Fontes do Parque da Tijuca estão contaminadas

O Globo, Rio, p. 25 - 10/06/2006
Fontes do Parque da Tijuca estão contaminadas
Estudo da UFRJ revela que água só é potável em apenas duas das 62 bicas analisadas em toda a unidade

O Rio de Janeiro está praticamente seco de água pura da montanha. As fontes do Parque Nacional da Tijuca, historicamente usadas pelos cariocas, estão contaminadas. Um estudo do Laboratório do Desenvolvimento Analítico (Lada) do Instituto de Química da UFRJ revelou que apenas duas das 62 bicas analisadas na unidade de conservação têm águas próprias para o consumo humano. Em todas as outras foram encontrados coliformes fecais.
O coordenador do Lada, Delmo Santiago Vaitsman, explicou que o estudo, concluído este ano com recursos do Programa Petrobras Ambiental, usou como parâmetro a portaria 518 do Ministério de Saúde, que determina que a água potável não tenha qualquer traço de coliforme fecal. A análise, por isso, restringiu-se à presença ou à ausência do organismo potencialmente patológico.

Cariocas ainda enchem garrafas em fontes
Até maio deste ano foram realizadas 369 coletas em 62 fontes localizadas em todo o parque - inclusive as áreas mais freqüentadas, como Floresta da Tijuca e Estrada das Paineiras - e nas comunidades Camarista Méier, da Covanca, da Fazenda e Agrícola, no entorno da unidade.
A contaminação ameaça o velho hábito do carioca de coletar em garrafões água potável das fontes. Neuza Vitorino da Silva, de 56 anos, vendedora de uma loja de suvenires em frente à Fonte dos Taunay, na Floresta da Tijuca, diz que até pouco tempo atrás matava ali a sede.
- Sempre bebi dessa água. Parei porque ultimamente andam dizendo que está contaminada. Mesmo assim, algumas pessoas insistem e ainda vêm aqui encher garrafas para levar para casa. Acham a água especial, por ser da floresta - disse Neuza, moradora do Alto da Boa Vista.
Vaitsman explicou que o estudo, realizado em parceria com o Parque Nacional da Tijuca e com o Instituto Terrazul, é o segundo do gênero na área. O primeiro identificou também a quantidade de coliformes fecais existentes. Em alguns casos, como na fonte do Açude da Solidão, a contaminação tornaria a água imprópria até para o banho. O local, no entanto, não é usado para esse fim. O feirante Tadeu Alves, de 45 anos, vizinho do parque, não ficou surpreso com a poluição.
- Quando quero matar a sede, vou à nascente. Da água que desce para o açude eu não bebo. Não parece estar contaminada, mas, como passa por habitações antes de chegar aqui, chega suja - disse ele, referindo-se às casas existentes na Floresta da Tijuca.
Das 62 fontes pesquisadas, duas ainda satisfazem o carioca sedento por água pura: uma na via principal da Floresta da Tijuca, poucos metros depois da marcação de mil metros na ciclovia, e outra na Estrada das Paineiras, cerca de 300 metros depois do Hotel Paineiras, na encosta. O analista ambiental do parque Henrique Zaluar, consumidor das duas fontes, explica que a água, antes de sair na bica da Floresta da Tijuca, passa por dentro da rocha e do solo:
- É uma espécie de filtro natural, que aumenta as chances de pureza. Além disso, acima das duas fontes de água potável identificadas provavelmente não há qualquer habitação que lance efluentes.
A partir das análises, o Instituto de Química, em parceria com o Parque da Tijuca, vai desenvolver ações de recuperação ambiental. Vaitsman explicou que 28 fontes mais importantes para a unidade sofrerão intervenções para melhorar a qualidade da água:
- Vamos instalar sistemas de filtros simplificados e buscar outras maneiras de descontaminar a água sem afetar o meio ambiente. Essas ações têm por objetivo tornar potáveis pelo menos 15 fontes.
Projeto pode ser repetido em outras unidades
A diretora do parque, Sônia Peixoto, disse que o monitoramento faz parte do Projeto Água em Unidades de Conservação, um programa amplo de recuperação ambiental que receberá ao todo investimentos de R$3 milhões da Petrobras:
- Além do monitoramento da água, investiremos nas seguintes linhas de ação: reflorestamento e manejo; regularização da cobrança de uso dos recursos hídricos do parque; educação ambiental e criação de um conselho consultivo. Queremos recuperar a qualidade da água. Se o projeto der certo, será repetido em outras unidades de conservação.

O Globo, 10/06/2006, Rio, p. 25
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