Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Sua criação visa a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. As populações que vivem nessas unidades possuem contrato de concessão de direito real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e com o disposto no plano de manejo da unidade. A pesquisa é permitida e incentivada, desde que haja prévia autorização do Instituto Chico Mendes.
BIOMA: Marinho Costeiro
ÁREA: 89.596,75 hectares
DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO: Dec s/no de 21 de setembro de 2000
Tipo: uso sustentável
Plano de manejo: não há.
Caderno de Anotações
É incrível a capacidade do litoral brasileiro nos surpreender. Apesar de navegar há mais de 40 anos, eu nunca tinha visitado todo o extremo sul da Bahia. Normalmente meu roteiro de passagem ao Nordeste é, Vitória- Abrolhos- Porto Seguro. Com isso deixava de lado este trecho formado pelos municípios de Mucuri, Nova Viçosa, Caravelas (este eu já conhecia), Alcobaça, Prado, Cumuruxatiba, Corumbau e Caraíva.
Finalmente a hora chegou. Nesta nova série que me propus a fazer, registrando todas as Unidades de Conservação federais marinhas, estava prevista a visita à Resex de Corumbau que engloba áreas que vão de Prado até Porto Seguro. Fiquei impressionado com a beleza deste pedaço do litoral baiano apesar dos estragos já causados pela especulação imobiliária e pelo reflorescimento com eucaliptos. Como mencionei no post sobre Canavieiras, a Mata Atlântica baiana, a mais rica da costa brasileira, foi para o saco. Como esta parte da costa é ingrata para barcos de grande calado, deixei o Mar Sem Fim em Salvador e fiz o roteiro de carro. Impressionante: só se vê plantações de eucalipto, pastos, e um ou outro tufo de Mata Atlântica. É um disparate o que as empresas Veracel, e Fíbria (Grupo Votorantim), têm feito. Não sobrou praticamente nada da espetacular mata original. Mais impressionante ainda é o conformismo baiano. Poucas vezes vejo denúncias deste descalabro na imprensa. Mas o pior é a cara de pau de uma delas, no caso a Fíbria, cujo site apregoa em sua Missão, Visão e Valores:
"Acreditamos em relações construtivas baseadas em laços de parceria e confiança, com compromisso e respeito."
"Somos movidos pela energia vital, garra e paixão para viabilizar produtos essenciais para a qualidade de vida, saúde, educação e cultura."
"Buscamos o lucro reconhecido e admirado, que gere benefícios para todos a partir de recursos utilizados de forma sustentável."
Notem o ..."que gere benefícios para todos a partir de recursos utilizados de forma sustentável". Recursos utilizados de forma sustentável? Onde? É impressionante como o Brasil, aos poucos, está se tornando o país da mentira, do engodo e da tapeação. A quantidade de empresas que se dizem sustentáveis, verdes, ecológicas, e que destroem o meio ambiente sem dó nem piedade é brutal. É uma vergonha para os brasileiros honestos. Neste país, da Presidente da República, ao ex- presidente, passando pelos 'mais notáveis' políticos, entre eles os Presidentes do Senado e da Câmera, são todos mentirosos contumazes. E ladrões!
Ainda assim, o contorno da costa no extremo sul da Bahia é espetacular. Praias lindas, cortadas por diversos rios que deságuam no mar, corais à beira da praia, e uma cor da água do mar que rivaliza com a de Alagoas, para mim uma das mais belas da costa brasileira.
Os mesmos problemas de sempre
Esta Unidade de Conservação tem os mesmos problemas de todas as outras, ou seja, uma equipe mínima, incapaz de cumprir seus objetivos, além de outra ainda pior: 90% da área é formada pelo mar, os 'terrenos de marinha' o que dificulta sua regularização. Seis comunidades fazem parte da resex que se estende de Prado até Porto Seguro (ela termina na praia do Espelho), e isso, de acordo com o chefe Ronaldo Oliveira, é outro problema: as famílias inscritas estão espalhadas umas das outras dificultando sua união. Para finalizar, o forte em toda a resex é a pesca. Não há extração de caranguejos, ou maricultura. Por tudo isso ela só se justifica, em minha opinião, pelo que já disse em outros textos sobre este tipo de Unidade: se há pesca, melhor ordena-la já que proibir é impossível.
