Primeiros registros revelam a riqueza de Tumucumaque

OESP, Vida, p.A16 - 29/10/2004
Primeiros registros revelam a riqueza de Tumucumaque
Expedição na parte sul da maior reserva de floresta tropical do mundo, no Amapá, catalogou 380 espécies de fauna
Herton Escobar
Passados pouco mais de dois anos de sua criação, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Norte do País, começa a revelar suas riquezas biológicas. Igarapés cobertos de flores, pássaros de penas coloridas e pequenos répteis de olhos arregalados, que possivelmente nunca viram um ser humano, tomam forma diante das lentes e nas anotações de campo da primeira expedição científica a desbravar a região.
Localizado na fronteira do Amapá com o Suriname e a Guiana Francesa, o parque é a maior reserva de floresta tropical do mundo, com 3,8 milhões de hectares - o suficiente para cobrir todo o Estado do Rio com selva amazônica.
A expedição terminou há exatamente um mês, mas só agora os dados de biodiversidade estão sendo consolidados. Em dez dias de observação na parte sul do parque, os pesquisadores registraram mais de 380 espécies de fauna. Algumas foram vistas pela primeira vez no Estado. Outras podem ser espécies novas. Além disso, foram feitos registros cartográficos da região, com dados de relevo e vegetação. "É muito mais do que uma simples lista de espécies", relata o biólogo Enrico Bernard, que coordenou a expedição pela organização ambientalista Conservação Internacional (CI).
Todas as informações coletadas, segundo ele, serão usadas na elaboração do plano de manejo do parque - documento que determina o que pode e não pode ser feito em cada região da reserva. O trabalho faz parte de um programa de expedições científicas para mapear a biodiversidade do Amapá, cujo território ainda é 95% coberto de vegetação intocada. Mais da metade do Estado já está protegida por unidades de conservação, das quais o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque é a maior de todas. Outras quatro expedições estão previstas para a unidade, em parceria com o Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa).
Demarcação
Criado no papel em agosto de 2002, durante o governo Fernando Henrique, o parque do Tumucumaque está lentamente passando a existir também na prática, sob a tutela de uma minúscula equipe de quatro funcionários do Ibama. Além de acompanhar as expedições científicas, os fiscais trabalham na demarcação do parque e fazem sobrevôos da região - nos quais já identificaram 25 pistas de pouso clandestinas.
O parque está livre da atividade de madeireiros e caçadores, mas sofre com a tradicional intromissão do garimpo. "Não existe local na Amazônia onde não tenha pisado um garimpeiro", comenta Bernard. "Eles chegam a lugares que você não acredita."
O chefe do parque, Christoph Jaster, reconhece que a equipe é pequena, mas mostra-se otimista quanto à implementação da unidade. "Dois anos em termos de funcionalismo público é um piscar de olhos. Acho que estamos no caminho certo", disse. O Ibama inaugurou recentemente um escritório em Serra do Navio - município adotado como porta de entrada do Tumucumaque - e agora trabalha com as comunidades locais na reorganização do conselho consultivo, que orienta a administração do parque. O conselho original, segundo Jaster, era um mistério: foi formado a toque de caixa, por ninguém sabe quem e com integrantes de organizações que não tem nenhuma relação com o parque.
Um novo grupo está sendo formado neste momento a partir de um encontro em Serra do Navio, para o qual mais de 50 instituições foram convidadas. "A gestão participativa é muito importante", defende Jaster. "Não é só o Ibama que deve decidir as coisas." Com o novo conselho empossado, a idéia é elaborar um plano de manejo e abrir o parque para o público a partir de 2006.


Espécies registradas
75 mamíferos, com 29 morcegos
129 aves, das mais variadas cores
24 anfíbios, que incluem sapos e rãs
40 répteis, incluindo lagartos, cobras, tartarugas e um jacaré
15 crustáceos, como caranguejos
100 peixes, dos mais variados tipos

Christoph Jaster, o guardião da floresta
Zelador: Nascido na Alemanha e naturalizado brasileiro há mais de 30 anos, Christoph Jaster é o homem encarregado de zelar pelo maior parque de floresta tropical do mundo. Há cerca de um ano e meio ele prestou concurso no Ibama com a expectativa de trabalhar em algum lugar mais próximo de onde morava, em Curitiba. Mas as vagas eram poucas e ele acabou arrumando as malas para o Tumucumaque. Assumiu a chefia da unidade com uma equipe de três funcionários, para fiscalizar 3,8 milhões de hectares de floresta.
Uma missão no mínimo desafiadora, mas que ele acabou aceitando com prazer. "Estou passando pelo período mais marcante da minha vida. Não poderia ter tomado uma decisão mais acertada", conta o engenheiro florestal, de 40 anos. "Encontrei aqui a floresta que estava procurando minha vida toda no Paraná. Uma floresta inalterada, quase que intocada."
Seu desafio agora é tentar manter o parque dessa maneira e desenvolver um plano de manejo eficiente, para que suas belezas possam ser contempladas de forma sustentável por turistas e cientistas. "Por ser uma unidade recém-criada, sei que meu trabalho pode determinar o rumo de algumas coisas. E isso é fascinante."

OESP, 29/10/2004, p. A16
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

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