A Crítica - https://www.acritica.com/opiniao/artigos/s-o-s-parque-estadual-sumauma-53-hectares-de-am - 10/09/2024
S.O.S Parque Estadual Sumaúma: 53 hectares de Amazônia dentro de Manaus
É um descalabro que essa área de floresta, uma raridade na capital do Amazonas, esteja esquecido pelo Poder Público e pela própria população diante da emergência climática que vivemos
Juliana Radler
julianaradler@socioambiental.org
10/09/2024 às 17:22.
Atualizado em 10/09/2024 às 17:22
No último dia 5, grupo realizou um 'grito de S.O.S' pela revitalização e reabertura da unidade de conservação, criada em 2003 (Walter Calheiros)
No último dia 5, grupo realizou um 'grito de S.O.S' pela revitalização e reabertura da unidade de conservação, criada em 2003 (Walter Calheiros)
Enquanto as notícias incessantes de fumaça, incêndios florestais, altas temperaturas e estiagens recordes de rios da Bacia Amazônica dominam o noticiário nacional, vemos o Parque Estadual Sumaúma, em Manaus, abandonado e fechado para visitação pública. É um descalabro que uma área de 53 hectares de floresta, uma raridade na capital do Amazonas, esteja esquecido pelo Poder Público e pela própria população diante da emergência climática que vivemos.
No último dia 5 de setembro, quando celebramos o Dia da Amazônia e o Dia Internacional das Mulheres Indígenas, um grupo de ambientalistas convocados pelo Instituto Sumaúma, ong que atua com educação ambiental no mesmo bairro do Parque Estadual, na Cidade Nova, zona Norte de Manaus, fez um grito de S.O.S pela revitalização e reabertura da unidade de conservação, criada em 2003.
Foi feita uma caminhada pelas ruas da Cidade Nova até a sede do Parque, onde coletaram assinaturas para um abaixo assinado pela sua reabertura. Hoje, o local está fechado para visitação pública e abriga uma unidade do Corpo de Bombeiros. Toda a infraestrutura que era oferecida aos visitantes, como parquinho para crianças, área de pic-nic, esculturas gigantes com animais e divindades da mitologia amazônica feitas pelo artista Juarez Lima, de Parintins, encontram-se em estado muito precário e de abandono.
Ambientalistas protestaram pela reabertura do parque (Walter Calheiros)
As várias trilhas, inclusive que levam até a maior árvore da Amazônia, a Sumaúma, estão fechadas, impossibilitando atividades de ecoturismo e educação ambiental. Com mais de 50 anos de defesa do meio ambiente, Augusto Leite, natural de Maués e morador da Cidade Nova há mais de duas décadas, comenta sobre o descaso dos governantes e da própria população com as áreas verdes de Manaus. "Enquanto tivermos essa mentalidade alienada e egoísta que não pensa no coletivo, veremos nossas áreas verdes degradadas e abandonadas", ressaltou o presidente do Instituto Sumaúma.
Em ano de eleição municipal é fundamental elegermos representantes conscientes da importância do meio ambiente para as nossas vidas. Não se trata somente de salvar as árvores e os animais, como muitas vezes são ironizados os ambientalistas. É uma questão de vida ou morte para todos nós. Uma urbanização que não considera as áreas verdes traz consequências mortais para a sobrevivência da população e favorece a proliferação de problemas de saúde ligados ao calor extremo, à poluição e às enchentes e inundações.
Cidade esponja
Enquanto grandes cidades do mundo discutem a ampliação de espaços florestais, como o conceito de cidade esponja, nós na Amazônia continuamos vendo as cidades crescerem desordenadamente destruindo as árvores, os rios e toda a vida abrigada numa floresta. Precisamos de um letramento ambiental e climático para nos apropriarmos destas discussões vitais para o nosso século. Isso passa pela educação e pela formação de uma nova cidadania. Vivemos um tempo no qual precisamos mudar, cortar velhos hábitos e inserir uma linguagem nova ao nosso vocabulário, onde florestas, rios e árvores ganhem significado a altura do que eles representam para nós: a própria sustentação da vida.
Nos 21 anos do Parque Estadual Sumaúma completados em 2024 desejamos celebrar sua maior idade com a revitalização e reabertura ao público, dando um grande abraço na árvore mãe, rainha da floresta. A Amazônia também deve pulsar dentro das grandes cidades e capitais. Não pode ficar somente nas propagandas turísticas e nos banners de aeroporto, enquanto a floresta real é destruída, abandonada, queimada e explorada por quem só visa lucros pessoais. A hipocrisia não pode prevalecer.
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*Juliana Radler é jornalista com especialização em meio ambiente e analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA)
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