Pará tem primeira reserva

O Liberal-Belém-PA - 17/06/2005
Área de 65 mil hectares agora é primeira reserva de desenvolvimento sustentável criada em todo o País

Uma área de 65 mil hectares habitada por sete comunidades de pescadores e agricultores de Gurupá, município do Arquipélago do Marajó, acaba de ser transformada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Itatupã-Baquiá. O decreto foi assinado na última terça-feira,14. A área da nova unidade de conservação - primeira RDS federal do País - passou a ser gerenciada pelas comunidades gurupaenses a partir dos anos 80, como forma de reação à exploração madeireira do local.

Há mais de 20 anos, os moradores começaram a discutir e promover formas sustentáveis de exploração dos recursos naturais existentes na região - como o manejo do açaí, da madeira e a pesca, por exemplo - e a reivindicar a posse de direito da área. A criação da nova reserva, segundo o coordenador da Organização Não-Governamental Fase-Gurupá, Jorge Pinto, "representa o reconhecimento, por parte do governo federal, da iniciativa pioneira das comunidades de Gurupá, que se tornarão certamente referência para outras comunidades da Região das Ilhas". A Ong é parceira das comunidades da região.

Uma reserva de desenvolvimento sustentável visa conservar o meio ambiente, permitindo que a população local participe das atividades de manejo dos recursos naturais (fauna e flora) e de vigilância da unidade, com a manutenção da propriedade privada. "Apesar desse modelo integrar a lei que definiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o governo federal nunca havia criado uma RDS.

Modelo - A criação da reserva de Itatupã-Baquiá pode ser o "primeiro passo para a adoção desse modelo, desenvolvido e aplicado na Amazônia, em outras regiões do País", explica José Maria Cardoso, vice-presidente de Ciência da Ong Conservação Internacional (CI-Brasil). Criada pelo biólogo Márcio Ayres, falecido em 2003, esse tipo de reserva foi adotada inicialmente pelo governo do Estado do Amazonas, com a transformação da reserva ede Mamirauá em reserva de desenvolvimento sustentável, em 1996. Depois foi a vez do Amapá, que criou, em 1997, a RDS do Rio Iratapuru.

Os estudos básicos que orientaram a criação da nova RDS no Pará foram realizados através da parceria entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e as Ong's Fase-Gurupá e Conservação Internacional (CI-Brasil).

Com cerca de 65 mil hectares de áreas de várzea, a nova reserva localiza-se no estuário do Rio Amazonas, entre o canal Norte e o canal de Gurupá. Integra a Região das Ilhas e é encoberta pela maré duas vezes por dia, o que faz que a área tenha características de utilização agrícola bastante peculiares. Diversa - Apesar do longo histórico de uso, a região apresenta grande diversidade de animais como cutias, pacas, veados, tatus e primatas - como macaco-da-noite (Aotus infulatus); macaco-de-cheiro (Saimiri sciureus); macaco-guariba (Alouatta belzebul), dentre outros - bem como de aves e peixes.
(-O Liberal-Belém-PA-17/06/05)
UC:RDS

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