Com apoio do projeto Pacto das Águas, qualidade do produto e gestão da produção,
populações recebem valor justo pela amêndoa.
Há exatos dez anos, o extrativismo de produtos da floresta não era visto como alternativa econômica para muitas comunidades indígenas e extrativistas da Amazônia, sobretudo no Noroeste de Mato Grosso e Sudeste de Rondônia, onde o preço pago pelo quilo da castanha-do-Brasil oscilava entre R$ 0,50 e R$ 1,00. A falta de projetos na região, investimentos públicos e políticas para o setor impediam o crescimento da atividade, ficando as populações expostas ao aliciamento de atravessadores, também conhecidos como marreteiros, ou por exploradores clandestinos de madeira e garimpo.
Atualmente, essa mesma região é reconhecida como uma das que mais tem avançado na qualidade do extrativismo. Parte desse fruto é resultado de ações governamentais em nível federal e estadual, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e por projetos desenvolvidos nesta porção da Amazônia. Um desses projetos é o Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental.
Em números, a iniciativa apoiou a proteção de 880 mil hectares na Amazônia meridional, envolvendo diretamente 2.500 pessoas com atividades de manejo florestal comunitário. Elas produziram entre 2003 e 2013 cerca de 1500 toneladas de castanha-do-Brasil e 90 toneladas de látex de seringueira nativa. "Isso representa algo em torno de R$ 4,5 milhões às comunidades, se pautando como uma eficiente alternativa de desenvolvimento regional", explica Plácido Costa, coordenador técnico do projeto.
Trabalhando com o povo indígena Zoró, no sudeste de Rondônia, Rikbatksta e moradores da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, no Noroeste de Mato Grosso, o Pacto das Águas investiu em capacitações, infraestrutura e apoio na busca de mercados institucionais e parceiros comerciais. Essas ações permitiram, por exemplo, que esses povos saltassem de uma produção de pouco mais de 30 toneladas de castanha-do-Brasil em 2003 para mais de 200 toneladas na última safra. O valor do preço pago também cresceu. Os produtores de castanha Rikbaktsa da Resex recebem em média três reais para cada quilo da amêndoa, valor dez vezes maior que há dez anos.
A Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ) comercializa a sua castanha dry até R$ 4,00 reais, pagando até R$ 2,75 pela castanha aos coletores. Essa diferença é utilizada para cobrir os custos de produção como uso do secador rotativo, armazenamento e transporte. Durante a safra de castanha, um indígena ou extrativista pode receber até cinco mil reais por dez dias de trabalho.
Na última safra de castanha dos Zoró, foram produzidas mais de 60 toneladas, tendo como principais compradores empresas da região. A amêndoa, produzida por meio de boas práticas de seleção e armazenamento, incluindo a utilização de secador rotativo, que aumenta a durabilidade do fruto, atrai empresas interessadas em pagar mais por um produto de melhor qualidade. "Está sendo uma grande oportunidade para o povo Zoró estar vivendo da floresta em pé, todo mundo ganhando sem destruir o meio ambiente", esclarece o indígena da etnia Zoró, Amauri Tipiabi.
Além de toda essa infraestrutura, técnicos do projeto Pacto das Águas auxiliam na elaboração e gestão de projetos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do governo federal. "Com estes projetos, a Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz) pode pagar um preço justo e à vista aos indígenas e armazenar a produção até o momento da venda", explica Sávio Gomes, técnico do projeto. Para a associação é estratégico segurar a venda de parte da produção no momento da safra, que acontece geralmente entre os meses de dezembro a fevereiro e vender em períodos de entressafra, quando a oferta diminui e o valor da castanha aumenta consideravelmente.
Os seringueiros da Resex Guariba-Roosevelt também apostaram na assessoria do projeto Pacto das Águas e conseguiram acessar recursos da Conab para formação de estoque, pagando a produção, de cerca de 60 toneladas à vista aos extrativistas, que conseguiram uma renda adicional de até oito mil reais durante a safra. Com os recursos obtidos pela diferença do preço pago aos extrativistas e os valores vendidos a compradores, as associações puderam subsidiar a produção da seringa, outra importante fonte de renda destes povos e comunidades.
"Antes a gente não conseguia vendar a seringa e agora as pessoas ficam na comunidade e isso é muito importante", comenta Ailton dos Santos, presidente da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba (AMORARR). "Agora, o seringueiro sai de manhã para cortar seringa e à tarde está em casa, com a castanha é a mesma coisa", complementa.
http://www.pactodasaguas.org.br/?mod=67
PIB:Oeste do Mato Grosso
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