O Parque Estadual do Sítio Fundão será ampliado em cerca de 30 hectares e terá o engenho de madeira, único na região, recuperado, após a homologação do processo de tombamento. De acordo com o Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), o projeto arquitetônico para a reconstrução do engenho à tração animal já está pronto e deverá começar a recuperação nos próximos dias de julho.
Segundo o articulador do Conpam, Wilton Soares, quando o parque foi criado em 2007, já havia o pedido de tombamento do engenho e da área da barragem. Por conta dos trâmites legais, a reforma emperrou e havia a preocupação de ser destruído pela ação do tempo, como vinha ocorrendo.
"E essa era a nossa grande preocupação, porque não há informação de outro sítio com essas características no Cariri", diz o neto de Jefferson da Franca, que foi proprietário da área de preservação, Ed Alencar.
De acordo com o técnico do Conpam, a expectativa é que ainda neste mês o projeto de recuperação seja iniciado.
Quanto à ampliação da área do sítio, que era 97 hectares, ele afirma que com a área da poligonal, passará a 111 hectares, mais cerca de 20 hectares cedidos da área da Companhia de Desenvolvimento do Ceará (Codece), remanescente da demarcação de uma área de expansão industrial e que será incorporada ao Fundão.
Luta
A unidade estadual de proteção integral faz parte de uma luta pela preservação ambiental que se tornou referência na região do Cariri, pelo seu nível de importância. A meta é que a área tenha uma gestão compartilhada com instituições na área ambiental. Na semana de meio ambiente, foram firmados convênio de cooperação técnica com a Universidade Regional do Cariri (Urca), e também com o Ibdvama, organização não governamental em Crato, voltada para a preservação da fauna e da flora regionais.
A unidade de preservação está inserida dentro do Geopark Araripe, no Geossítio Batateiras. O projeto de recuperação dos principais equipamentos, segundo o técnico do Conpam, foi aprovado pelo governo do Estado, por meio do órgão. O Parque Estadual tem a única casa de taipa construída com um primeiro andar na região. O que mais impressiona as pessoas é o seu estado de conservação.
A luta da família, segundo Ed Alencar, tem sido preservar a memória do ambientalista Jefferson da Franca Alencar. A área foi repassada para o Estado com esse objetivo e comemora a ampliação do espaço. Ele conta que a barragem foi construída por escravos em 1877.
Segundo Ed Alencar, o engenho de tração animal chegou à região por volta de 1633. Por conta disso, não se sabe a data exata de quando chegou à região e nem muito menos quando foi construído o do Fundão.
"Um dos maiores temores da família era de que essa história se perdesse", diz ele. Conforme cálculos de familiares, a última moagem do engenho puxado à tração animal, e normalmente utilizavam bovinos para essa finalidade, aconteceu no início da década de 50.
A dificuldade, conforme Ed Alencar, era juntar os bois para ficar na tração e o dono da propriedade normalmente tomava o gado emprestado. "A jornada era longa", ressalta.
A casa em primeiro andar de taipa foi construída também nos anos 50 e o objetivo de Jefferson da Franca era não apenas ficar no primeiro andar, mas construir dois andares, o que não chegou a realizar.
Sonho
Os problemas de saúde enfrentados pelo ecologista impediram o seu sonho. "Mas a luta pela preservação continua", afirma Ed Alencar. Criado através do Decreto Estadual no 29.179 de 8 de fevereiro de 2008, no município do Crato, região do Cariri, o local é caracterizado como Unidade de Conservação de Proteção Integral. O Sítio Fundão faz parte do Geopark Araripe, que é uma outra ação de preservação ambiental do contexto geológico e paleontológico da bacia sedimentar do Araripe.
O local passou a ser uma das grandes referências para a cidade do Crato de conservação do meio ambiente. Palco de vários protestos em prol de sua conservação, não apenas ambiental, mas histórica, o Sítio Fundão também poderá passar a ser um centro de visitação. Ed Alencar defende a importância de desenvolver e incrementar na área o turismo sustentável.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1284892
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