AM valida método para evitar desmatamento

Brasil Econômico, Inovação & Sustentabilidade, p. 14-15 - 21/07/2011
AM valida método para evitar desmatamento
Projeto financiado pela rede Marriott consegue aprovação de mecanismo criado para calcular crédito de emissão de carbono segundo modelo em discussão nas negociações da ONU.

Martha San Juan França
mfranca@brasileconomico.com.br

Enquanto as negociações internacionais sobre um novo acordo do clima ainda engatinham e o Congresso Nacional vive o impasse sobre o novo Código Florestal, iniciativas que aplicam os conceitos do REDD, ou Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação, prosseguem na Amazônia e em outras partes do mundo.
A ideia, lançada há quatro anos na 13ª Conferência das Partes (COP-13), em Bali, visa criar valores econômicos para a floresta em pé, ou para o desmatamento evitado, desde que haja fontes de financiamento. Uma das dificuldades para isso é estabelecer como medir, relatar e verificar as reduções de emissões pela conservação de florestas.
A Fundação Amazonas Sustentável (FAS), parceria público privada entre o governo do Amazonas e o Bradesco, uniu seu método de verificação com o do Fundo Biocarbon do Banco Mundial, para estabelecer um mecanismo que pode ajudar a abrir o mercado de carbono por desmatamento evitado em vários países, além do Brasil.
Validação
A metodologia que permite a obtenção de créditos de carbono está sendo aplicada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, em Novo Aripuanã (AM), sendo a primeira a ser validada pelo Verified Carbon Standard (VCS). Os créditos de carbono estão sendo usados para neutralizar as emissões da rede de hotéis Marriott.
A existência de validação é importante uma vez que, como não existem regras pré-definidas para transações de créditos por REDD, é preciso adotar salvaguardas que garantam a consistência e transparência dos projetos. Até hoje, apenas cinco metodologias foram validadas no VCS, mas a do Juma é a única do Brasil.
Segundo o superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana, a aprovação da metodologia é importante porque teve o assessoramento técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), além da consultoria Carbon Decision International (CDI), o que mostra que os pesquisadores brasileiros têm condições de participar da definição de metodologias internacionalmente reconhecidas, que até agora eram estabelecidas pelos países desenvolvidos.
A Reserva do Juma já tinha certificação pelos padrões do Climate, Community Biodiversity Alliance (CCBA), que verifica os impactos positivos do projeto nas comunidades e sobre a biodiversidade, mas o VCS é mais técnico.
"Conseguimos fazer um roteiro de como deve ser feito um projeto de REDD", diz Viana. "De agora em diante, quem quiser seguir este caminho, pode submetê-lo ao VCS e assim ter facilidade maior para conseguir créditos de carbono no mercado voluntário."
De acordo com Viana, a aprovação da metodologia dá mais segurança e resolve muitas dúvidas que existiam sobre a fórmula de calcular as emissões.
"Queremos enfatizar a valorização do ativo da floresta, em vez de diminuir o passivo", diz. Viana considera que isso é importante nas negociações que prosseguem sobre mudanças climáticas na COP-17, marcadas para dezembro em Durban.
A proposta, segundo ele, também facilita a aprovação de projetos em países em desenvolvimento, principalmente na África, de restauração de ecossistemas que retiram ou conservam carbono nas florestas, e se candidatam a receber financiamento do Fundo Biocarbon, do Banco Mundial.


Reserva tem projeto pioneiro

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, onde vivem cerca de 430 famílias em 48 comunidades, foi criada pelo governo do; Amazonas há nove anos com o objetivo de proteger a floresta com alto valor de biodiversidade e propiciar a melhoria da qualidade de vida a seus habitantes por meio do Bolsa Floresta. O Projeto de REDD, desenvolvido pela Fundação Amazonas Sustentável, tem o apoio da rede de hotéis Marriott, e deverá resultar na contenção de desmatamento de quase 8 mil hectares de floresta, evitando o lançamento de 3,6 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. "Além da contribuição direta, de US$2 milhões, o Marriott obteve mais US$ 250 mil de seus hóspedes que se dispõem a neutralizar as emissões de carbono relativas à hospedagem, eventos e doações de empregados e parceiros de negócios", diz Mari Snyder, vice-presidente de responsabilidade social da rede.


Evolução na América Latina
Cartilha apresenta outras iniciativas

O Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) acredita que outros projetos relacionados a REDD em desenvolvimento no Brasil e na América Latina podem usufruir da metodologia aprovada pelo Verified Carbon Standard (VCS). A instituição elaborou uma cartilha; em colaboração com a entidade não-governamental The Nature Conservancy, destinada a apresentar para governos, investidores e sociedade as iniciativas que estão mais adiantadas na possibilidade de serem eleitas para o mercado de carbono. "Fizemos uma linha de corte para identificar os projetos mais elegíveis, mas alguns podem não conseguir acompanhar um processo rigoroso de, quantificação de emissões", diz Mariano Cenamo, secretário-geral do Idesam. O guia mapeou 17 projetos em diferentes fases de implementação na Bolívia, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Brasil, além de iniciativas internacionais relacionadas ao REDD, como o Fundo Amazônia no Brasil e o Forestry Carbon Partnership Facility, do Banco Mundial. A quase totalidade está na Amazônia, sendo apenas um em Guaraqueçaba, litoral paranaense.

Brasil Econômico, 21/07/20011, Inovação & Sustentabilidade, p. 14-15

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