O último Grande mangue da Baía de Guanabara
Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, criada há 20 anos, sofre com pesca predatória e despejo industrial
A Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, última grande área remanescente de manguezal da Baía de Guanabara, completa este mês 20 anos entre a conquista da preservação e a ameaça de degradação. O Ibama comemora a manutenção dos 30% restantes do mangue original, mas alerta para os riscos dos poluentes industriais e da pesca predatória. Os danos podem ultrapassar os limites das áreas alagadas: sem o manguezal, a baía não sobrevive.
O geógrafo Elmo Amador, um dos maiores especialistas em Baía de Guanabara do Brasil, explica que o manguezal é imprescindível para a sobrevivência da baía pela riqueza de microorganismos:
As áreas alagadas servem de habitat e de criadouro para espécies de toda a cadeia, desde os microorganismos minúsculos até o peixe e, por tabela, o homem. Por isso, fertiliza a vida da baía. Sem manguezal, a baía seria apenas um braço de mar sem vida, não suportaria a carga de poluentes.
Segundo projeção de Elmo Amador, a partir dos impactos ambientais atuais, em menos de cem anos a Baía de Guanabara perderá um terço de seu espelho dágua, correspondente justamente ao fundo, na região da APA de Guapimirim.
O chefe da unidade de conservação, Breno Herrera, divide a preocupação entre a contaminação das indústrias e o descontrole na pesca:
A grande ameaça está fora da APA. São os poluentes despejados pelo complexo petroquímico de Caxias. Eles pegam o óleo e refinam tudo, até chegar ao plástico. Despejam os resíduos nos rios próximos. Há também pequenas indústrias instaladas em rios. Com a mudança de maré, chegam às bordas da APA.
A degradação é sentida por pescadores, como Antônio Alves, de 56 anos, que pesca no mangue desde o ano da criação da área de proteção.
Estou há oito horas na água e só tirei quatro quilos de siri. Há 20 anos, eu tirava isso num lance de puçá. É coisa da poluição diz o pescador, que mora no entorno da APA.
A pesca predatória é outra ameaça. Herrera explica que o descontrole da pesca artesanal afeta a unidade:
Os pescadores locais agridem a unidade por falta de opção. Coletam caranguejos em período de defeso (novembro e dezembro) e têm exagerado nos currais (armadilhas para apanhar peixe). A cerca vira uma barreira aos peixes que sobem para o manguezal. Vamos baixar uma portaria do Ibama para regulamentar a atividade.
Mas também há boas novas na unidade. O diretor da APA comemora o decreto que regulamenta o plano de manejo da unidade, publicado em junho deste ano. Com o instrumento, será possível proteger de forma mais eficaz a unidade.
A grande atração da APA de Guapimirim hoje é a avifauna. Segundo estudo da UFRJ, foram registradas 172 espécies de aves na região muitas delas marinhas, que chegam ao mangue em busca de abrigo. Mas há também peixes estima-se a existência de 70 espécies e plantas típicas do ecossistema, como os mangues vermelho, preto e branco.
A APA já atrai turistas, que aproveitam a riqueza do ecossistema. Semana passada, Dário Lopes e seu filho, Fábio, comerciantes de Teresópolis pescavam no Rio Guapimirim, o mais limpo da APA.
Isso é um paraíso, venho pescar sempre que posso diz Dário, mostrando orgulhoso um tambaqui de quatro quilos pescado pouco antes.
O Globo, 12/09/2004, p. 26
UC:APA
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