O Globo, Rio, p. 33 - 14/12/2006
Descobertas novas espécies da Mata Atlântica
Pesquisadores do Jardim Botânico identificam três árvores no Parque de Itatiaia e na Reserva do Tinguá
Tulio Brandão
O Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico registrou este ano três novas espécies de árvores nativas da Mata Atlântica. As descobertas, que ainda serão publicadas em revistas científicas, foram feitas no Parque Nacional de Itatiaia e na Reserva Biológica do Tinguá. Desde que o instituto criou um programa para estudar o bioma, há quase 20 anos, já foram registradas pelo menos 50 novas espécies da flora. As descobertas foram feitas pelas equipes dos pesquisadores Sebastião José da Silva e Haroldo Lima.
Sebastião, doutor em botânica, registrou com os colegas Rubens Samuel de Avila Jr. e Catia Henriques Callado, duas novas árvores este ano: a Simira walteriana, planta da mesma família do café que foi encontrada em Tinguá, e a Randia itatiaiae, árvore de Itatiaia que já era conhecida pela população tradicional como "osso de burro", devido à madeira rígida.
- A simira foi nomeada em homenagem ao seu Walter, um auxiliar de pesquisa de campo que conhece tudo em Tinguá.
Ela tem um fruto de 6,7 centímetros de diâmetro e não era conhecida nem pelas populações tradicionais. Já a randia era usada por madeireiros. É uma árvore que chega a 12 metros e tem um fruto grande, semelhante à laranja, muito apreciado pela fauna local. O gosto é meio adocicado.
A descoberta da Simira walteriana foi submetida à revista Novon, do Missouri Botanical Garden, e, da Randia itatiaiae, à revista Rodriguésia, do Instituto Jardim Botânico.
Nas florestas de altitude do Parque de Itatiaia, o biólogo Haroldo Lima descobriu a Ormosia automontana, uma árvore leguminosa que chega a 18 metros e cuja madeira também é explorada.
- Vimos pela primeira vez a espécie há três anos, mas só conseguimos descrevê-la agora, depois da coleta do material com a flor, que, por sinal, é muito bonita. Tem um tom lilás arroxeado. Entre as comunidades tradicionais da região, é conhecida como "tento". Além da madeira boa, o fruto é usado no artesanato - disse Haroldo, que vai submeter a descoberta à revista Rodriguésia.
Ele está prestes a descrever outra nova espécie encontrada em Itatiaia, do gênero Poecilanthe, muito parecida com uma árvore que só existe na Amazônia (P. amazonica).
A pesquisadora Marli Moreira, também do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico, estima que atualmente a Mata Atlântica abrigue cerca de 20 mil espécies de plantas já registradas pela ciência.
- A expectativa dos pesquisadores, no entanto, é que o número de espécies do reino vegetal encontradas ainda chegue a 30 mil - afirmou.
Opinião
Final Infeliz
De oito estados, o Rio foi o que apresentou, de 2000 a 2005, a menor destruição da Mata Atlântica. Foram 6,4 milhões de metros quadrados; em comparação, Santa Catarina perdeu 450 milhões.
MAS A explicação para essa queda não permite que ela seja comemorada. Porque praticamente já se devastou o que era possível devastar: o que restou da mata está em áreas inacessíveis ou protegidas. Sem contar que o levantamento por satélite não capta a derrubada da floresta em espaços pequenos - efeito típico da especulação imobiliária e das ocupações irregulares.
Estamos assim assistindo mais à etapa final de uma tragédia ecológica do que a uma demonstração de competência das autoridades na defesa ambiental.
IEF: desmatamento foi reprimido em 2006
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) reagiu ao mapeamento do desmatamento da Mata Atlântica no estado, publicado ontem no GLOBO. Segundo o presidente do órgão estadual, Maurício Lobo, o IEF ampliou em 129% as saídas para autos de constatação e multiplicou em mais de 20 vezes o número de intimações e notificações geradas por irregularidades ambientais. Na divulgação do estudo, especialistas disseram que o Rio sofre com desmatamentos não localizáveis por satélite.
Segundo o órgão, além do investimento na fiscalização, houve melhorias nos parques estaduais da Pedra Branca e do Desengano. E, para implantar a gestão de três unidades estaduais - parques estaduais de Três Picos e da Ilha Grande e Estação Ecológica de Guaxindiba - foi assinado um convênio com a TermoRio.
O Globo, 14/12/2006, Rio, p. 33
Mata Atlântica:Biodiversidade
Unidades de Conservação relacionadas
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