -"vodka" ao contrário-, que, apesar do nome, serve a "cataia", tradicional bebida da região, uma cachaça curtida com folhas da planta homônima.
Para embalar, um grupo de nativos toca a música tradicional caiçara: o fandango, com viola e rabeca.
Superagui tem algumas pousadas, campings e restaurantes especializados em frutos do mar. Além da praia principal, onde fica o vilarejo, há a "praia deserta", como os nativos a chamam, com 35 km de extensão.
As vielas são de areia branca. Não há polícia nem posto de saúde. A baía é de águas tranquilas, quase sem ondas, por causa da proximidade com outras ilhas. É possível ainda avistar golfinhos.
Os preços atendem a orçamentos espartanos: pousadas cobram pela diária cerca de R$ 60. Nos campings, o valor varia entre R$ 15 e R$ 25 (pessoa). A refeição com peixe e camarão sai por R$ 35. Já a dose de "cataia" custa R$ 4.

FSP, 27/03/2017, Cotidiano, p. B4

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/03/1869987-moradores-viram-atracao-turistica-na-isolada-ilha-de-superagui-no-parana.shtml
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Superagui
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.