Indígenas da Raposa-Serra do Sol visitam projeto de geração solar-eólica na Ilha de Lençóis (MA)

ISA - http://www.socioambiental.org/ - 09/12/2011
Uma comitiva formada por cinco lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol e técnicos do ISA visitou a Ilha de Lençóis, na Reserva Extrativista de Cururupu/MA, no início de novembro, para conhecer um projeto bem sucedido na geração de energia solar-eólica. O projeto está em funcionamento há três anos e meio e fornece energia 24h para uma comunidade de pescadores com quase quinhentas pessoas. A ideia é implantar na Raposa-Serra do Sol projeto semelhante.

A visita é parte do projeto Cruvianas, desenvolvido pelo ISA e pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), e foi acompanhada por técnicos do instituto e do Núcleo de Energias Alternativas da Universidade Federal do Maranhão (NEA/UFMA). Os indígenas visitaram as instalações e realizaram entrevistas com os moradores da ilha e com os pesquisadores da UFMA. Também fizeram o registro audiovisual, que tem sido apresentado nas reuniões e assembleias.

O objetivo da visita foi verificar se a geração é suficiente e confiável, os riscos de acidentes, os custos envolvidos, e também os benefícios e problemas que a geração 24h trouxe para a comunidade de pescadores. O sistema é formado por três aerogeradores de 7,5 kW cada, 150 m2 de painéis solares com geração máxima de 21kW e 120 baterias de 150ah. Um gerador diesel de 53 kVA é acionado em caso de emergência. Mas a geração solar-eólica com o apoio do banco de baterias, mesmo nas épocas em que o vento e o sol são mais fracos, responde por 95 a 99% da energia consumida pelos moradores.

Para manter o sistema eficiente, o banco de baterias precisa ser substituído periodicamente, o que acontece a partir de dois anos de uso, a um custo aproximado de R$ 80 mil. Metade desse custo ainda é pago com recursos do projeto desenvolvido pelo Núcleo de Energias da UFMA. A outra parte é paga pelos moradores, que têm medidores de energia e contribuem de acordo com seu consumo, por meio da Associação de Moradores, para um fundo destinado à manutenção do sistema.

No caso do Maranhão o Luz Para Todos foi parceiro da universidade no desenvolvimento e implantação do projeto, mas até agora sua gestão não foi assumida pela subsidiária estadual. Para evitar a descontinuidade da geração e também estimular a formação dos estudantes de pós-graduação, a universidade continua tocando o projeto. Superadas as dificuldades técnicas e logísticas, atualmente o maior desafio do projeto é resolver os entraves políticos e jurídicos que envolvem a transferência do sistema para a responsabilidade do governo estadual.

O potencial da TI Raposa-Serra do Sol

A Terra Indígena Raposa-Serra do Sol está em uma região com grande potencial para energias alternativas, com muito vento, sol e cachoeiras. Até hoje, entretanto, o sol e o vento ficaram de fora dos planos do governo, e a exploração hidrelétrica continua sendo apontada pelo Programa Luz Para Todos como solução para levar energia às comunidades indígenas. O projeto de construção de duas mini-hidrelétricas, que já havia sido rejeitado em assembleia pelos povos indígenas, foi finalmente paralisado em setembro deste ano, depois que um parecer da Funai indicou que ainda não há regulamentação para exploração dos recursos hídricos em Terras Indígenas.

Como a distância impede a interligação da maioria das comunidades à rede de energia, os indígenas esperam agora que as fontes alternativas de geração, como a eólica e a solar, sejam finalmente avaliadas e incluídas nos planos de governo como uma alternativa para as comunidades isoladas em Roraima. Enquanto isso, a energia que chega às comunidades indígenas continua sendo fornecida por uma centena de geradores a diesel, uma solução cara, barulhenta e poluente, que funciona apenas algumas horas por dia. Apesar de serem contrários à construção de hidrelétricas, inclusive de mini-hidrelétricas, as lideranças da Raposa Serra do Sol também pretendem conhecer e avaliar sistemas de geração hídrica baseados no uso de geradores portáteis que não exigem a realização de obras no leito dos rios.

Apoio à pesquisa de energias alternativas

A 40ª Assembléia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, em março de 2011, confirmou a decisão de apoiar a pesquisa para a geração de energias alternativas e rejeitar a construção de mini-hidrelétricas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. A partir daí, a busca por uma alternativa energética construída com a participação dos povos indígenas tem sido o objetivo de uma parceria entre o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e o Instituto Socioambiental (ISA). O primeiro resultado da parceria foi a pactuação de um processo de consulta, que já está em andamento, para permitir uma decisão informada das comunidades, lideranças e da Assembleia Geral sobre a implementação de projetos de geração de energia na Raposa-Serra do Sol.

O processo de consulta envolve a realização de reuniões em diferentes locais da TI, intercâmbio com especialistas e comunidades de outros estados, produção de material informativo, capacitação de estudantes indígenas, participação de técnicos em reuniões e assembleias regionais e, finalmente, a realização de um seminário com ampla participação das lideranças indígenas.

Pesquisadores da UFMA participam de assembleia na Raposa-Serra do Sol

Pesquisadores do Núcleo de Energias Alternativas, vinculado ao Instituto de Energia elétrica da UFMA, estiveram em Roraima no mês de dezembro para participar de uma assembleia indígena na Raposa Serra do Sol, onde explicaram o modelo de geração implementado na Ilha de Lençóis e responderam aos diversos questionamentos das lideranças indígenas sobre a viabilidade da implementação de um modelo de geração semelhante na TI Raposa Serra do Sol. Atualmente está sendo avaliada a formalização de uma parceria para cooperação técnica entre ISA, UFMA e CIR, para a realização de atividades em 2012 visando o processo de consulta e eventualmente a elaboração de projetos de geração solar-eólica. Os pesquisadores também estiveram em uma reunião com a coordenação local do Programa Luz Para Todos, Companhia Energética de Roraima e Instituto Socioambiental. A reunião foi útil para reafirmar a viabilidade técnica da geração alternativa, e apontar para a necessidade de estudos sobre a sua viabilidade econômica, considerando a possibilidade de financiamento pelo governo federal em parceria com organizações privadas que apoiam o Conselho Indígena de Roraima.

O projeto Cruvianas conta com o apoio da Ajuda da Igreja da Noruega (AIN/NCA) e de Gisela Moreau.



http://www.socioambiental.org/noticias/nsa/detalhe?id=3478
Energia:Fontes Alternativas

Unidades de Conservação relacionadas

  • TI Raposa Serra do Sol
  • UC Cururupu
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.