Tecnologia verde que se multiplica

O Globo, Razão Social, p. 20 - 08/01/2007
Tecnologia verde que se multiplica

Por Osvaldo Soares

Primeira empresa do mundo a ser inscrita no sistema de venda de créditos de carbono, previsto no Protocolo de Kioto - acordo global com o objetivo de combater o efeito estufa - a Novagerar Ecoenergia está dando frutos. Em fevereiro de 2005, a Razão Social mostrou como o primeiro programa do gênero tinha sido implantado em Nova Iguaçu. Um lixão em Vila de Cava tinha sido desativado e uma nova Central de Tratamento de Resíduos (CTR) fora criada a sete quilômetros de distância, em Adrianópolis. Antigos catadores de lixo foram treinados e aproveitados em outras funções no aterro sanitário. Desde então, a empresa levou sua tecnologia a outros pontos do estado e do país. Além disso, reforçou sua integração com a comunidade e começou uma ação de reflorestamento na Reserva Biológica do Tinguá.

O Protocolo de Kioto prevê que os países signatários reduzam as emissões de gases causadores do efeito estufa. Para cumprirem suas metas, as nações industrializadas têm a opção de investir em projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) nos países em desenvolvimento. Esse é o sistema de compra de créditos de carbono: os gases que deixam de ser lançados na atmosfera num país vão entrar na conta de outro para que ele atinja sua meta.

No caso da Novagerar, os créditos foram vendidos até 2012 a um fundo do governo da Holanda gerido pelo Banco Mundial. O valor é de 5,5 euros por tonelada. A estimativa é de que o total de toneladas chegue a 12,5 milhões. Esse número, no entanto, poderá mudar: são feitas avaliações periódicas e auditorias.

Além disso, a empresa está esperando, para este mês, a chegada de um novo equipamento para complementar a sua usina de gás. Adriana Felipetto, diretora da Novagerar, diz que o chamado biogás, resultante do lixo, é usado para desidratar o chorume, líquido produzido pelos detritos. No entanto, uma parte ainda fica sem uso.

- O que está chegando é justamente um equipamento, chamado flare, para queimar de forma eficientíssima o excedente desse gás e não lançá-lo na atmosfera. Assim, as emissões serão praticamente nulas - diz Adriana.

Ela destaca que o processo utilizado na CTR garante três benefícios ambientais: trata o chorume; usa energia verde e renovável, não fóssil; e impede o gás de ir para a atmosfera e gerar o efeito estufa. Segundo a diretora, o biogás contém cerca de 60% de metano, 21 vezes mais danoso que o gás carbônico.
A tecnologia já começa a se espalhar. Além de ganhar uma concessão para recuperar um lixão e desenvolver uma central modelo em São Gonçalo, a Novagerar está implantando uma CTR em Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife. A empresa recebeu ainda uma concessão para executar o mesmo programa em Petrolina, também em Pernambuco.

Além disso, começou a desenvolver projetos de MDL para outras empresas.

A Novagerar está fazendo para a Alcoa, por exemplo, um estudo de viabilidade de venda de créditos de carbono de um aterro em Poços de Caldas (MG).

Voltando a Nova Iguaçu, a empresa começou a executar, no mês passado, um projeto de reflorestamento na Reserva Biológica do Tinguá. Numa parceria com o Ibama, serão plantadas 150 mil mudas, numa área de cerca de 30 hectares. As mudas usadas são as produzidas na Novagerar, em boa parte por ex-catadores de lixo da região, que foram treinados para fazer o trabalho de reflorestamento e incorporados ao quadro da empresa. É o caso de Sérgio Rodrigues Ribeiro, de 29 anos, que foi catador no Lixão da Marambaia, em Vila de Cava, e há quatro anos é contratado como auxiliar de meio ambiente. Com o salário, ele está construindo uma casa:
- Antigamente eu andava cheirando a lixo. Agora eu ando limpo, trabalho com segurança e tenho carteira assinada. Meu sonho atual é ter um carro. Se a gente trabalha, tudo é possível.

Graças a outro convênio, dessa vez com a prefeitura de Nova Iguaçu, a Novagerar confeccionou cartilhas sobre educação ambiental para serem distribuídas em 98 escolas da rede municipal, dando ainda treinamento a professores e coordenadores. Além disso, num auditório na CTR, onde também há aulas de alfabetização, são ministrados cursos de capacitação para a comunidade, como técnicas de confecção de mobiliário em PET.

O Globo, 08/01/2007, Razão Social, p. 20
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