Comunidade se desenvolve com bioeconomia
Preço pago pela resina beneficiada localmente pelo extrativista quadruplicou
Sérgio Adeodato
05/06/2024
Bola da vez no cardápio da bioeconomia, o breu-branco, árvore amazônica que pode atingir 30 metros de altura e fornece resina aromática para a indústria, incorpora uma novidade, baseada em padrão internacional, que chega para fortalecer a produção extrativista e a busca por mercados. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas, o produto começará a ser coletado para processamento de óleo essencial carimbado pelo selo do Forest Stewardship Council (FSC). A certificação atesta o controle da origem, trabalho digno e práticas de baixo impacto à floresta, com expectativa de valorização do conhecimento tradicional.
Utilizada por povos indígenas na calafetagem de barcos, rituais espirituais e cura de dores de cabeça e inflamações, a resina quadruplicou de valor quando passou a ser beneficiada localmente para extração de óleo essencial, com apoio do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), que desenvolve projetos socioambientais na região. O preço pago ao extrativista aumentou de R$ 1,50 para R$ 6 o quilo, podendo dar novo salto com o diferencial da certificação.
Na usina da RDS do Uatumã, o óleo essencial tem o valor de R$ 1,3 mil o litro. O produto é vendido para a empresa de origem comunitária Inatú, que coloca no mercado bioprodutos amazônicos de cinco associações de diferentes regiões do Amazonas. Entre os compradores do óleo estão a Moma, empresa de cosméticos agroflorestais, e a Urucuna, produtora de velas aromáticas em parceria com povos tradicionais e indígenas.
"O breu-branco, antes pouco aproveitado, aumentou a renda das comunidades, com reflexo na qualidade de vida", diz Wanderley Cruz, membro da associação local e gestor da usina, que também processa copaíba. O plano é replicar o conhecimento para produtos como a manteiga de tucumã, de crescente demanda industrial.
Preço pago pela resina beneficiada localmente pelo extrativista quadruplicou
A certificação na reserva abrange a madeira nativa, explorada pelo manejo sustentável. "É o reconhecimento de que o trabalho está dentro de normas internacionais, com maior organização e valorização da cadeia produtiva", diz Louise Lauschner, especialista em cadeias da sociobiodiversidade no Idesam. Mais valorizado, o breu-branco se destaca entre as espécies plantadas, em março, para expandir sistemas agroflorestais que aumentam renda, segurança alimentar e captura de carbono após a seca histórica de 2023 na região.
Com 424 mil hectares, a RDS do Uatumã se localiza na região de influência da usina hidrelétrica de Balbina, construída na década de 1980 com impactos ambientais. Ao longo da história, a exploração predatória da floresta na área quase levou à extinção do pau-rosa, matéria-prima do famoso perfume francês Chanel No 5. Hoje o lugar é visto como vitrine da bioeconomia, com tendência de avanços a partir do selo socioambiental.
No Brasil, a área de pequenos produtores certificada pelo FSC, incluindo florestas nativas e plantadas, cresceu 42%, em cinco anos - hoje, são 241 mil hectares. O manejo comunitário representa mais de metade desse total. "O aumento é relevante, pois consolida a inclusão dessas pessoas em um modo produtivo economicamente viável e responsável", diz Elson Fernandes de Lima, diretor executivo do FSC Brasil. "É chave aproximar os produtores coletivos e comunitários ao consumidor final", completa.
https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/meio-ambiente/noticia/2024/06/05/comunidade-se-desenvolve-com-bioeconomia.ghtml
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