O estouro da boiada pirata

CB, Brasil, p. 17 - 21/06/2008
O estouro da boiada pirata
Governo aperta controle sobre gado criado irregularmente em áreas de preservação.
Rebanho apreendido será leiloado pelo Ibama

Hércules Barros
Da equipe do Correio

Um estouro de boi pirata entrou em curso no Pará.
A dispersão do rebanho ocorre desde a semana passada, quando o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu 3,1 mil cabeças de gado na Estação Ecológica Terra do Meio, de 3,3 milhões de hectares. A ação do órgão está respaldada pela Justiça, que havia notificado o dono dos animais pelo menos três vezes, mas o pecuarista sempre postergava a retirada. A medida deixou em pânico os fazendeiros do estado que estão sob notificação e têm provocado congestionamento de bois nas estradas paraenses com a evacuação de áreas de preservação.
"Eles tinham sido notificados e achavam que a gente estava de brincadeira. Quando viram que é sério, resolveram tirar das reservas", afirma o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. O ministro vai apresentar na terça-feira o resultado da apreensão e deve anunciar o início de uma série de operações de combate à criação ilegal de bois na Amazônia Legal. "São fotos aéreas com corredor de boi saindo de unidades de conservação", explica. Quatro fiscais do Ibama e 10 policiais militares ambientalistas, além de seis técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estão cuidando do rebanho.
De acordo com o ministro, o gado embargado vai ser leiloado e parte do dinheiro arrecadado vai para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). "Vai ser um churrasco ecológico para o Fome Zero", diz. Assessores do ministério adiantam que 22 touros reprodutores de primeira linha fazem parte do pacote, mas evitam falar em valores. O dinheiro também será aplicado nas novas operações do Ibama - que deve ficar responsável pelo leilão do gado, bem como da madeira e dos cereais apreendidos nas últimas semanas. "O lance ficará abaixo do preço de mercado porque o frigorífico que arrematar terá que arcar com o transporte. A região é de difícil acesso", esclarece um assessor do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
O efeito colateral da apreensão é considerado positivo pela organização ambientalista Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. O diretor da ONG, Roberto Smeraldi, faz ressalvas: "Desde março de 2006 que a Lei de Crime Ambiental qualifica isso (gado em unidade de conservação) como crime. Não há porque ser objeto de advertência", explica. Pelas estimativas da ONG, na Terra do Meio há entre 100 e 120 mil cabeças de gado.
Florestas públicas
De acordo com o Cadastro Nacional de Florestas Públicas, as áreas de florestas públicas no Brasil chegam a 25% do território nacional. São 211 milhões de hectares de florestas, sendo 185 milhões em áreas de unidades de conservação federal e terras indígenas e outros 25 milhões de hectares em terras sem destinação, ou seja, em áreas que não tiveram nenhuma destinação pública ou privada estabelecida legalmente. Os dados, divulgados ontem pelo diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, representam um acréscimo de 11,26% em relação ao ano passado.

CB, 21/06/2008, Brasil, p. 17
UC:Estação Ecológica

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