Caieiras dobrará com condomínio

OESP, Metrópole, p. C8 - 05/04/2008
Caieiras dobrará com condomínio
Plano de construtora é vender apartamentos a 80 mil moradores - população do município hoje é de 81 mil

Sérgio Duran

A pacata Caieiras, uma das cidades mais desabitadas da região metropolitana de São Paulo, ganhará 80 mil novos moradores com um único empreendimento, a ser criado no prazo de cinco a dez anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tinha 81.163 habitantes no ano passado. Ou seja: o lançamento imobiliário erguerá outra cidade do tamanho da que já existe.

Adquirido pela Camargo Corrêa, o terreno que abrigará o empreendimento gigante fica próximo da estação de trem que leva o nome da cidade, da Linha A da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O lote tem 5,2 milhões de metros quadrados e pertenceu à Companhia Melhoramentos. Parte da área era usada para reflorestamento.

Segundo o diretor de novos negócios da Camargo Corrêa, Marcelo Figueiredo, as moradias a serem construídas no local deverão atender ao que a empresa chama de "segmento econômico" e custarão entre R$ 70 mil e R$ 200 mil. Quando todas as unidades forem vendidas, a empresa terá movimentado cerca de R$ 3 bilhões.

O projeto prevê a ocupação de cerca de 35% do terreno - ou 1,6 milhão de metros quadrados - com prédios de quatro a seis andares e apartamentos com dimensões de 60 a 120 metros quadrados de área útil. "Não queremos construir uma cidade-dormitório, mas um lugar com vida própria, uma comunidade. Haverá espaço para centro comercial ou shopping, por exemplo", diz o diretor da construtora. As primeiras unidades deverão ser comercializadas em 2010.

Figueiredo admite que o empreendimento obrigará a Camargo Corrêa a buscar um relacionamento mais estreito com a prefeitura - o que não fez até o momento. Os novos moradores deverão aumentar a arrecadação de Caieiras, mas, em compensação, dobrarão a produção de lixo, a demanda por médicos nos postos de saúde, de vagas em creches, de esgoto, de consumo de água.

"Faremos esse contato em uma fase mais avançada do projeto", afirma. "A infra-estrutura da região vem sendo incrementada, a começar pela modernização da linha da CPTM. Mas o empreendimento levará muitas melhorias, como, talvez, uma estação de tratamento de esgoto", diz Figueiredo, citando o empreendimento Inova, de Osasco, na região metropolitana da capital, como exemplo. Por causa dos novos prédios, a Camargo Corrêa investiu na ampliação de uma avenida no local, a Estados Unidos.

IMPACTO AMBIENTAL

A diretora de gestão do conhecimento da organização S.O.S Mata Atlântica, Márcia Hirota, alerta para o impacto que um empreendimento desse porte terá sobre o território de Caieiras. A região é desabitada, destaca a ambientalista, porque parte está inserida dentro do Parque Estadual da Cantareira, área de transição entre a mata atlântica e o cerrado. A maior parte do município está em área de preservação permanente."Fica difícil falar de um empreendimento que não conheço, que não foi totalmente apresentado ainda, mas, que o impacto será grande, é indiscutível", pondera Hirota.

De acordo com a diretora da S.O.S Mata Atlântica, há no entanto formas de construir um empreendimento sustentável. "Ninguém é contra lançamentos imobiliários, mas há formas melhores de executá-los do que outras." Investir na educação ambiental, na coleta seletiva de lixo, em fontes alternativas de energia e no tratamento de esgoto, por exemplo, são medidas indispensáveis na avaliação da ambientalista.

Exceto o tratamento de dejetos, Figueiredo não fala em outros investimentos do gênero, mas adianta que todas as exigências ambientais para a aprovação do empreendimento estão sendo atendidas. Ele cita ainda o fato de Caieiras ter uma das mais baixas densidades demográficas da região metropolitana, com 800 habitantes por quilômetro quadrado. A capital chega a ter 14 mil pessoas por quilômetro quadrado. "Há infra-estrutura subaproveitada."

O prefeito de Caieiras, Névio Luiz Aranha Dártora (PSDB), foi procurado pelo Estado, mas informou por meio de sua Assessoria de Imprensa que não gostaria de falar sobre o projeto da Camargo Corrêa. Isso porque a prefeitura ainda não recebeu nenhuma notificação oficial sobre os planos da construtora.

TRENS

Caieiras está em uma das regiões que receberam investimentos da CPTM para transformar a Linha A, que atende à cidade, em uma espécie de metrô de superfície, reduzindo os atuais dez minutos de espera pelas composições para quatro minutos. Para isso, será investido cerca de R$ 1,4 bilhão.

O dinheiro será usado, principalmente, na aquisição de 20 novos trens. Em segundo lugar, todas as estações serão remodeladas. A da Lapa, que será ponto de partida tanto da linha A como da B, será transformada em uma grande estação terminal. Segundo previsão do governo, todas as reformas estarão concluídas até 2010, coincidentemente o ano em que as primeiras unidades do condomínio começarão a ser vendidas.


Local foi primeiro ponto de fabricação de papel no País

Caieiras surgiu de uma fazenda no século 19, criada pelo coronel Antônio Proost Rodovalho, nas margens do Rio Juqueri-Guaçu. O nome se deve ao fato de ter sido achado muito calcário na região, usado por Proost na fabricação de cal, que era levada em lombos de burros até Perus. A chegada da linha Santos-Jundiaí fez do local importante parada dos trens. Foi também na cidade que, no fim do século 19, o papel começou a ser fabricado no País, dando início à Companhia Melhoramentos, que vendeu seus terrenos à Camargo Corrêa. O início da fabricação do papel foi notícia de primeira página do Estado, em 20 de abril de 1890.

OESP, 05/04/2008, Metrópole, p. C8
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