A pesca no mundo está condenada. Ela tem sido praticada por milênios, desde que o homem deixou de ser caçador- coletor, 7.500 anos atrás. Os problemas, entretanto, começaram depois da Segunda Grande Guerra que produziu extraordinários avanços na tecnologia. Ao término do conflito estas inovações passaram a ter uso civil. De uma hora para outra a quantidade de peixes retirados dos oceanos atingiu níveis extratosféricos.
Alguns dados: em 1950 a produção mundial de pescado foi de 19 milhões de toneladas. Em 2013 a cifra atingiu 160 milhões de toneladas (incluindo a aquicultura, dados da FAO). Um salto espetacular. Por ano a fauna acompanhante (peixes não visados, devolvidos ao mar, mortos) é de 20 milhões de toneladas. Ainda, segundo a FAO, a frota pesqueira mundial é 40% maior que os oceanos podem suportar. E os subsídios à pesca, contundente prova de sua insustentabilidade, atinge 30 bilhões de dólares (dados da ONG Oceana).
Este site não se cansa de alertar sobre o iminente colapso da pesca, e as dificuldades ainda não superadas da aquicultura. Para finalizar, e não cacetear o leitor, é público e notório que a humanidade hoje consome 25% além da capacidade de reposição da biosféra. Ou mudamos nossos hábitos, ou...
Barcos de fora
Em Cumuruxatiba entrevistei o pescador Binga, dono de uma peixaria, que contou outro aspecto favorável desde a chegada da resex. De acordo com ele, antes da UC era comum encontrar de 60 a 100 barcos puxando redes de arrasto defronte a comunidade. Hoje, diz, há apenas 12 barcos (da comunidade) que ainda praticam esta terrível modalidade. E esse é mais um dado favorável à criação da resex. Os tipos mais pescados são o camarão, a pescada e o robalo. A maior parte é vendido na própria comunidade, em barracas nas ruas, por 12 reais o quilo. Já, na peixaria, o preço passa a 15 reais por quilo.
Outro membro da resex com quem conversei foi seu Albino, pescador, que participa da organização desde o início.
Poucas vezes vi uma pessoa tão articulada e inteligente. É impressionante o discurso dele, sua visão dos problemas do ICMBio é mais certeira e aguda que a de muitos jornalistas. Albino fez uma retrospectiva do órgão desde a separação do IBAMA, de um lado, o ICMBio, de outro. Explicou com precisão: "antes da separação havia pouco mais de 40, 50 UCs no Brasil, e o órgão era grande, tinha capacidade de atender as unidades. De lá pra cá, houve a separação, e a criação do novas unidades. Hoje são mais de 300. E todas na mão do ICMBio que não teve qualquer reforço em sua equipe. Falta tudo: vontade política, gente capacitada, equipamentos como barcos e outros". E arrematou: "sem falar na corrupção que acaba com o Brasil. Você não pode imaginar o que causa nos pescadores o anúncio quase diário da roubalheira que ocorre em Brasília. A gente precisa tão pouco, e não consegue. Enquanto isso os 'tubarões' da capital enfiam a mão em mais de seis bilhões, é um desânimo geral. Aqui (na resex) a maioria votou na Dilma. Hoje querem ela fora..."
