Reserva do Tinguá pede socorro

JB, Cidade, p. A7 - 22/02/2006
Reserva do Tinguá pede socorro
Um ano depois do assassinato de um dos principais defensores da área, repressão aos crimes ambientais continua ineficaz

O assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, 61 anos, próximo à Reserva Biológica do Tinguá, completa hoje um ano, e as promessas de combate às agressões ambientais da região não saíram do papel. Ecologistas afirmam que a reserva e o seu entorno ainda sofrem com os mesmos problemas denunciados por Júlio: a extração ilegal do palmito, a atuação dos caçadores, a exploração de areia e a ocupação irregular do solo. As irregularidades constam num dossiê de uma ONG encaminhado há uma semana para a Procuradoria-Geral da República em São João de Meriti.
- Desde a morte do Júlio, a situação da reserva e do seu entorno piorou. As ações das autoridades públicas para resolver os problemas não passaram de promessas - protesta o presidente da ONG Defensores Ambientais do Gericinó-Mendanha-Tinguá (DAMGEMT), Gilvoneick de Souza, que encaminhou o relatório para a procuradoria.
No dossiê - elaborado pela ONG - os ecologistas denunciam que há mais de 50 areais clandestinos no entorno da reserva. A exploração da areia foi fotografada e filmada pelos ambientalistas em outubro passado.
- São formadas várias crateras que enchem com a água das chuvas. Essa situação é irreversível - diz Souza, lembrando que as ameaças veladas aos ambientalistas não cessaram.
De acordo com os ecologistas, a extração predatória de palmito e a caça de animais silvestres continuam a avançar. O ambientalista Sérgio Ricardo de Lima garante que ainda persiste o quadro de abandono da reserva. Segundo Lima, constantemente, os veículos usados na fiscalização estão quebrados, faltam equipamentos e o número de fiscais é reduzido. Lima também denuncia que a criação da Guarda Ambiental - anunciada pela prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, - e a força-tarefa prometida pelo governo federal para combater as irregularidades foram só promessas.
O secretário adjunto de Meio Ambiente de Nova Iguaçu, Antônio de Gouveia, explicou que a criação da Guarda Ambiental esbarrou em entraves burocráticos já solucionados. Hoje, a prefeitura vai assinar com uma ONG o convênio para viabilização da guarda, que deve começar a atuar em março.
Dionísio Júlio foi morto com um tiro de escopeta na noite de 22 de fevereiro de 2005, quando voltava para casa depois de reunião na Associação de Moradores de Tinguá. Menos de uma semana depois do crime, a polícia apresentou o caçador Leonardo de Carvalho Marques, 21 anos, como autor do assassinato. Na ocasião, ele confessou ter matado o ambientalista em represália às denúncias que resultaram em apreensões das armas dos caçadores, mas voltou atrás em depoimento à 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu. Ele disse que só confessou o crime porque foi torturado pela polícia. Leonardo, único acusado pelo crime, será julgado em 27 de abril.
Atraso na criação de força-tarefa
O projeto do governo federal para levar uma força-tarefa - que reúne as polícias Federal, Civil e Militar, além de representantes da prefeitura - à Reserva do Tinguá teve que ser refeito. O gerente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Rio, Rogério Rocco, afirmou que o projeto desenvolvido pelo órgão em 2005 estava mal elaborado. A nova versão do documento, orçada em R$ 500 mil, deverá ser apresentada na próxima semana, com um ano de atraso.
- Reconheço a demora, mas é uma revisão de metas. O próximo passo é discutir o projeto com a sociedade. Além da força-tarefa, estão previstas a criação de uma outra sede em Miguel Pereira e a regulamentação da cobrança pelo uso do solo das empresas que utilizam o interior da reserva - garantiu Rogério.
Para o gerente do Ibama, o maior desafio na região é a gestão compartilhada com os seis municípios do entorno. É preciso a ajuda da prefeitura para controlar, por exemplo, o crescimento em direção à mata das comunidades na margem da reserva.
- Dentro do projeto está previsto um grande programa de conscientização ambiental dos moradores e de inserção dessas pessoas em atividades econômicas que potencializem os recursos naturais da região - afirmou o gerente.
Além de educar a população, o chefe da reserva, Luiz Henrique dos Santos Teixeira, acredita que seja necessária a instalação de equipamentos capazes de monitorar a região através de fotos via satélite.
Hoje, em protesto pelo assassinato de Júlio Ribeiro e descaso com a reserva, ambientalistas farão um ato na Praça do Tinguá. Às 19h, uma missa será celebrada no mesmo local.

JB, Cidade, 22/02/2006, p. A7
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