Tremores em Minas ameaçam patrimônio

OESP, Metrópole, p. C6 - 17/12/2007
Tremores em Minas ameaçam patrimônio
Abalo que destruiu Caraíbas pode ter afetado conjunto de grutas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

Eduardo Kattah

Os abalos sísmicos que desde maio atingem a região norte de Minas ameaçam a integridade do importante conjunto espeleológico de um patrimônio científico, natural e cultural do País. Localizado numa área de 56,6 mil hectares, abrangendo os municípios de Itacarambi, Januária e São João das Missões, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu fica próximo do epicentro do terremoto que arrasou Caraíbas há oito dias.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai avaliar nos próximos dias se o tremor de 4,9 pontos na escala Richter - que destruiu casas e provocou a morte de uma criança de 5 anos - causou danos nas grutas e formações rochosas. "Não temos ainda esses dados, mas vamos averiguar", disse o responsável pelas unidades de conservação do órgão em Minas, Eduardo Junqueira.

Embora tenha sido criado em 1999, o parque nacional ainda não foi aberto para visitação, por falta de infra-estrutura. Mas a unidade é palco de diversos estudos. "O terremoto pode ter tido impacto sobre a estrutura das cavernas, principalmente nas entradas e saídas. São as zonas de ventilação máxima", diz o geomorfólogo Joel Rodet, professor da Universidade de Rouen, na França, e especialista no tipo de terreno da região de Peruaçu.

No dia 24 de maio, quando foi registrado um tremor de 3,5 pontos, Rodet estava com uma equipe de pesquisa na Lapa do Carlúcio. A geógrafa Isabel Mascarenhas, de 28 anos, sentiu a caverna ser sacudida pelo terremoto. "De repente, tudo começou a tremer forte e com muito barulho. Achávamos que havia ocorrido um abatimento (quando um grande pedaço de rocha despenca no interior das grutas)", lembra. "Ficamos assustados, mas voltamos ao trabalho. Depois, ficamos sabendo do terremoto."

Segundo o analista ambiental do Peruaçu Flávio Túlio Gomes, após o evento inicial foram feitas incursões nas cavernas que não identificaram avarias significativas. "Mas esse último teve proporções muito maiores." Para ele, os danos podem estar concentrados nas partes mais profundas.

O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) registrou centenas de sismos no pós-abalo - e esses podem estender-se por meses ou até anos. O diretor do Observatório, Lucas Vieira Barros, concorda que a proximidade com o centro da falha geológica coloca em risco as formações. "Vamos fazer um levantamento geofísico para saber onde estão essas grutas e a profundidade."

A preocupação é quanto ao possível comprometimento de pesquisas já iniciadas. Segundo Isabel, o Vale do Peruaçu abriga "um dos patrimônios espeleológicos e arqueológicos mais notáveis do mundo". São cerca de 180 grutas (6% das cavidades cadastradas no Brasil) em um conjunto natural que inclui o cânion e sítios arqueológicos com vestígios de 11 mil anos atrás. O vale é referência da presença humana na América do Sul e pesquisadores da Universidade Federal de Minas (UFMG) já localizaram diversos esqueletos na região.


Arqueóloga tem medo, mas quer voltar às cavernas

Eduardo Kattah

Há 12 anos, Sueli Aparecida Pereira, de 40, trocou Belo Horizonte por um "pedacinho" do paraíso. Vive numa casa simples na entrada do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A arqueóloga passou a dedicar-se integralmente ao trabalho de campo e está ansiosa por retornar às cavernas e avaliar o impacto do abalo. "Estou doida para fazer esse levantamento, mas também estou morrendo de medo."

OESP, 17/12/2007, Metrópole, p. C6
UC:Parque

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