Dias após ataque de Bolsonaro, base do ICMBio é assaltada em Roraima
Bandidos armados levaram quadriciclos e motores de popa; dias antes, presidente disse que estava "do lado do pessoal que não é muito chegado no ICMBio"
1o.jun.2021
Fabiano Maisonnave
MANAUS
Uma base do ICMBio em Roraima foi tomada de assalto neste fim de semana por homens armados. Os criminosos levaram material de garimpo recém-apreendido e patrimônio do órgão ambiental federal, incluindo quadriciclos e motores de popa.
O episódio mais grave ocorreu no domingo (30), quando homens encapuzados renderam três brigadistas que estavam na base da Estação Ecológica de Maracá, localizada às margens do rio Uraricoera. É o mesmo rio que atravessa a comunidade yanomami Palimiú, alvo de diversos ataques de garimpeiros armados durante o mês de maio.
Os criminosos obrigaram os brigadistas, indígenas da região contratados pelo ICMBio, a carregar o material roubado até o porto, a cerca de dois quilômetros da base. Em seguida, deixaram o local de barco. Os funcionários então avisaram sobre o assalto por meio de WhatsApp, segundo relatos obtidos pela reportagem.
Um dia antes, no sábado (29), homens armados já haviam levado um barco de garimpeiros apreendido durante a Operação Maracá, que envolveu fiscais do ICMBio e policias da Força Nacional (FN) e havia sido encerrada em 22 de maio.
A operação visava o combate de garimpos ilegais localizados dentro da Estação Ecológica (Esec) de Maracá, unidade de conservação federal administrada pelo ICMBio. Possui 103 mil hectares e foi criada em 1981, ainda durante a ditadura militar.
O ataque ocorre dias depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter atacado diretamente o órgão. Em live na quinta-feira (27), disse: "Fico do lado do pessoal que não é muito chegado no ICMBio, para deixar bem claro".
A transmissão foi feita durante visita a um pelotão de fronteira dentro da Terra Indígena Yanomami (AM/RR), que sofre com a crescente invasão de alguns milhares de garimpeiros, responsáveis pela destruição de margens de rios, contaminação das águas por mercúrio, além de introduzir armas, drogas, álcool e prostituição.
Em reação a Bolsonaro, vários funcionários e seus familiares gravaram um vídeo em quem afirmam ter "orgulho de ser servidor público do ICMBio e de cuidar da natureza do Brasil".
Desde que Bolsonaro foi eleito, em 2018, servidores do ICMBio relatam aumento de episódios violentos, em meio a reiteradas declarações do presidente contra a a fiscalização ambiental e a promessas de legalizar o garimpo dentro de áreas protegidas.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/06/dias-apos-ataque-de-bolsonaro-base-do-icmbio-e-assaltada-em-roraima.shtml?origin=folha
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