O número de acidentes envolvendo animais silvestres na Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, no Espírito Santo, tem aumentado nos últimos anos. Muitas vezes os atropelamentos são causados pelo descuido dos motoristas e pela falta de respeito aos limites de velocidade estabelecidos para o pequeno trecho de cinco quilômetros da BR 101 Norte, que corta o único espaço protegido ao longo da rodovia no norte capixaba. A BR-101 alcança a unidade de conservação no quilômetro 101, sentido Norte/Sul, Barra Seca da Ponte Nova, no município de Jaguaré até o Km 106, Juaerana B, nos municípios de Linhares e Sooretama.
A rodovia nesse trecho de cinco quilômetros é plana e reta, o que estimula os motoristas a ultrapassarem os limites de velocidade. Estima-se que a maior parte dos veículos circulem a mais de 120 quilômetros por hora dentro da unidade de conservação, eliminando todas as chances de um animal silvestre atravessar a rodovia com segurança.
Segundo dados apresentados pela bióloga Juliana Agnezi, entre dezembro de 2002 e setembro de 2003, 581 animais foram atropelados no trecho, dentre os quais 193 espécies de mamíferos. Em diversas partes do mundo, passagens têm sido construídas sob rodovias para permitir a transposição de animais silvestres, inclusive no trecho da Rodovia do Sol, que atravessa o Parque Estadual Paulo César Vinha, em Setiba, Município de Guarapari, Espírito Santo.
ESTUDOS - Estudos conduzidos nestas localidades demonstram que, para os túneis atingirem seus objetivos, uma série de aspectos tem que ser considerada, como o seu dimensionamento, a existência de áreas secas com espaço adequado para o deslocamento dos animais, iluminação mínima, valas para a circulação de água e estruturas como cercas para direcionar os animais para as passagens.
Em 2003 foi realizado um monitoramento na rodovia, que constatou uma média de atropelamento de dois animais por dia, afirma o chefe da Rebio de Sooretama, Eliton Lima. De acordo com ele, já foram realizadas várias campanhas na rodovia para conscientizar os motoristas a trafegar em baixa velocidade. "Nenhuma campanha teve retorno satisfatório. Já recorremos ao Deparamento de Infraestrutura de Transportes para melhorar a sinalização da rodovia, sem muito resultado", afirma.
O chefe da unidade disse que está trabalhando junto à Procuradoria Federal para que os órgãos envolvidos - DNIT, ICMBio, Polícia Rodoviária Federal e Ministério Público Federal - façam um estudo a fim de elaborar um projeto com medidas eficazes para a diminuição dos atropelamentos, mortes e mutilação de animais silvestres, considerando os diferentes grupos e hábitos de animais que vivem no ambiente protegido e que transitam naturalmente de um lado para o outro da rodovia.
"Uma das principais medidas que devem ser priorizadas num estudo de melhoria do trecho da BR deve envolver o controle de velocidade dos veículos, para assegurar que qualquer espécie de animal silvestre cumpra sua função ecológica dentro da unidade de conservação sem ser molestada pelo descaso de condutores que colocam em risco a vida animal da reserva", conclui o chefe da unidade.
RELATÓRIO - O último relatório realizado a pedido da Promotoria Federal de São Mateus, no Espírito Santo, aponta que algumas estruturas podem ser utilizados para contribuir com a redução de atropelamentos de animais silvestres no trecho em discussão, como a colocação de redutores de velocidade ou a alocação de pontes construídas com cabos e redes no dossel da mata para a transposição de espécies arborícolas, desde que utilizados conjuntamente com as passagens subterrâneas, alternativa indispensável para a solução do problema apresentado neste relatório. Outra alternativa levantada seria a construção de canaletas no trecho de cinco quilômetros com limitadores de velocidade para evitar a ultrapassagem de veículos na travessia da BR pela Unidade de Conservação.
Uma das principais ameaças à vida dos animais da reserva é representada pela alta velocidade com que os veículos são conduzidos no trecho. Nos últimos sete anos, três onças foram atropelas nesse trecho. O último caso ocorreu nesse mês, causando a morte de morte uma onça parda com idade estimada de quatro anos e com cerca de 60 quilos.
UC:Reserva Biológica
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