Maior biodiversidade da Amazônia e Terras Indígenas estão ameaçadas por construção de rodovia

Folha PE - https://www.folhape.com.br/noticias - 22/04/2022
Maior biodiversidade da Amazônia e Terras Indígenas estão ameaçadas por construção de rodovia
Local de execução do plano, o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), no Sudoeste do Acre, é uma Unidade de Conservação (UC)

Por Aline Melo
22/04/22 às 12H00 atualizado em 22/04/22 às 14H38

A maior biodiversidade da Amazônia e a proteção de Territórios Indígenas (TIs) sofrem ameaça com o projeto de construção da rodovia Pucallpa-Cruzeiro do Sul, que pretende ligar o Brasil ao Peru.

Local de execução do plano, o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), no Sudoeste do Acre, é uma Unidade de Conservação (UC) que tem tido um controle de preservação eficaz: em 30 anos, o local perdeu apenas 1% da sua cobertura florestal, em comparação aos 10% do entorno.

O dado é do estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, da Universidade Federal do Acre e da University of Richmond, publicado na revista "Environmental Conservation" nesta sexta-feira (22). Para entender como a região vem sendo explorada, imagens de satélite foram analisadas para acompanhar a dinâmica da mudança do uso do solo por 30 anos, entre 1988 e 2018.

O projeto viário, promovido pelo Governo Federal e o governo regional da cidade peruana de Ucayali, pretende conectar comercialmente o Acre à Ucayali e aos portos do país vizinho e deverá cortar os Parques Nacionais nos dois países.

Além de atravessar terras indígenas e zonas de narcotraficantes no Peru, pesquisadores alertam para o aumento do desmatamento em áreas mais internas da Serra e a possibilidade da construção de outras vias secundárias. De acordo com a pesquisadora Sonaira Silva, essa via também trará outros prejuízos ambientais.

"O benefício econômico que o Governo Federal justifica para a construção dessa rodovia é questionável, já que existe a Rota Interoceânica Sul (IOS) no leste do Acre, que liga Rio Branco aos portos do Pacífico no Peru desde o final de 2000. A construção dessa nova via pode trazer uma especulação imobiliária a região, criar polos de caças ilegal aos animais, aumentar a vulnerabilidade social da população locais e facilitar o tráfico de drogas na Amazônia", explica a pesquisadora da UFAC, Sonaira Silva.

Outro ponto levantado no estudo é a reclassificação da Serra do Divisor de Unidade de Conservação (UC) para Área de Proteção Ambiental (APA), o que permitiria a extração de recursos naturais. O projeto de Lei 6024/2019 pretende colaborar com o avanço do trecho da BR-364 para se chegar até o Peru, bem como explorar comercialmente a região.

"Esse projeto precisa levar em conta também a opinião das 400 famílias que vivem na região do Parque e dependem dele para sobreviver. Abrir caminho da mata fechada vai trazer sérios impactos como aumento do desmatamento, a biodiversidade endêmica e todas as demais espécies e no próprio regime climático regional e continental", alerta Sonaira.

Terras Indígenas
A região da Serra do Divisor é local da demarcação da Terra Indígena Nukini. O povo indígena Nawa, que foi expulso das terras originárias e luta há 22 anos pela demarcação oficial do seu território, autodemarcaram a margem direita do Rio Moa, que também fica dentro do PNSD.

O comunicador Tarisson Nawa conta que o projeto significa forte risco para os povos originários: "A estrada representa a morte do meu povo, que passou por processos históricos violentos. É mais um mecanismo de violentar os povos indígenas, não se pensa no aumento do desmatamento e do narcotráfico".

"Esse grande empreendimento vai afetar não só a vida dos nossos povos que estão passando por uma situação de risco, como também a continuidade da nossa cultura que há tempos é atacada. Nós fomos forçados a sair do nosso território ancestral porque o houve a transformação dos territórios indígenas em grandes cidades no Acre, como a cidade Cruzeiro do Sul, que era o nosso território ancestral. Então, o que vai acontecer é um processo violento de matança física e cultural do nosso povo", acrescenta.

O projeto também corta cerca de dez comunidades indígenas na região da Amazônia peruana.

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