Lula anuncia R$ 600 mi do Fundo Amazônia para municípios e demarca duas terras indígenas
Governo também entregou seis unidades de conservação e instituiu a Floresta Nacional do Parima
5.set.2023 às 16h31 Atualizado: 5.set.2023 às 19h37
João Gabriel Marianna Holanda
Brasília
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, nesta terça-feira (5), a criação de um novo programa que prevê o repasse de até R$ 600 milhões do Fundo Amazônia a municípios, para ações de combate ao desmatamento e aos incêndios florestais.
O governo também anunciou a reestruturação da Câmara Técnica de Destinação e Regularização Fundiária de Terras Públicas, duas demarcações de terras indígenas e uma série de ações em Roraima: a entrega de seis unidades de conservação (UCs), a instituição da Floresta Nacional do Parima (que fica próxima à Terra Indígena Yanomami) e a ampliação da estação ecológica de Maracá e do parque nacional do Viruá.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ainda oficializou um edital de mais de R$ 25 milhões voltado para a restauração da bacia hidrográfica do Xingu.
A transferência dos recursos do Fundo Amazônia vai acontecer proporcionalmente ao resultado obtido por cada município na redução da destruição da floresta, de acordo com os dados do programa Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os repasses devem ser investidos em atividades de regularização fundiária, controle do desmate e produção sustentável.
A baliza para a aplicação dos recursos será a mesma do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal).
O anúncio aconteceu durante evento no Palácio do Planalto para comemorar o Dia da Amazônia. Lula disse que vai provar que quem defende desmatamento, porque acha que ganha mais dinheiro assim, é ignorante, e destacou a importância do combate ao crime na região amazônica.
"A Polícia Federal, as Forças Armadas vão ter um papel importante para que a gente não permita que a Amazônia, além dos madeireiros, além dos garimpeiros, dos grileiros, que a Amazônia seja palco preferido do crime organizado neste país. Vamos combater todo e qualquer tipo de ilegalidade para que o povo da Amazônia possa viver tranquilo e feliz", afirmou.
"Vamos provar que aqueles que acham que tem que derrubar uma árvore para ganhar dinheiro são muito mais ignorantes que espertos. Porque pode ganhar muito mais dinheiro com a floresta em pé", completou, em sua fala, sob aplausos.
Ele afirmou ainda que destinará mais de 200 novos agentes da Polícia Federal para atuar na região e que trabalhará, internacionalmente, na conferência do clima da ONU, a COP28, em novembro e dezembro, para que os países ricos cumpram seu papel no financiamento do combate às mudanças climáticas.
Como antecipou a Folha, o presidente anunciou a demarcação de duas terras indígenas, ambas no bioma.
São os territórios de Rio Gregório, em Tarauacá (AC), e Acapuri de Cima, em Fonte Boa (AM). Eles fazem parte de um grupo de oito processos demarcatórios que já estão prontos para homologação -agora, o governo prepara um cronograma para anunciar os próximos seis a serem demarcados até o final do ano.
Estas duas terras já estavam prontas para homologação final pela Presidência desde a Cúpula da Amazônia, que aconteceu em agosto, em Belém. Na ocasião, como mostrou a Folha, por uma falta de alinhamento entre Casa Civil e Itamaraty, o anúncio foi cancelado.
A equipe de Lula avaliou que, por se tratar de um evento internacional, não caberia ao presidente usar a cerimônia para atos relacionados a questões internas no país.
Reestruturada pelo governo, a Câmara Técnica de Destinação, originalmente, é uma instância que fica encarregada de receber consultas sobre a melhor finalidade de terras públicas não destinadas, por meio de diálogo com outras instâncias -como Incra e órgãos ambientais.
A ideia do governo é retomar essa finalidade, esvaziada no governo de Jair Bolsonaro (PL), além de dar ao órgão poder deliberativo sobre a destinação (atualmente, ele faz apenas o encaminhamento).
Além disso, o plano é acrescentar outros ministérios e órgãos em seu corpo técnico e inserir expressamente nas diretrizes que a destinação de terras públicas deve priorizar, por exemplo, economia familiar, terras indígenas, territórios quilombolas, áreas de preservação ambiental e a reforma agrária.
No evento, foi anunciada a destinação de glebas para as terras indígenas Val Paraíso (AM) e Canela do Araguaia (MT), além de mais de 500 títulos de regularização fundiária para agricultores em São Gabriel da Cachoeira (AM).
Também foi recriada a Comissão Nacional de Segurança Química, extinta em 2019 e que é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente.
Desde o início do governo Lula, o desmatamento na Amazônia vem apresentando redução significativa. Nesta terça, foram divulgados novos dados do sistema Deter que mostram uma queda de 66% nos alertas de desmatamento no bioma em agosto, comparando com o mesmo mês do ano anterior, e de 48% na comparação dos oito primeiros meses de 2023, com relação ao mesmo período de 2022.
Nos seis meses finais de 2022, no encerramento do governo Bolsonaro, os alertas na Amazônia cresceram 54,1%, enquanto no primeiro semestre de 2023, na gestão Lula, houve queda de 42,5%.
Para o novo programa de combate ao desmatamento em parcerias com os municípios, serão destinados R$ 150 milhões ainda em 2023, R$ 200 milhões em 2024 e mais R$ 250 milhões em 2025.
O decreto que institui o programa deve ser publicado nos próximos dias e dará preferência aos municípios considerados prioritários, conforme lista atualizada anualmente pelo Ministério do Meio Ambiente por fatores como os dados de desmatamento do Inpe e, a partir de agora, também os indícios de degradação florestal.
Para estar apta a receber os recursos, a prefeitura do município deve comprovar o apoio formal do presidente da Câmara dos Vereadores local, de um deputado estadual, de um federal e de um senador, todos do estado, que devem se comprometer a apresentar emendas orçamentárias destinadas ao combate do desmatamento e às atividades sustentáveis.
A estratégia de Lula com o evento no Planalto foi para enfatizar que, sob seu comando, o Brasil deu uma guinada na política ambiental e no tratamento dado à Amazônia. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, o objetivo é mostrar a sustentabilidade como uma marca petista e fazer um contraponto a Jair Bolsonaro.
Um exemplo é que, em 2020, no Dia da Amazônia, Bolsonaro apenas postou um vídeo em que aparecia ao lado do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL-SP) -criticado por ambientalistas.
No vídeo, Salles destacava um programa pedido por Bolsonaro e que se chamava Adote um Parque. "Para quem quer ajudar de verdade, nas 132 unidades de conservação, ponha a mão no bolso e saia do campo de discurso", disse o então ministro.
No primeiro ano de governo, Bolsonaro se limitou a lançar uma campanha publicitária dizendo que reafirmava de forma soberana as suas ações de proteção. O material foi vetado pela CNN na Europa devido ao teor político, principalmente por causa da menção a soberania.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/09/lula-anuncia-r-600-mi-do-fundo-amazonia-para-municipios-e-seis-unidades-de-conservacao.shtml
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