Fogo castiga a floresta Nacional

CB, Cidades, p.27 - 03/09/2004
Fogo castiga a Floresta Nacional
É o segundo maior incêndio de 2004 no DF. Mais de 210 hectares foram destruídos. Chamas começaram pela manhã e até o início da noite ainda não tinham sido controladas. Existe a suspeita de ação criminosa
Guilherme Goulart
Da equipe do Correio
O azul deu lugar ao negro nos céus do Distrito Federal. Um dos maiores incêndios de mata nativa do ano castigou pelo segundo dia consecutivo parte da Floresta Nacional de Brasília (Flona). Até o fim da tarde, pelo menos 210 hectares tinham sido destruídos pelo fogo. A densa nuvem de fumaça que encobriu a área de preservação poderia ser vista do Memorial JK, no Eixo Monumental, a partir do meio-dia. Oito horas depois as chamas permaneciam fora de controle.
O combate ao fogo mobilizou equipes do Corpo de Bombeiros e da Brigada de Incêndio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Prevfogo. Homens equipados com abafadores e galvanizadores de água embrenharam-se na mata desde as primeiras horas do incêndio, por volta das 10h. Cercaram as chamas por dois fronts dentro da Área 1 — a Flona tem nove mil hectares e está dividida em quatro regiões nas proximidades de Taguatinga e Brazlândia.
Cerca de 60 bombeiros de três batalhões e 30 técnicos do Prevfogo se dividiram entre a Floresta de Eucaliptos e a área de nascente ao lado do Córrego das Pedras. Tiveram como apoio um helicóptero e pelo menos dez veículos de combate a incêndio. A oscilação do vento dificultou o trabalho, que não pôde ser interrompido nenhuma vez ao longo do dia. Ainda assim, a linha de fogo atingia sete quilômetros de extensão no início da noite. A área queimada correspondia ao equivalente a 400 campos de futebol.
A previsão do Corpo de Bombeiros é tentar controlar o incêndio até o início da manhã de hoje. ‘‘A ação será ininterrupta. Não queremos que a destruição chegue perto da maior do ano, registrada na Chapada Imperial’’, explicou o major Rogério Soares, chefe da Comunicação Social dos Bombeiros. A área localizada entre Sobradinho e Brazlândia teve 2,4 mil hectares devastados durante dois dias, em agosto.
‘‘Piromaníaco’’
O chefe da Flona, Guilherme de Almeida, suspeita de ação criminosa. Ele afirmou que até o fim da manhã ronda realizada por vigilantes do parque não descobriram nenhum foco. ‘‘Apesar da ausência de fogo e dos indícios da ação de um piromaníaco, não podemos descartar a hipótese de reignição’’, revelou o técnico do Ibama.
O combate na região começou na quarta-feira, quando as chamas consumiram menos de cem hectares da Flona. O incêndio, controlado em oito horas, foi provocado pelos próprios funcionários da reserva ecológica. Eles realizavam aceiros, técnica de fogo provocado para reaproveitamento do solo. O acidente de trabalho mobilizou 70 homens.
A maior preocupação dos técnicos do Ibama e dos bombeiros se concentrou na área de nascentes e na zona rural Incra 7. A prioridade, porém, ficou para a nascente do Córrego das Pedras. Ali, as árvores nativas são usadas por animais silvestres como única forma de proteção durante o fogo. A devastação provoca ainda risco de erosão em épocas de chuva e diminuição no volume de água a longo prazo.
‘‘A área é uma das duas nascentes que, juntas, desembocam no Rio das Pedras e logo em seguida no Rio Descoberto. É onde a Caesb (Companhia de Abastecimento do DF) tem grande rede de captação de água’’, disse o agente de suporte da Caesb no Ibama, Valdeir Pereira da Silva. A outra fonte de água é o Córrego dos Currais, próximo à BR-070.
Os bombeiros também encontraram dificuldades do lado oposto ao Córrego das Pedras. Pés de eucaliptos queimaram até as copas. As labaredas altas impediram a entrada dos combatentes no campo de reflorestamento. O acúmulo de folhas secas no chão ajudou a alastrar o fogo. ‘‘A situação é complicada porque a toda hora surge um foco novo. Com o vento forte, o perigo é maior’’, explicou o tenente Humberto Marques, do 4o Batalhão de Incêndio Florestal.
O Corpo de Bombeiros detectou ontem 15 focos em todo o Distrito Federal. Até a primeira quinzena de agosto, haviam sido registrados 1,3 mil incêndios no cerrado.

CB, 03/09/2004, p. 27
UC:Floresta

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Brasília (FLONA)
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.