Turismo sustentável aliado à preservação ambiental

Diário do Nordeste - http://diariodonordeste.globo.com - 18/10/2010
O Ceará é a "Terra do Sol", tem 573km de frente para o mar, e em mais de 100 comunidades que margeiam as praias existem várias formas de receber turistas, que alguns gostam de resumir a "visitantes". E visita tem que ser bem recebida. Os povos do mar, que antes eram figurantes nos cenários dos cartões postais, são agora os anfitriões do lugar em que vivem. Tem aumentado o número de empreendimentos turísticos organizados pelos próprios moradores, com o diferencial de oferecer trilhas ecológicas e manejo sustentável do bom divertimento. Entra em cena o turismo comunitário.

Em Camocim, na Zona Norte do Estado, tem uma comunidade que movimenta suas casas de acordo com o movimento das dunas, que não param de se mexer. Têm lagos com coqueiros e carnaubais, vento suficiente para fechar os olhos e pensar que voa, ou então praticar parapente e kitesurf. Tem um braço de mar com banho de água doce. E mais dunas. Duas vezes ao dia, Tatajuba é ilhada pelas águas da maré cheia. Tem um morro que dá uma dimensão de 360 graus da paisagem. O sol também se põe lá. Enquanto resiste à especulação imobiliária para o turismo de luxo, as famílias se reúnem na Associação Comunitária de Moradores da Tatajuba (Acomota) e organizam o roteiro turístico. O guia André Higino, de 25 anos, casado, sustenta a família mostrando a beleza de onde mora. Quando o carro quer encalhar na areia, André indica, numa estrada no início da duna, o exato ponto de travessia.

Do lado da Tatajuba tem uma lagoa azul que se forma de um braço de mar. É a Lagoa da Torta. O vento não falta para os praticantes do kitesurf. O morador Rafael de Carvalho, filho de pescador, é o professor. No ponto da lagoa que emenda com uma duna tem uma tirolesa, para alegria da meninada, inclusive da Tatajuba. Nessa comunidade, os "nativos" também recebem o mesmo atendimento que os turistas.

Já em Aquiraz, litoral leste do Estado, está situada a primeira Reserva Extrativista do Ceará (Resex). É a comunidade do Batoque, que possui unidade de conservação e se caracteriza pelo turismo agroecológico. Cerca de 320 famílias vivem à beira-mar, vivendo, principalmente, da pesca. Os moradores, hoje empreendedores do turismo, foram capacitados para atuarem no ramo, e levam os turistas a um passeio pelas lagoas, manguezais, riachos e um delicioso almoço na beira da lagoa ou da praia. Há dois meses foi inaugurada a Pousada Comunitária Marisol, com quartos tematizados simbolizando a renda, os búzios e a pesca. "É uma forma de a gente manter a terra da gente, de que as pessoas não queiram sair daqui, porque é nosso lar, não dos especuladores que querem tomar as terras só pra lucrar com a beleza da nossa casa", afirma Raimundo Tibúrcio, responsável pela pousada.

Em Aquiraz também tem outra lagoa. Não é muito azul, mas é encantada. Contam os moradores mais antigos que um índio pescador viu um peixão lindo e dourado, lançou o arpão, mas o peixe ferido fugiu. Noutro momento o índio foi abordado por uma linda mulher, que o levou para o fundo do lago. "Eu trouxe você para salvar meu pai", disse a linda princesa. Tirado o arpão, desfeita a tragédia, o pescador fez um passeio por um paraíso, cheio de plantas, animais de toda espécie. A história atravessou séculos, foi contada pelo pai e hoje pela própria Cacique Pequena, a primeira cacique mulher do Brasil, da etnia jenipapo-kanindé, em Aquiraz. "Quase toda semana recebemos turista, pesquisador, estudante, que vêm num ônibus enorme. A gente trata todos com carinho".

Entre Fortim e Beberibe existe uma comunidade que pratica a agroecologia. Os moradores do Assentamento Coqueirinho desenvolvem sistemas agroflorestais, apiário, banco de sementes. Com a mesma experiência ecossustentável atua a Prainha do Canto Verde, conhecida internacionalmente.

MOBILIZAÇÃO

Rede articula comunidades

Fortaleza Para ajudar as comunidades na mobilização pelo turismo sustentável, respeitando as singularidades culturais e a identidade territorial, uma rede de solidariedade tem feito sucesso, na realização de oficinas de capacitação e definição de estratégias para o desenvolvimento das comunidades. A Rede Cearense de Turismo Comunitário (Tucum) promove os lugares mencionados nesta reportagem e vários outros dos litorais leste e oeste do Estado.

A Rede trabalha com dez comunidades costeiras, entre indígenas, pescadores e moradores de assentamentos rurais. Apoiam a ideia do Instituto Terramar e a Associação Tremembé, esta originada na Itália. "Oferecemos um turismo que é sustentável, não agride o meio ambiente nem as comunidades que moram lá. A atividade é deles, o benefício é todo deles, e é uma forma de se manterem na própria terra", defende Mônica Bonadiman, uma das articuladoras da Tucum.

Essa proposta de turismo se diferencia do turismo convencional, que dá como exemplo a Praia de Canoa Quebrada, em Aracati. "O turismo predatório acontece a cada dia em muitas comunidades. Tem empresários grandes e médios que usam metodologias muitas vezes pouco legais e se apropriam das terras da comunidades para implementar empreendimentos turísticos. Por isso existe a luta das comunidades ", pontua. (MJ)

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=869106
UC:Reserva Extrativista

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Batoque
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.