Fêmea de gavião-real é reintroduzida na natureza após 12 anos de cativeiro

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 20/08/2009
Analistas ambientais do Parque Nacional do Pau Brasil, em Porto Seguro, na Bahia, acompanharam na terça-feira (18) a soltura na natureza de uma fêmea de harpia, também conhecida como gavião real ou uiraçu-verdadeiro (Harpia harpyja), maior ave de rapina das Américas. A fêmea estava desde 1997 num viveiro construído especialmente para ela na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel, no entorno do parque. Agora, as mais altas árvores do remanescente de Mata Atlântica no extremo sul baiano voltam a ser a sua morada.

A soltura ocorreu muito rapidamente. Em seis minutos, a fêmea saiu da caixa em que foi transportada e alçou o voo em meio à natureza. O tratador Alexandro Ribeiro Dias, da Equilíbrio Proteção Florestal, empresa parceira do projeto, foi quem abriu o recipiente para dar liberdade à ave. Durante seis anos, ele foi o único responsável pelo trato e alimentação da harpia.

Este é o primeiro caso no mundo, segundo os responsáveis pelo procedimento, de reintrodução na natureza de um gavião real após ficar mais de dez anos em cativeiro. A ave fará companhia a outra harpia, solta em maio de 2008 na mesma região e a primeira adulta monitorada por satélite no Brasil. Dias atrás, ela foi fotografada nos limites do parque. A fêmea recém liberada é o segundo adulto da espécie observado por satélite. Antes de ganhar a mata, ela recebeu uma anilha com radiotransmissor de 125 gramas, passando a ser monitorada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

SIMULADOR - A pesquisadora Tânia Sanaiotti, do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), e coordenadora do Projeto Harpia na Mata Atlântica, que é mantido pela empresa Veracel Celulose, explica que foi instalado no mês passado um simulador com o mesmo peso para a ave se adaptar. "A mochila que carrega o radiotransmissor não causou nenhum dano à ela. Isso nunca tinha sido avaliado por outro pesquisador no mundo," revela.

No domingo passado (16), a coordenadora e todos os parceiros do projeto se reuniram para fazer a última avaliação do animal antes da liberação. Mas para concluir esse processo foram necessários longos estudos, observações e adaptações, incluindo isolamento total da ave, que no início podia ser vista por visitantes. Depois disso, chegou-se à conclusão de que ela estava pronta para voltar à velha casa.

O veredicto se deu em março deste ano quando o pesquisador Roberto Azeredo, presidente da Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Crax) esteve na Estação Veracel para avaliar o pássaro gigante. Ele ficou impressionado com tudo que estava sendo feito e afirmou que a ave estava pronta para a soltura.

O local escolhido, como relata Tânia Sanaiotti, é uma área conservada pela empresa Veracel Celulose no entorno do Parque Nacional do Pau-Brasil, considerado um dos maiores símbolos de resistência da Mata Atlântica brasileira. Os especialistas que acompanharam o processo garantem que a região é muito favorável para receber um animal no topo da cadeia alimentar como o gavião-real. Para eles, essa característica faz da ave importante bioindicador de equilíbrio ambiental.

HISTÓRICO - A história do animal começou a mudar quando o dono de uma fazenda nas proximidades do parque nacional, o senhor Eloísio Sabadini, encontrou a ave bastante debilitada e a entregou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os técnicos da autarquia federal, então, levaram-na para Estação Veracel. E, desde 2004, uma equipe de pesquisadores vinha trabalhando para que ela pudesse voltar à natureza. Surgiu aí a iniciativa chamada Projeto Harpia na Mata Atlântica.

Em 2007 passaram a integrar o projeto o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a ONG SOS Falconiformes, o Inpa, Associação Brasileira dos Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina (ABFPAR) e o Inpe. Essa iniciativa é um dos subprojetos do Programa de Conservação do Gavião-real, também coordenado pela pesquisadora Tânia Sanaiotti. O programa começou há mais de dez anos na região amazônica e tem como objetivo principal a conservação da espécie no Brasil.

VERACEL - A RPPN Estação Veracel foi criada há dez anos. São 6.069 hectares de mata nativa preservados, entre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro. Até o momento já foram registrados na reserva cerca de 445 espécies de animais vertebrados, das quais 37 ameaçadas de extinção e 54 endêmicas da Mata Atlântica do sul da Bahia.

Na área, já foram vistos grandes mamíferos, como onça-parda, jaguatirica, veado-mateiro e anta. Além de aves como a harpia, o macuco, o beija-flor balança-rabo-canela e o papagaio chauá, espécie ameaçada de extinção.
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