Brasileiros se unem para salvar os últimos 400 micos-da-cara-preta do planeta
12/04/2019 05h05
Por Mariane Rossi, G1 Santos
Estimativa é que existam apenas 400 indivíduos. Animais estão concentrados em unidades de conservação ambiental nos estados do Paraná e de São Paulo.
Pesquisadores de diferentes instituições estão unindo esforços para preservar uma das espécies de primata mais raras do mundo, o mico-leão-da-cara-preta. Apenas 400 indivíduos vivem em uma área restrita de Mata Atlântica localizada nos estados do Paraná e de São Paulo. Por isso, um novo projeto busca conhecer melhor os hábitos desses animais e, principalmente, preservar os indivíduos restantes da espécie para que ela não desapareça completamente.
O mico-leão-da-cara-preta (
Leontopithecus caissara) foi descoberto em 1990 e é um animal insetívoro e frugívoro, sendo a última espécie de mico-leão a ser descoberta. Ela é encontrada somente no Parque Estadual do Lagamar, em Cananéia (SP), e no Parque Nacional de Superagui (PR), duas importantes unidades de conservação. A espécie é categorizada como 'em perigo' pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente.
Por estarem presentes em uma pequena área, as ações de conservação da espécie são essenciais para que ela não seja extinta. Por isso, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) iniciou, em março, o Projeto de Conservação do Mico-leão-da-cara-preta. Promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o projeto terá duração de 18 meses e vai atuar em toda a área de ocorrência da espécie.
Os pesquisadores irão implementar as ações descritas no Plano de Ação Nacional (PAN), elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O plano contempla 13 espécies de primatas da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, entre elas, o mico-leão-da-cara-preta.
Uma das ações é o monitoramento dos grupos de micos, para que se possa ter uma nova estimativa de ocupação da população. A pesquisa começa no distrito de Ariri, em Cananeia, onde os pesquisadores estimam que hajam entre 150 a 200 micos, considerada uma população bem pequena.
Todo o mês, os pesquisadores passarão em torno de uma ou duas semanas em Cananeia para identificar e localizar os indivíduos. Os trabalhos começaram em março deste ano. Dois moradores locais foram contratados para auxiliá-los no monitoramento dos grupos de micos. Eles farão o registro do horário, local e das características dos micos que encontrarem na floresta.
"Eles vão nos ajudar a andar na região, já que conhecem a floresta, conhecem o mico. Eles vão fazer um trabalho de acompanhamento dos animais junto com a nossa orientação. Vamos com eles no mato, verificamos, localizamos os micos. Depois, a gente volta e eles continuam fazendo o monitoramento", explica Elenise Sipinski, coordenadora do projeto e representante da SPVS.
Segundo a bióloga, os dados existentes sobre a espécie, até então, são do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IP), que realizou estudos na área a cerca de cinco anos. Com novos dados da população será possível traçar novas ações de conservação do mico-leão-da-cara-preta.
"Queremos saber como eles estão vivendo para, no futuro, fazer uma estimativa da população, saber o estado deles, como estão se reproduzindo. Podemos acompanhá-los melhor e até colocar aqueles transmissores para monitorar os grupos, saber sobre a ecologia deles, se estão se reproduzindo, formando novos grupos e como estão se comportado neste ambiente", explica Elenise.
A espécie é ameaçada, principalmente, pelo isolamento de populações causado pela construção de um canal que separou o continente da ilha, em Cananeia, e que promoveu a desconexão de hábitat. Além disso, segundo a pesquisadora, a perda e a fragmentação de florestas e a febre amarela são alguns fatores que ameaçam a existência da espécie.
"Estamos monitorando para ver se a febre amarela pode afetar esses indivíduos. E, também, algum fenômeno natural. Ano passado, teve um ciclone na região que destruiu florestas onde eles habitam. Esses eventos devem ser monitorados para ver se está tendo algum tipo de pressão para essa população, que já é tão pequena. No futuro, quem sabe, até ter uma ação de manejo para unir essas duas populações que se espalharam com a separação do continente", explica.
Os dados coletados pelos pesquisadores também serão repassados as unidades de conservação onde vivem os animais, como Parque Estadual Lagamar e o Parque Nacional de Superagui. "Eles fazem planos de manejo, zoneamento da área, ações até de turismo. A ideia é apoiar essas áreas protegidas", disse.
O projeto da SPVS também contempla ações de educação para conservação e comunicação. Como a região de ocorrência do mico-leão-da-cara-preta faz parte de um grande destino turístico devido a seus atrativos naturais, culturais e históricos, ela precisa ser preservada. Por isso, a ideia é também trabalhar com os moradores locais para que eles tenham consciência de que o desenvolvimento desta região está em uma economia restaurativa que utiliza as riquezas locais em benefício da comunidade.
"A gente está com a iniciativa como uma região que deve ser desenvolvida de forma a valorizar os atributos naturais, culturais e históricos. E, entre os atributos naturais, o mico-leão-de-cara-preta é um deles. Essa espécie é muito endêmica, ela só ocorre neste local e em nenhum outro lugar do mundo. Ela está ameaçada e é um símbolo de conservação. É carismática. Sendo conhecida e monitorada, você agrega um valor à Mata Atlântica", afirmou a pesquisadora.
https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2019/04/12/brasileiros-se-unem-para-salvar-os-ultimos-400-micos-da-cara-preta-do-planeta.ghtml
Biodiversidade:Fauna
Unidades de Conservação relacionadas
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