Todos são unânimes em apontar a especulação imobiliária como o maior problema da região, sem falar, claro, na falta de gente e equipamentos, da Unidade de Conservação. A prefeitura, como sempre, encabeça e estimula a especulação. A prefeita é filha de um "ficha- suja", Wilson Brito, que não pode concorrer. A filha usa a 'máquina eleitoral' do pai. Mayra Brito, do PPR, está em seu terceiro mandato mesmo não sendo poucas as reclamações sobre sua gestão. Problemas comezinhos, como a falta d'água, são recorrentes. Pra onde vai o dinheiro das obras?
Mais uma vez, se repete o "mantra" do Maranhão, cujo exemplo vem do ex- presidente da República, o Coronel José Sarney. Entrou pobre na política, saiu riquíssimo, e manteve o feudo enquanto pode. Hoje seu estado tem o segundo pior IDH do Brasil. Mas o Coronel e sua filha, Roseana, nadam em dinheiro. Triste sina brasileira que persiste em pleno século XXI.
Plano de Manejo
Está parado, faltam recursos do ICMBio, de acordo com o chefe da UC. Nada de novo no front...Sem o plano pouca coisa pode ser feita. É ele que norteia as ações da qualquer UC brasileira.
Corumbau
É mais um dos distritos de Prado englobados pela resex. E este é um pouco menos agredido pela especulação.
As praias em geral ainda mantém sua beleza original com as casas e pousadas construídas um pouco mais para dentro da orla.
Caraíva
Penúltimo distrito (de Porto Seguro) que faz parte da área da resex. Ao contrário de Corumbau, Caraíva entrou na moda e explodiu de crescimento. A vila, uma das mais antigas do Brasil, tem 470 anos e é tombada pela Patrimônio Histórico. Suas ruas são estreitas e de areia, carros não entram. Elas são cercadas por casinhas coloridas, bares, restaurantes, lojas e pousadas e, na praça central, há a linda igrejinha de São Sebastião.
Os moradores, ao que parece, tem conseguido manter as principais características da arquitetura e, quando chegou a luz elétrica, em 2007, ficou estabelecido que não haveria postes muito menos fiação externa o que garante um ar pitoresco ao vilarejo.
Há dezenas de pousadas, umas ao lado das outras, e centenas de casas. O superadensamento é assustador. Mesmo assim Caraívas é puro charme.
Ao lado da vila corre o rio Caraíva em cujas margens ainda resta um pouco de Mata Atlântica preservada. Um dos lugares mais bonitos é a foz do rio. Ele deságua no mar, formando curvas sinuosas antes de despejar sua vazão. Uma beleza, um dos locais mais bonitos da costa baiana apesar da quantidade assombrosa de casas. Ao andar pelas estreitas ruas da vila perde-se a referência tamanha a quantidade de construções.
Para chegar até ela vindo do sul, é preciso atravessar o rio Corumbau, depois uma aldeia Pataxó onde os índios têm um serviço de taxi- bugres que podem leva-lo até lá.
Caraíva é uma graça, apesar do superadensamento, e da falta de estrutura para receber tantos turistas. Leia-se saneamento básico entre outros.
Mesmo assim vale a pena conhecer. A beleza natural do lugar é fora de série. Não se vê lixo nas ruas ou no rio, sinal que os moradores ainda conseguem garantir uma certa qualidade de vida.
Difícil mesmo é ainda achar nativos. O que mais se vê são turistas, mesmo fora de temporada.
magino que, como em todos os lugares com estas características, nos feriadões, e férias, o local deve "ferver" obrigando quem estiver por ali a conviver com os problemas de sempre: falta de água, energia, etc.
SERVIÇOS
Não há qualquer restrição para o público visitar a área da Resex. Basta escolher um hotel ou pousada na região, são dezenas, e aproveitar.
Maiores informações sobre a Resex Corumbau:
ENDEREÇO / CIDADE / UF / CEP: Rua 04, Quadra C, Lote 31- Novo Prado - Prado/BA - CEP: 45.980-000
TELEFONE: (73) 3298-2592
http://marsemfim.com.br/resex-corumbau/#.VYBftrxVK1H
UC:Reserva Extrativista
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