Costão de Itacoatiara terá limite diário de visitação a partir do verão

O Globo - http://oglobo.globo.com/ - 19/09/2016
Objetivo é minimizar impactos da utilização excessiva, como erosão, alargamento da trilha e novas aberturas na vegetação


Um dos mais conhecidos cartões-postais niteroienses, o Costão de Itacoatiara, de onde se descortinam paisagens deslumbrantes, virou uma preocupação constante para os gestores do Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset). Um dos pontos turísticos mais procurados da cidade, o local recebeu no último feriado da Independência, dia 7, o número recorde de 2.241 visitantes. Para tentar minimizar os impactos da utilização excessiva - que resulta em erosão, alargamento da trilha e novas aberturas na vegetação - e garantir um passeio mais tranquilo ao frequentador, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) definiu que é necessário limitar a quantidade de visitantes diários na trilha que leva ao Costão e à Enseada do Bananal. O objetivo é implantar esse controle já no próximo verão, permitindo o acesso de 600 a mil pessoas por dia, explica o chefe do Peset, Jhonatan Ferrarez.

- O estudo de capacidade de carga apontou uma quantidade. Vamos discutir esse número com o Conselho Consultivo do parque e com a direção do Inea - explica Ferrarez. - Será definido um limite para o turno da manhã e outro para a tarde.

SUPERLOTAÇÃO INCOMODA

Além da observação diária das consequências da sobrelotação, foi utilizado um estudo de capacidade elaborado pela bióloga Fernanda Kreisher e coordenado pelo professor de Geografia da UFF Douglas Pimentel. A pesquisa ouviu 374 visitantes entre março e agosto do ano passado. A eles foram apresentadas imagens da rocha com diferentes quantidades de pessoas, para avaliar de que forma a frequência afeta a qualidade da visita. O resultado obtido é que o ideal seriam até 88 pessoas ao mesmo tempo no topo do Costão, segundo a ótica do visitante. Considerando a permanência média de cada um, o local suportaria 800 pessoas por dia.

- Quando tem muita gente, os próprios visitantes se incomodam. Curiosamente, quando está completamente vazio, parte dos visitantes atribuiu nota baixa, porque há sensação de insegurança - explica o coordenador da pesquisa, Douglas Pimentel.

Na última década, o número de visitantes em pontos da cidade que sempre foram populares, mas que não eram tão frequentados, cresceu substancialmente, e as redes sociais têm sido apontadas como as principais responsáveis por isso. Nesse sentido, a beleza cênica do Costão tem se destacado, tanto pela paisagem que se tem lá do alto como pela imagem que proporciona a quem está na praia. Com tudo isso, Itacoatiara tornou-se um exemplo da potencialização turística pela internet. No site TripAdvisor, a praia aparece como a mais bem avaliada entre as 86 atrações niteroienses listadas, sendo que a trilha do Costão fica em quarto lugar. Esse fenômeno de popularidade também é visível no Instagram, onde a hashtag #itacoatiaradise foi atribuída a nada menos que 46.557 fotos publicadas.

- Além do crescimento exponencial na visitação, houve uma mudança no perfil do frequentador. Os habituais trilheiros têm cedido espaço a um outro tipo de público. São pessoas que vêm de longe para conhecer Itacoatiara e decidem subir a pedra - observa Ferrarez.

MAIS DE 10 MIL VISITANTES EM JULHO

Para se ter uma ideia, durante a Olimpíada, turistas de 20 estados e 13 países aproveitaram a beleza do lugar, além de gente de todo o Rio. Já em julho, no período de férias escolares, foram mais de dez mil pessoas, sendo cerca de 500 estrangeiros.

Há 14 anos, no dia 22 de setembro de 2002, O GLOBO-Niterói noticiava a preocupação de ecologistas e do Instituto Estadual de Florestas (órgão anterior ao Inea) com a utilização excessiva da trilha do Costão - à época, até 300 pessoas num fim de semana. Na ocasião, o ambientalista Cássio Garcez, do grupo de caminhadas ecológicas Ecoando, já sugeria que o ideal para o local era receber metade dos visitantes. Não imaginava que atualmente essa frequência seria diária.

- É chocante uma unidade de conservação preservada receber um número de visitantes tão grande. Sempre tivemos essa opinião, mas é preciso conciliar com a preocupação de não perder o visitante - diz Garcez. - No entanto, como o aumento ocorre em progressão geométrica, alguma coisa precisa ser feita.

Acostumada a pegar a trilha durante o fim da tarde para ver o pôr do sol, a engenheira agrônoma Ingrid Trancoso vê a medida com pesar. Ela, entretanto, reconhece que a limitação é a saída para frear o uso descontrolado.

- Eu me assusto sempre que fico algum tempo sem ir. No último domingo, fiquei impressionada ao ver como a trilha está muito larga e malfeita. Encontrei muitas latinhas jogadas pelo caminho. Falta consciência às pessoas, então é importante trabalhar a educação, explicar a importância de manter aquilo preservado.

A arquiteta Carina Bersot, que já subiu algumas vezes a trilha, esteve no Costão no dia 7 de setembro. Quando subiu, por volta das 10h, o movimento estava tranquilo. Quando desceu, conta que já havia uma fila com cerca de cem pessoas.

- No início da subida na pedra, que é a parte mais íngreme, as pessoas passaram a tomar um caminho novo, beirando a mata e se apoiando na vegetação. O caminho ali sempre foi pela rocha - lembra Carina. - Também vi gente escorregando. Acho que deveriam ter guardas ali para orientar.

O Peset recebeu, até agosto deste ano, cerca de 195 mil visitantes. Desde o início do ano foram registrados sete acidentes, sendo seis leves e um moderado. Até o final do ano a unidade deve receber mais de 300 mil visitantes, estima o Inea.



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