Serra do Cachimbo funciona como reservatório de águas do Xingu e Tapajós

ICV - 15/06/2007
Área é de extrema importância para a alimentação das bacias hidrográficas da região. Reserva criada em 2005 tem ambiente extremamente frágil e suscetível à erosão.

Uma das conclusões mais significativas dos estudos ecológicos realizados pelo Instituto Centro de Vida (ICV) na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, no extremo sul do Pará, na divisa com Mato Grosso, é sua extrema importância para a alimentação das bacias hidrográficas do Xingu e do Tapajós. Os estudos serviram de base para a elaboração do Plano de Manejo da reserva, em fase de conclusão, e estão disponíveis para o público na internet (confira os mapas do trabalho).

Com uma idade geológica de dois bilhões de anos, a Serra do Cachimbo funciona como uma verdadeira caixa d’água dos principais rios situados em sua porção da Amazônia Meridional e os 11 rios que nascem nela nunca secam. Gustavo Vasconcelos Irgang, coordenador do Programa de Conservação e Áreas Protegidas do ICV , explica que há dois bilhões de anos a região era o fundo do oceano. Hoje, o topo da serra é um grande bloco arenítico a 700 metros do nível do mar que se enche de água durante a época de chuva e libera todo esse reservatório aos poucos durante a seca.

Esse bloco arenítico compõe 80% do solo da reserva, um ambiente extremamente frágil e suscetível à erosão. Em muitos locais, o que se vê no chão é uma fina areia branca, exatamente como nas praias de mar. Para segurar essa erosão, uma vegetação chamada campinarana cobre boa parte da reserva. Essa, aliás, é uma das surpresas encontradas pelos pesquisadores, pois à primeira vista a formação vegetal parece Cerrado, mas o clima é floresta uma novidade para quem é da região e costuma apontá-la simplesmente como Cerrado.

A Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo fica na área de influência da rodovia BR163 e foi criada em maio 2005 pelo Ministério do Meio Ambiente. Considerada de extrema importância para a conservação, a reserva do Cachimbo está em uma região de forte pressão humana, com cerca de 100 posseiros cujas propriedades estão dentro de seus limites e se recusam a sair. Eles reivindicam a revisão desses limites e uma mudança na categoria de conservação. A região é bastante povoada, então, o grande desafio dessa unidade de conservação é conciliar a preservação com a população, aponta Gustavo Irgang.

Os dois anos de trabalho que resultaram nos estudos da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo foram realizados com apoio do WWF-Brasil e contaram com a parceria do Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), da Força Aérea Brasileira, vizinho da área. Por meio de atividades abertas à comunidade, o Dia dos Portões Abertos, o CPBV ofereceu espaço para divulgação e esclarecimentos sobre o trabalho e a importância da conservação do Cachimbo para a comunidade local.

Outro parceiro importante para a realização dos estudos em campo foi a Associação dos Produtores Rurais do Vale do XV, que já vinha discutindo a preservação da área antes da reserva ser decretada. No entanto, o processo de criação da unidade de conservação pelo governo federal não levou em consideração as propostas dos produtores e hoje eles brigam na justiça para mudar a categoria da área e rever seus limites.
UC:Reserva Biológica

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