Esgoto polui maior lagoa salgada do mundo

FSP, Cotidiano, C7 - 28/05/2006
Esgoto polui maior lagoa salgada do mundo

Mario Hugo Monken
Enviado especial à Região dos Lagos

Maior complexo lagunar de água salgada do mundo e um dos pólos turísticos do litoral fluminense, a lagoa de Araruama (Região dos Lagos) "está na UTI", dizem ambientalistas. A lagoa recebe entre 800 e 1.000 litros de esgoto por segundo, e só 50% são tratados.
A água tem levado quase um ano para se renovar, o que causa o desaparecimento de peixes e de outras espécies. Para piorar, a ocupação desordenada intensifica o assoreamento da lagoa, que passou a correr risco de, daqui a algumas décadas, ser dividida em outras sete.
Com 220 km2 de extensão, a lagoa de Araruama banha seis cidades: Araruama, Saquarema, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo e Cabo Frio. Vivem na área 300 mil pessoas -no verão esse número triplica com o turismo.
Um de seus principais defensores, Arnaldo Villa Nova, 62, presidente da ONG Viva Lagoa, disse que a situação era ainda pior no ano passado, quando nada do esgoto era tratado.
Segundo ele, só em 2005 as duas empresas privadas responsáveis pelo abastecimento de água e saneamento da região- a Prolagos e a Águas de Juturnaíba- colocaram em funcionamento três estações de tratamento de esgoto, apesar de operarem desde 1998.
Valas negras
Pelo menos 150 manilhas ou valas jogam esgoto sem tratamento na lagoa, formando as línguas negras nas praias. A falta de oxigenação é um dos fatores mais preocupantes. Com o assoreamento do canal de Itajuru, em Cabo Frio, única ligação entre a lagoa e o oceano Atlântico, a água demora quase um ano para ser renovada.
O problema está longe de ser resolvido. Em 2003, foi instalada no canal uma draga para retirar detritos. Entretanto, segundo Villa Nova, o trabalho é sempre interrompido por falta de recursos. Hoje está parado.
A poluição prejudica a pesca Camarões, por exemplo, não apareciam na lagoa havia 20 anos. "Antigamente, pescávamos por mês de 4.000 a 5.000 toneladas de camarão por mês. No ano passado, conseguimos de 30 kg a 40 kg. Hoje, só dá tainha", declarou o pescador Paulo Roberto de Souza, 52.
Outro problema citado pelos ambientalistas é que as estações de tratamento seguem atirando alta quantidade de nitrogênio e fósforo, o que favorece a proliferação de algas.
A vida na lagoa também está sendo comprometida por invasões e ocupação desordenada na região da APA (área de proteção ambiental) em Praia Seca, distrito de Araruama.
Sem fiscalização, casas e barracos foram erguidos no manguezal e destruíram uma parte da vegetação que servia como um cinturão para evitar a entrada de sedimentos e de areia das dunas na água. Se isso continuar, afirmam os ambientalistas, a lagoa poderá se dividir em várias partes.

Outro lado
Nível melhora até o final do ano, diz Estado

Do enviado à Região doa Lagos

O governo do Rio diz que concluirá em dois meses o alargamento do canal de Itajuru para permitir a troca de água da lagoa com o mar em até 60 dias. Segundo o Estado, com a obra, o canal irá de 40 m de largura para 270 m.
Diz também que gastou R$ 15 milhões em uma nova draga. Com isso, estima que toda a lagoa esteja recuperada até o fim do ano.
A Prolagos diz que ainda não concluiu as estações de tratamento e que priorizou a ampliação da rede. A Folha não localizou a Águas de Juturnaíba.

FSP, 28/05/2006, Cotidiano, C7
Recursos Hídricos:Poluição

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