Mas ainda são necessários novos estudos para checar deslocamentos do animal e aprimorar seu monitoramento e conservação na reserva extrativista no Maranhão
Servidores do Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene) e da Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Cururupu, no Maranhão, acabam de divulgar os resultados da expedição realizada, entre os dias 23 e 27 de janeiro, para avaliar a ocorrência de peixe-boi marinho (Trichecus manatus) no interior da unidade. O Cepene e a reserva são administrados pelo Insituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Durante a expedição, foram aplicadas entrevistas com os comunitários sobre descrição e avistamento da espécie. Já no deslocamento em água, foram coletadas várias amostras de vegetação aquática de possível alimentação pelo peixe-boi e feitas aferições de salinidade em diferentes níveis dos canais navegáveis na planície de maré.
Paralelamente às entrevistas e coletas de amostras do ambiente, durante toda a expedição, a equipe se manteve de olhos atentos à lâmina d'água, na esperança de avistamento de algum espécime.
"A expedição foi bastante esclarecedora no que diz respeito ao grau de ameaça, o qual é muito elevado, pois de toda área da UC, apenas na porção leste da Resex, que faz limite com o município de Porto Rico do Maranhão, verificam-se indícios da ocorrência do animal. Ainda serão necessários mais estudos para se estimar os possíveis deslocamentos que o peixe-boi realiza a fim de aprimorar seu monitoramento e a conservação da espécie", disse o oceanólogo e chefe da Resex, Eduardo Borba.
Confirmação
Para a veterinária Fernanda Attademo, especialista em resgate, manejo e medicina do peixe-boi marinho, foi possível confirmar que a espécie existe na região, inclusive com relato no passado de consumo da carne do animal. Este fato, junto com o já citado grau de ameaça da espécie, fortalece a necessidade de estudos na região identificando a população naquele local e propondo medidas mitigatórias para a sua conservação.
Conforme relato dos comunitários, existe a presença tanto de filhotes como de adultos, o que indica que os animais podem estar utilizando a reserva para reprodução e alimentação.
"Os dados referentes ao peixe-boi no Maranhão ainda são escassos, entretanto estas populações são de extrema importância, pois fazem conexão com as existentes no Nordeste e Norte do País. Além disso, o ICMBio, com essa atividade, vem desenvolvendo por meio do Programa Peixe Boi e pela Resex um trabalho conjunto previsto no Plano de Ação Nacional para Conservação dos Sirênios (PAN Sirênios) e para conhecimento e identificação das áreas de ocorrência da espécie", afirmou Attademo.
Próxima etapa
A próxima etapa será a capacitação e treinamento da equipe da unidade para o monitoramento, que será realizada pela equipe do Programa Peixe-Boi/Cepene no final de março na APA Costa dos Corais, onde animais são reabilitados, aclimatados, soltos na natureza e, posteriormente, monitorados.
"Após o treinamento, iniciaremos o monitoramento participativo na Resex Cururupu em locais onde há maior disponibilidade de alimento para o peixe-boi. O animal passa a maior parte do dia na sua área de alimentação e é nesse momento que as chances de avistá-lo são maiores", disse bióloga Laura Reis, coordenadora de Pesquisa e Monitoramento da Resex Cururupu.
A expedição foi motivada por informações de moradores e pescadores que afirmaram avistar o peixe-boi eventualmente no interior da Resex. Em outubro do ano passado, a gestão da Resex recebeu a notícia de que um peixe-boi havia ficado preso em um curral de pesca. Felizmente, o dono do curral, sabendo que se tratava de um animal ameaçado de extinção, impediu que outros pescadores o matassem e o animal foi liberado. Diante disso, surgiu a necessidade de se obter um levantamento preliminar das informações sobre a ocorrência da espécie no interior da unidade de conservação.
A reserva
Apoiada pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Cururupu é a maior reserva extrativista marinha do País, com 186 mil hectares. Fundada em 2 de junho de 2004, fica localizada nos municípios de Cururupu e Serrano do Maranhão.
A unidade de conservação gerida pelo ICMBio é composta por arquipélagos de ilhas costeiras e possui grande representatividade de ambientes de influência flúvio-marinha, como manguezais, restingas e praias arenosas, caracterizados pela alta produtividade pesqueira. A amplitude de marés chega a oito metros, a maior do país, permitindo que as águas dos estuários sejam permanentemente renovadas pelo fluxo contínuo de águas marinhas.
A espécie
O peixe-boi marinho distribui-se atualmente no litoral que vai de Alagoas ao Amapá com áreas descontinuadas em parte de Alagoas, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Pará. O animal utiliza preferencialmente as áreas costeiras e ambientes estuarinos com manguezais preservados para se alimentar, podendo adentrar em rios e igarapés em busca de água doce e para reprodução, onde as águas são mais calmas.
Representante da ordem dos sirênios, esse mamífero aquático é herbívoro, alimentando-se de diferentes tipos de vegetação aquática. Atualmente é classificado como em perigo de extinção (EN), segundo a lista de espécies ameaçadas da fauna brasileira, publicada em dezembro de 2014 pelo ICMBio, e como Vulnerável (VU), pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/8698-expedicao-confirma-presenca-de-peixe-boi-em-cururupu
Biodiversidade:Fauna
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