Prover energia limpa e treinamento em tecnologias sociais para comunidades ribeirinhas do Amazonas. Este foi o foco do curso realizado entre os dias 5 e 9 de julho, no município de Lábrea (AM). Uma rede de parceiros uniu as forças para compartilhar conhecimentos sobre energia renovável com moradores de uma comunidade ribeirinha da
Reserva Extrativista (Resex) do Médio Purus.
A inciativa foi promovida em parceria pelo Instituto Mamirauá, o WWF-Brasil e USINAZUL (Energia Sustentável e Serviços Ambientais). A ação reuniu 23 participantes. As tecnologias apresentadas durante a semana de oficinas foram escolhidas com base em um diagnóstico realizado anteriormente na comunidade.
De acordo com Felipe Pires, técnico em tecnologias sociais no Instituto Mamirauá, foram identificadas demandas de energia elétrica para os domicílios, escolas, atividades produtivas, como o funcionamento de equipamentos para despolpar frutas pelos moradores da comunidade. "Algumas demandas da comunidade provêm de serviços públicos que são direitos que eles têm, mas não são atendidos. Então, essa capacitação não tem que ser só com a comunidade, a gente tem que ajudar para que a prefeitura ou outros parceiros auxiliem na gestão desses sistemas. Então, a gente tenta abarcar todos esses parceiros, essas entidades, para que feche esse complexo de gestão", explicou Felipe.
Além dos moradores da comunidade, também participaram do curso técnicos da prefeitura e representantes da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), como parte desta estratégia apontada por Felipe, de difusão do conhecimento.
Uma das participantes do curso, Antonia Lopes do Nascimento, comentou que o curso foi uma oportunidade de agregar vários conhecimentos, por meio da troca de experiências. A jovem é moradora da comunidade Laranjeira da Resex Médio Purus, foi uma das participantes do curso. "Cada um de nós fizemos um pouco de tudo, fizemos uma instalação de sistema fotovoltaico na prática. Quero aproveitar cada informação e ensinamento. Vou terminar o ensino médio neste ano e quero me formar como profissional nesta área e poder buscar uma qualificação melhor", comentou.
Alessandra Mathyas, analista de Conservação no WWF-Brasil, e uma das organizadoras da iniciativa, também comentou sobre o esforço das instituições em oferecer uma capacitação que contribua para a gestão contínua da tecnologia pelos seus usuários. "Acompanhei vários casos de instalações que se perderam com o tempo porque na época não foi dada capacitação básica para os moradores locais de como cuidar dos seus sistemas. Então, para o WWF não faz sentido levar energia limpa sem capacitar os extrativistas que irão usufruir dessa energia para que ela seja usada da forma mais eficiente possível e com maior durabilidade", contou.
O curso foi dividido em duas partes, uma com a exposição da teoria sobre as tecnologias, que aconteceu na sede do município. E, durante a segunda etapa, os participantes foram envolvidos em uma instalação de um sistema solar fotovoltaico para geração de energia para uma escola da comunidade Cassianã, na Resex do Médio Purus.
O curso foi ministrado por técnicos do Instituto Mamirauá, com o objetivo de ampliar o alcance das ações já desenvolvidas ao longo da experiência da instituição - que atua como uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - formando multiplicadores que possam levar o conhecimento sobre as metodologias e técnicas para outras regiões da Amazônia. Esta ação é financiada pela Fundação Moore. Além deste, já foram realizados outros dois cursos de multiplicadores pelo Instituto neste ano, um com foco em Manejo Florestal Madeireiro e o outro com foco em Manejo de Recursos Pesqueiros.
Alessandra enfatizou a importância do trabalho em rede para o alcance de avanços sociais na realidade amazônica. "O WWF é uma ONG brasileira que integra uma rede global presente em 130 países. E temos que fomentar as iniciativas que dão certo, como é o caso do Instituto Mamirauá com energia limpa e capacitação", disse.
Energia limpa
O técnico do Instituto destacou que a falta de acesso à energia elétrica é um desafio na região, especialmente em comunidades localizadas em regiões distantes dos centros urbanos, como é o caso das comunidades pertencentes a unidades de conservação. "A gente sabe que na Amazônia, essa demanda é muito recorrente. E é uma demanda que não está só nesta região que a gente trabalha [médio curso do Rio Solimões], mas a gente percebe que aparece como um todo, no Amazonas. E com todo este conhecimento, a gente consegue construir junto com eles algumas soluções para as demandas que eles já possuem", comentou Felipe.
Há mais de 15 anos, o Instituto Mamirauá desenvolve tecnologias sociais com foco na promoção da qualidade de vida de populações ribeirinhas da Amazônia. Os modelos são desenvolvidos ou adaptados de acordo com as características ambientais e sociais da região e a partir de uma demanda identificada junto à população local. Estas tecnologias são testadas e avaliadas por pesquisadores, até que encontrem um modelo viável e aplicável naquele contexto.
Entre as tecnologias sociais já desenvolvidas e com eficácia comprovada, no contexto das comunidades ribeirinhas, estão o sistema de bombeamento de água para comunidades de várzea Amazônica e o sistema de iluminação domiciliar, ambos movidos a energia solar fotovoltaica.
"A energia solar, a médio prazo, é muito viável. A gente diminui essa dependência dos combustíveis fósseis, usados normalmente nos geradores aqui na região. Já é uma fonte limpa, que está crescendo muito no mundo todo, tem tido grandes avanços tecnológicos, ficando mais acessível. E existe também, no Governo, algumas propostas, projetos e programas para facilitar o acesso a este tipo de energia", explicou o técnico do Instituto Mamirauá.
Alessandra ressalta que a iniciativa conjunta favorece a construção de ações para promover o acesso das comunidades a energia. "Sonhamos com um Programa Nacional de Resex Produtoras de Energia Limpa. E mais que isso, acreditamos que é possível levar energia limpa e descentralizada para o povo amazônico sem aumentar o uso de diesel ou construir novas grandes hidrelétricas. A energia limpa descentralizada leva melhor qualidade de vida às famílias, promove a educação, a equidade de gênero e o aumento de renda familiar e comunitária, com o uso sustentável da floresta e seus produtos extrativistas".
Em abril, foi lançada a cartilha "
Usos de Sistemas Energéticos com Fontes Renováveis em Regiões Isoladas", uma iniciativa do WWF-Brasil em parceria com o Instituto Mamirauá, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas e o IEE/USP. A publicação está disponível para consulta e download gratuito e reúne algumas dessas tecnologias sociais com uso de energia renovável.
Conheça mais sobre estas e outras tecnologias sociais
no site ou no
canal do youtube do Instituto Mamirauá.
http://www.mamiraua.org.br/pt-br/comunicacao/noticias/2017/7/12/moradores-de-reserva-extrativista-do-amazonas-participam-de-curso-sobre-energias-renovaveis/
UC:Reserva Extrativista
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