Preso no Rio suspeito de assassinar ambientalista

OESP, Nacional, p.A7 - 25/02/2005
Preso no Rio suspeito de assassinar ambientalista
Cerca de 200 pessoas acompanharam enterro de Dionísio Júlio Ribeiro Filho ontem pela manhã

RIO - Um suspeito do assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho foi preso e outro, detido, entre a noite de quarta-feira e a tarde de ontem. Os dois negaram que tenham cometido o crime, ocorrido na terça-feira. O corpo de Júlio foi sepultado de manhã, no Rio. Cerca de 200 pessoas, entre amigos, ativistas e autoridades acompanharam o enterro. Uma amiga contou que ele recebeu carta com ameaças cinco dias antes de morrer. "Abra o olho que sua hora vai chegar", dizia a correspondência.
José Reis de Medeiros Alves, de 40 anos, foi preso na quarta-feira à noite numa casa no entorno da Reserva Biológica do Tinguá, perto do local do crime e também da casa da vítima. A polícia chegou até ele graças a uma ligação recebida pelo Disque-Denúncia, segundo a qual Alves e um outro homem, identificado apenas como Leonardo, teriam matado Júlio. Leonardo prestou depoimento na Delegacia de Homicídios da Baixada e foi liberado.

Alves foi mantido preso porque é foragido da Justiça. Ele já foi condenado e cumpriu pena por um homicídio cometido no município de Miguel Pereira, no interior do estado. Matou outras duas pessoas, uma na mesma cidade e outra em Mendes. Para o delegado Rômulo Vieira, Alves é só um suspeito, "com um histórico de homicídios que conspiram contra ele."

Residindo há 8 meses nas redondezas da reserva, Alves confessou que retirava frutas da área preservada e tinha preparado armadilhas para caçar gambás. Nada, garantiu, que tivesse provocado desentendimentos com Dionísio. O delegado Roberto Cardoso, da Delegacia de Nova Iguaçu, não fornecer detalhes sobre o segundo suspeito por não ter confirmação de que ele participou do crime.

LULA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou às autoridades policiais que atuem "com rigor" para punir os assassinos do ambientalista o mais rápido possível. Em nota de pesar divulgada ontem, Lula diz que recebeu a notícia do assassinato com "tristeza e consternação". "O País deve a mais profunda gratidão por sua luta pela preservação da natureza e pela criação da Reserva Biológica do Tinguá", escreveu o presidente.

Arqueóloga recebe ameaças de morte

OCUPAÇÃO: A arqueóloga Niède Guidon informou que está sendo ameaçada de morte no Parque Nacional Serra da Capivara. Ela informou ainda que a Unesco considerou o parque em situação de risco, observando-se depredações nas inscrições rupestres. Niède Guidon, que está reunida com os procuradores da República e do Estado do Piauí, Tranvanvan Feitosa e Maria Eugênia Bastos, respectivamente, além de representantes do Ibama e da Curadoria do Meio Ambiente, afirmou que as ameaças se devem às denúncias que tem feito contra os assentamentos que estão querendo instalar na região do parque. Ela disse que passou a andar com seguranças por conta disso e que o chefe do parque, Jorge Antônio Ribeiro Santos, também está sendo ameaçado de morte. "Não vou me calar diante das ameaças que sofri. Não posso ver os caçadores atirando nas inscrições e depredando o parque", disse a arqueóloga.

Cada árvore rende apenas um vidro de palmito

RIO - Cada palmeira de cerca de 10 metros de altura derrubada nas reservas do Rio rende pouco mais de um pote de palmito e entre R$ 1 e R$ 3 para o extrator. Na Reserva Biológica de Tinguá, onde o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro foi morto, os palmiteiros entram por trilhas e ficam acampados por dois ou três dias. Saem da floresta também por trilhas e armazenam os palmitos perto da estrada, fora da reserva, onde ficam estacionados caminhões e carroças.
"Eles atuam de acordo com a encomenda e são mal pagos", disse o vice-presidente do Grupo de Defesa da Natureza, Denilson dos Anjos. "Há quem aceite uma garrafa de cachaça pelo serviço."

Denilson trabalhava com Júlio e também está ameaçado de morte. De acordo com suas informações, os três fiscais que atuam na reserva não conseguem impedir a atividade nos 27 mil hectares de Mata Atlântica. Os três veículos oficiais estão quebrados e a fiscalização é feita com carros de ambientalistas voluntários ou a pé.

O problema não se restringe à Tinguá. Os parques nacionais da Serra da Bocaina e de Itatiaia, e a unidade de conservação de Parque União, em Silva Jardim, também sofrem com a atuação dos extratores.

A situação é mais grave na Bocaina, segundo o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis. "É o maior parque do Estado e o mais vulnerável: temos três fiscais para uma área de 104 mil hectares", disse o diretor do parque Daniel Toffoli.

OESP, 25/02/2005, Nacional, p.A7
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